Suzano: por que o plano de investimentos de R$ 18,5 bi desagradou ao mercado

Conselho da produtora de celulose e papel aprovou valor maior do que o esperado, mas a possível demanda mais fraca e a maior oferta em 2023 preocupam analistas

As ações da empresa chegaram a cair mais de 3% nesta sexta-feira
02 de Dezembro, 2022 | 03:34 PM

Bloomberg Línea — A Suzano (SUZB3), produtora de celulose e papel, surpreendeu o mercado com a decisão do seu conselho de administração de aprovar, na quinta-feira (1º), um plano de investimentos estimado em R$ 18,5 bilhões para 2023, acima das expectativas do mercado e do valor do previsto para este ano (R$ 16,1 bilhões). Analistas reagiram negativamente, alertando para preocupações com o mercado de celulose no ano que vem, sob risco de menor demanda com uma recessão global e previsão de queda nos preços da celulose e do papel. Na B3, as ações da empresa chegaram a cair mais de 3% nesta manhã.

O aumento da estimativa em relação ao montante de 2022 foi explicado pelos maiores recursos para os projetos industriais, florestais, de infraestrutura e de logística, bem como maiores investimentos em manutenção devido aos efeitos da inflação nos investimentos florestais e maior intensidade de projetos e serviços nas plantas industriais (com maior número de paradas programadas para manutenção).

A Suzano está investindo em uma megafábrica em Ribas do Rio Prado, em Mato Grosso do Sul, no chamado Projeto Cerrado, que aumentará sua capacidade de produção anual em 2,5 milhões de toneladas, para 13,6 milhões de toneladas, com previsão de entrar em operação no segundo semestre de 2024.

O anúncio do plano de investimentos para 2023 acima do esperado não provocou ainda mudança em recomendação para as ações da companhia.

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“Mantemos a nossa recomendação de venda para as ações da Suzano, pois continuamos preocupados com as perspectivas para o mercado de celulose até 2023, dada a demanda mais fraca, redução dos gargalos logísticos e novas ofertas chegando ao mercado. Acreditamos que é improvável que as ações tenham um bom desempenho em um ambiente de preços de celulose e papel em declínio em 2023 e 2024 e vemos espaço limitado para uma reavaliação no curto prazo”, escreveram os analistas Thiago Lofiego (Bradesco BBI) e Renato Chanes (Ágora Investimentos), em nota.

Usina em Jacareí

O maior investimento da Suzano em 2023 será a continuidade dos projetos em andamento de expansão e modernização, com destaque para o plano diretor de energia da usina de Jacareí, município paulista.

“Os investimentos em terras e florestas contemplam a segunda parcela referente ao negócio Parkia, bem como investimentos voltados para maior competividade e/ou opcionalidades para o crescimento da Suzano no longo prazo”, observou a dupla de analistas, que esperavam um valor de R$ 16 bilhões para o total de investimentos de 2023 programados pela companhia.

A equipe do Itaú BBA também considerou o guidance (projeção) do Capex (investimento) da Suzano para 2023 como “levemente negativo”. O analista Daniel Sasson tinha projetado um valor de R$ 17,9 bilhões. Em relatório, ele explicou que a diferença em relação aos R$ 18,5 bilhões anunciados tem a ver com sua previsão menor de recursos destinados ao Projeto Cerrado e para manutenção.

Sobre esse movimento de aprovar um Capex acima do esperado para o Projeto Cerrado, o analista diz que não significa uma mudança pela companhia, não é um aumento do guidance total do projeto (R$ 19,3 bilhões).

“A Suzano está acelerando alguns pagamentos para fornecedores para se beneficiar da forte geração de caixa livre e diante de um ambiente provavelmente mais difícil em 2023-2024 para a geração de Ebitda em relação aos resultados elevados recordes esperados para 2022″, explicou o analista do Itaú BBA.

Ele manteve uma recomendação de “outperform” (acima da média do mercado) para o papel, com preço-alvo de R$ 70 para o ano de 2023.

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“Continuamos preferindo Suzano à Klabin (KLBN4). Nossa preferência se baseia nos múltiplos mais baratos da Suzano, ao seu atual valor de mercado refletindo o dólar baixo e o preço da celulose, e a maior exposição da companhia ao mercado de celulose, no qual acreditamos que poderá continuar surpreendendo positivamente os investidores com uma correção mais gradual dos preços ao longo de 2023 mais do que o esperado pelo mercado”, escreveu Sasson.

Dividendos

A Suzano aprovou ainda o pagamento de dividendos intermediários de R$ 2,35 bilhões (ou R$ 1,79 por ação), a serem distribuídos no próximo dia 27 de dezembro para os investidores que detiverem o papel até o dia 16 deste mês.

“O dividendo anunciado implica em um retorno ao redor de 3%. Para 2023, estimamos rendimento de aproximadamente 2,5% com dividendos, pois a empresa continua a priorizar as iniciativas de crescimento e competitividade em detrimento à maior remuneração aos acionistas”, avaliaram Lofiego e Chanes.

Concorrência

As ações da Suzano acumulam desvalorização da ordem de 11% neste ano, com valor de mercado de R$ 72,4 bilhões. Já os papéis da Klabin perderam mais de 19% em 2022, com valor de mercado de R$ 22,6 bilhões.

Maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, a Klabin toca seu maior investimento da história (R$ 12,9 bilhões) no Projeto Puma II, composto de duas novas máquinas de papel, com produção de celulose integrada em Ortigueira, no Paraná, com início previsto para 2023. A unidade vai focar na produção de papel-cartão, com capacidade produtiva de 460 mil toneladas anuais. No ano passado, entrou em operação a primeira máquina do projeto.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.