Por que os dados de emprego nos EUA foram um banho de água fria no mercado

Relatório do mercado de trabalho chega a menos de suas semanas de próxima decisão do Fed, que havia sinalizado desaceleração do ritmo de aumento de juros

Trader na Bolsa de Nova York: principais índices operam em queda próxima a 1% nesta sexta-feira após a divulgação do payroll
Por Isabelle Lee - Vildana Hajric
02 de Dezembro, 2022 | 01:02 PM

Bloomberg — O relatório do mercado de trabalho dos Estados Unidos (o payroll) em novembro, divulgado nesta sexta-feira (2), jogou um banho de água fria no otimismo de que a economia americana já estava fraca o suficiente para justificar uma política monetária mais suave do Federal Reserve, que tenta reduzir a inflação.

As contratações superaram as estimativas e o crescimento salarial se acelerou mais do que o esperado no mês passado, ao contrário do que indicavam as expectativas em Wall Street nas últimas semanas.

Para Dan Suzuki, vice-diretor de investimentos da Richard Bernstein Advisors, os dados enviam um sinal negativo para os mercados. “O número principal foi forte, e há claramente pressões salariais persistentes, mas [dados] internos e os principais componentes vieram bastante fracos. Isso sugere que o Fed não pode afrouxar muito, mas o crescimento continua a se deteriorar”, afirmou.

Victoria Greene, sócia-fundadora e diretora de investimentos da G Squared Private Wealth, disse que o ritmo de criação de empregos “foi um pouco chocante”. Ela se surpreendeu com o relatório, considerando tantas demissões no setor de tecnologia anunciadas e congelamento de contratações. “Isso, claro, significa que o Fed pode permanecer totalmente focado na inflação.”

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Apesar da surpresa, Jay Hatfield, CEO da Infrastructure Capital Advisors, previu que a desaceleração dos preços vai continuar. “Esperamos que a inflação caia rapidamente, apesar do mercado de trabalho forte”, refletindo uma menor pressão dos custos da energia. “Por exemplo, as tarifas aéreas dependem muito dos preços do petróleo.”

Mike Bailey, diretor de pesquisa da FBB Capital Partners, resumiu os dados de emprego da seguinte forma: “Este é exatamente o relatório errado na hora errada. Os investidores começavam a se sentir confortáveis após as observações de Powell na quarta-feira [dia 30] de que tínhamos uma trajetória favorável até o fim do ano”.

Por isso, Bailey acredita que os investidores e o Fed vão prestar mais atenção aos próximos números do CPI [o Índice de Preços ao Consumidor], que saem justo antes da decisão de política monetária. A divulgação será no próximo dia 13, véspera do anúncio da próxima decisão do banco central americano.

“Ter 263 mil vagas abertas mesmo depois de as taxas de juros subirem cerca de 350 pontos-base não é brincadeira”, avaliou Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, alertando que o mercado de trabalho americano está “quente, quente, quente”, o que coloca mais pressão sobre o Fed para continuar a apertar a política monetária.

“O que há nesse relatório de empregos para convencê-los [os integrantes do Fed] a não aceitar taxas de juros acima de 5%?”, questionou Shah.

Dennis DeBusschere, fundador da 22V Research, também avaliou o relatório como forte demais, “e isso é ruim para ativos de risco”. Ele disse não acreditar que o ritmo de criação de empregos mude o cenário econômico, que, segundo ele, está se desacelerando. Mas disse que o risco é que haja mais quedas do S&P 500 e condições financeiras para que esse desaquecimento se concretize.

- Com a colaboração de Emily Graffeo e Peyton Forte.

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