Novo unicórnio da Espanha cresce na América Latina e Brasil é peça-chave

Factorial, que levantou US$ 120 milhões em outubro, quer triplicar faturamento até 2023, e CEO e cofundador explica à Bloomberg Línea por que o país se tornou tão estratégico

Rápida digitalização de empresas na América Latina criou um ambiente propício para os planos de expansão de startups espanholas como a Factorial
02 de Dezembro, 2022 | 09:45 AM

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Barcelona, Espanha — A digitalização de empresas na América Latina criou um ambiente propício para que startups espanholas direcionem seus investimentos para a região. Uma delas é a barcelonesa Factorial, que recentemente levantou US$ 120 milhões para seu software de gestão de recursos humanos e acaba de entrar para o clube de dez unicórnios espanhóis, com valor de mercado de US$ 1 bilhão ou mais. O objetivo agora é triplicar seu faturamento até 2023 - incluindo o de suas filiais no Brasil e no México -, o que elevaria sua receita para 90 milhões de euros.

De uma estrutura diminuta em 2016, com seus três sócios à frente da operação, a Factorial passou a administrar um quadro de 800 funcionários e mais de 8.000 clientes em nove países. Estreou no Brasil e no México e sua última manobra expansionista, agora, foi inaugurar um escritório em Miami.

A América Latina concentra as maiores apostas da empresa, disse à Bloomberg Linea Jordi Romero, CEO e co-fundador da Factorial junto com Bernat Farrero e Pau Ramon. Neste sentido, o Brasil é visto como a mina de ouro: no próximo ano, a filial receberá investimentos de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões.

Em apenas um ano de operação, o país, onde a Factorial conta com 80 funcionários e pretende aumentar sua força de trabalho, tornou-se responsável por 10% de toda a receita da empresa, atrás de França, Espanha e México. “Esse é o valor global. Mas, em termos de geração de novos clientes e novas receitas, o Brasil é agora o primeiro colocado”, contou Romero. Até 2023, espera-se que o Brasil responda por 20% do faturamento do grupo.

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“Brasil, Espanha e França são os países mais difíceis com os quais trabalhamos em termos de recursos humanos, pois têm uma legislação complexa - embora, quanto maior a complexidade, mais próspero tende a ser o mercado”, observou, explicando que a plataforma que desenvolve é a mesma para cada país, mas com adaptações.

O México também é uma peça fundamental nos planos da Factorial de triplicar seu faturamento global, segundo Romero. Nesse país, a empresa conta com mais de 70 funcionários, um número que poderá dobrar no próximo ano.

No momento, a Factorial descarta instalar-se em outros mercados da América Latina, e o México continuará sendo a ponte para outros países de língua espanhola na região. “No momento nos centramos onde estamos, ainda há um longo caminho a percorrer e muito a explorar”, pontuou o executivo, acrescentando que, globalmente, há um universo de 10 milhões de empresas com potencial de serem clientes da Factorial.

Tendências na América Latina

O CEO da Factorial disse que detectou duas tendências que fazem da América Latina um caldeirão de oportunidades. A primeira é que está em curso um vigoroso processo de digitalização na região, tornando-a um mercado muito mais promissor do que a Europa para as empresas de software. “A aceleração da digitalização no Brasil e no México é tão drástica e radical... Por enquanto, a Europa lidera em receitas, mas a tendência é que a América Latina a ultrapasse.”

Outro ponto decisivo é que, em sua avaliação, tanto a legislação quanto a mentalidade dos empregadores desses países evoluíram no sentido de que “os profissionais de RH são também aqueles que encontram o talento, que medem o desempenho e a produtividade”.

Ambiente desafiador

A empresa que desenvolve software de gestão de RH ainda não é lucrativa, mas está crescendo a passos largos. De acordo com Jordi Romero, desde 2019, a receita tem crescido anualmente cerca de 200% ao ano. De 2021 a 2022, seu faturamento aumentou de US$ 8 milhões para quase US$ 30 milhões. Apesar da conjuntura do mercado, com o fluxo de financiamento diminuindo diante do cenário econômico global desafiador, a Factorial conseguiu levantar US$ 80 milhões por meio da Tiger Global em 2021 e, em outubro passado, outros US$ 120 milhões em um negócio liderado pela Atomico.

“A situação do financiamento é dramática, os profissionais de venture capital estão assustados e confusos - isso se notou no nível de detalhamento e rigor na apresentação dos documentos para a rodada de captação. Não foi a captação de recursos mais difícil, mas certamente foi a mais trabalhosa”, disse Romero.

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Os fundadores do desenvolvedor de software de gestão de recursos humanos (a partir da esquerda): Jordi Romero (CEO), Pau Ramon (CTO) e Bernat Farrero (CRO)

América Latina no radar

A Factorial não é a única empresa espanhola a olhar de perto a região. A empresa de mobilidade urbana por meio de aplicativo Cabify, que deixou o Brasil durante a pandemia, anunciou investimentos de mais de US$ 300 milhões na América Latina durante os próximos dois anos. A Cobee, uma startup de benefícios e retribuições a empregados, levantou US$ 41,4 milhões no final de novembro para financiar sua chegada à região - a começar pelo México.

A edtech Odilo anunciou em junho a contratação de dezenas de pessoas no México, após uma rodada de US$ 64 milhões. A Reental, empresa de investimento imobiliário de criptomoedas, nomeou um novo executivo para acelerar a expansão além das fronteiras ibéricas. E a empresa mexicano-espanhola Pulpo, focada em gestão inteligente da frota, arrecadou US$ 8 milhões em outubro.

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Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.