Bloomberg Línea — O Produto Interno Bruto (PIB) registrou expansão de 0,4% no terceiro trimestre, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados nesta quinta-feira (1º). Em relação ao mesmo período do ano anterior, o PIB teve alta de 3,6%. Já no acumulado dos últimos quatro trimestres, o PIB teve crescimento de 3%.
O resultado ficou abaixo do esperado por economistas do mercado financeiro, que projetavam uma expansão de 0,6% no trimestre e de 3,7% na comparação anual, de acordo com levantamento da Bloomberg News. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país durante o período analisado.
Os dados do terceiro trimestre mostram uma desaceleração da economia brasileira em relação ao segundo trimestre, quando o PIB teve alta de 1% e de 3,7% na comparação anual. No ano, o PIB acumula alta de 3,2%. Apesar da desaceleração, a atividade econômica continuou aquecida em um período marcado pela forte retomada do setor de serviços que levou a uma rápida recuperação do mercado de trabalho, com queda na taxa de desemprego.
A expansão da atividade econômica no terceiro trimestre foi influenciada por um crescimento trimestral de 1,1% do setor de serviços, o mais importante da economia com uma participação de cerca de 70% do PIB. A indústria também teve crescimento de 0,8% no terceiro trimestre. Já a agropecuária perdeu impulso e registrou queda de 0,9% em relação ao trimestre anterior.
O resultado da agropecuária foi uma surpresa negativa, uma vez que os economistas esperavam uma expansão no trimestre. Segundo o IBGE, a queda é explicada pela queda na produção de algumas culturas, como cana-de-açúcar, e mandioca. Em relação ao mesmo período do ano passado, a agropecuária teve expansão de 3,2%.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias teve alta de 1% no trimestre, enquanto o consumo do governo subiu 1,3%. Já os investimentos (formação bruta de capital fixo) subiram 2,8% no terceiro trimestre, o que também contribuiu para a expansão do PIB no período. As exportações tiveram alta de 3,6% no trimestre, mas o resultado foi ofuscado por um crescimento maior da importação, de 5,8%.
Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, o consumo das famílias subiu 4,6% e o consumo do governo, 1%. Já os investimentos subiram 5%, também na comparação anual.
A taxa de investimento foi de 19,6% do PIB no terceiro trimestre, uma alta em relação ao resultado do segundo trimestre (18,3% do PIB) e acima da taxa registrada no terceiro trimestre do ano passado (19,4%).
Para Lucas Maynard, economista do Santander, o resultado do PIB no terceiro trimestre sugere que os efeitos de uma política monetária mais restritiva começaram a aparecer, contribuindo para uma desaceleração da atividade. “Vimos contribuição relevante para o crescimento do 3T vindo de segmentos não cíclicos como aluguéis, serviços públicos e serviços de informação (fortemente beneficiados pelos cortes de impostos no período), enquanto atividades cíclicas como manufatura (+0,1%) e varejo (-0,1% ) já haviam mostrado os primeiros impactos de uma postura monetária contracionista. Os indicadores coincidentes disponíveis para o 4T já apontam para uma contínua perda de fôlego das atividades cíclicas”, afirmou em comentário divulgado a clientes.
Quinto crescimento trimestral consecutivo
Com o resultado do terceiro trimestre, o PIB brasileiro registra o quinto período de crescimento consecutivo, depois de uma expansão de 0,4% no terceiro trimestre de 2021, segundo por uma alta de 0,9% (4T/2021), 1,3% (1T/2022) e 1% (2T/2022) – uma expansão que superou as perspectivas dos economistas.
O crescimento foi influenciado pela retomada das atividades que antes estavam reprimidas durante a pandemia de covid-19, especialmente no setor de serviços, e também pelo aumento das exportações.
No entanto, a maior parte dos especialistas avalia que a atividade econômica deve perder impulso daqui para frente por causa do aperto das condições financeiras, com a economia sentindo os efeitos das taxas de juros elevadas e também de uma desaceleração da economia mundial.
O economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, disse que espera que alguns segmentos do setor de serviços que foram afetados pela pandemia devem se recuperar ainda mais nos próximos meses, impulsionados por estímulos fiscais, como cortes de impostos e programas de transferência de renda para a baixa renda, e por um mercado de trabalho sólido e por uma inflação em queda.
“No entanto, os retornos marginais decrescentes da dinâmica de reabertura econômica, condições monetárias e financeiras domésticas apertadas, altos níveis de endividamento das famílias e a incipiente reviravolta no ciclo de crédito devem gerar ventos contrários à atividade de serviços no final de 2022 e no primeiro semestre de 2023″, afirmou ele em relatório a clientes.
A visão é semelhante à da equipe de pesquisa do Santander. “Apesar do forte PIB no 3T22, os efeitos de uma política monetária mais restritiva começaram a aparecer ao longo do trimestre, atingindo principalmente os setores relacionados a bens (indústria e varejo): os indicadores coincidentes disponíveis para o 4T já apontam para uma desaceleração das atividades mais cíclicas”, afirmaram economistas do Santander, liderados por Ana Paula Vescovi, em relatório divulgado antes da publicação dos dados pelo IBGE.
Por causa das condições mais apertadas, o banco espera um crescimento de 0% no último trimestre do ano, e de 2,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
-- Correção 9h45: Os investimentos subiram 2,8% no terceiro trimestre e não 5%, como informado numa versão anterior. A expansão de 5% foi em relação ao mesmo período do ano passado.
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