Bloomberg Línea — Ao apresentar para analistas de mercado os principais pontos do plano estratégico para o período de cinco anos entre 2023 e 2027, a atual administração da Petrobras (PETR3, PETR4) admitiu, nesta quinta-feira (1), que o acionista controlador, a União, deverá revisá-lo no ano que vem, com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do novo gabinete ministerial.
As ações, tanto as preferenciais como as ordinárias, recuavam acima de 3% por volta das 17h desta quinta.
A petrolífera elevou a previsão de investimento total para US$ 78 bilhões em cinco anos, ante US$ 68 bilhões no plano anterior. O investimento aumentou em todas as divisões, mas principalmente no segmento de E&P (Exploração e Produção), que respondeu por US$ 7 bilhões dos US$ 10 bilhões.
A adição de US$ 7 bilhões é dividida em US$ 3 bilhões relacionados às licitações dos campos de Sépia 2 e Atapu, concluídas no início de 2022, com desembolsos programados para 2023; US$ 2 bilhões em projetos complementares; e US$ 2 bilhões relacionados à revisão de premissas e ajustes de projetos.
Durante a teleconferência com os analistas, o diretor de governança da Petrobras, Salvador Dahan, reconheceu ser possível que o plano seja submetido à revisão com a substituição do comando da companhia. “O controlador [a União] pode e deve ter essa autoridade”, respondeu o executivo a uma pergunta de um analista sobre as implicações práticas de uma revisão do plano.
Diante desse risco, analistas expressaram a falta de impacto do plano anunciado no desempenho das ações da estatal.
“Durante o período de transição, acreditamos que o mercado dará pouca atenção a esse plano. O próximo plano pode ser muito mais revolucionário, com adições significativas de investimentos para refinarias, eólica e também novas premissas em termos de paridade de preços e política de dividendos”, apontaram os analistas Vicente Falanga (Bradesco BBI) e Ricardo França (Ágora Investimentos), em relatório.
A mesma avaliação foi feita pelos analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins, do Goldman Sachs, também em relatório. “Vale destacar que o novo presidente eleito e sua equipe de gestão têm falado que vão revisitar o plano estratégico da Petrobras assim que assumirem o cargo.”
“Dessa forma, não esperamos que o mercado tome como garantido o cenário acima mencionado, especialmente no que diz respeito ao pagamento de dividendos, que pode ser significativamente reduzido pelo novo governo, conforme discutido em nosso relatório de rebaixamento”, completaram.
Dividendos
No começo do mês passado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a política de distribuição de dividendos após o anúncio feito pela petrolífera de pagar R$ 43,7 bilhões aos acionistas, em parcelas neste mês e em janeiro de 2023. Durante a campanha eleitoral, Lula falou em taxar lucros e dividendos de grandes companhias e indicou uma mudança nas regras de reajustes dos combustíveis.
No plano anunciado ontem (30) pela Petrobras, a distribuição de dividendos estimada agora soma cerca de US$ 68 bilhões a US$ 80 bilhões (dos quais US$ 20 a US$ 30 bilhões para a União), ou US$ 13,6 bilhões a US$ 16 bilhões por ano (contra US$ 13 bilhões no plano anterior, assumindo um pagamento de 60% do fluxo de caixa operacional reduzido dos investimentos).
Isso se traduz em um rendimento anual de aproximadamente 19% a 22%. Isso também pressupõe um nível de caixa ideal de US$ 8 bilhões (com um nível mínimo de US$ 5 bilhões).
Com a expectativa de mudança na política de dividendos da petroleira, analistas começaram a rebaixar a recomendação para as ações da estatal. O UBS BB foi uma dessas instituições que passaram a recomendar a venda, citando que espera, por exemplo, redução no pagamento de proventos.
Barreiras a mudanças
O diretor de governança da Petrobras, por outro lado, tentou minimizar os riscos de alterações no plano estratégico, citando normas que devem ser seguidas por todas as gestões. “O plano foi construído de baixo para cima, recebendo diversos inputs. Foi um processo de construção, considerando as premissas de governança, as estruturas regulatórias e os marcos legais”, afirmou Dahan.
O governo eleito ainda não divulgou o nome de sua indicação para CEO da Petrobras.
Caio Prates de Andrade, que atualmente ocupa esse cargo, deverá ficar na função até pelo menos março do ano que vem, já que, pelas regras de governança, será necessário cumprir um prazo de 60 dias para convocar uma assembleia geral extraordinária para eleger a nova diretoria da petroleira.
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