Bloomberg Línea — A Loft, uma das startups mais valiosas da América Latina, teria recebido um novo aporte do fundo de venture capital americano Andreessen Horowitz que reduziu sua avaliação de mercado - valuation - para US$ 1 bilhão, valor 65% menor que os US$ 2,9 bilhões de sua captação anterior, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Bloomberg Línea.
A Loft, startup que opera plataformas digitais de compra e venda de imóveis e de serviços financeiros para transações imobiliárias, nega o down round - jargão do mercado para rodadas de investimento que precificam a empresa em um valor menor do que o anterior.
Procurada pela Bloomberg Línea, a Loft disse em nota que “não há nada de novo em relação a novas rodadas de investimentos”. “Qualquer informação veiculada em sentido contrário não condiz com a realidade dos fatos. É pura especulação”, afirmou a empresa.
A Loft disse que não realizou qualquer captação por meio de equity (participação no capital) desde meados do ano passado, quando atingiu uma avaliação de US$ 2,9 bilhões após uma rodada de Série D.
No Brasil e no exterior, startups de diferentes setores têm aceitado avaliações inferiores em um contexto de necessidade de recursos e dificuldades para obter capital. Um dos casos mais notórios teria sido o da fintech de pagamentos sueca Klarna, cuja avaliação teria caído 85%, de US$ 45,6 bilhões para US$ 6,5 bilhões no meio do ano em aporte liderado pela Sequoia Capital, segundo noticiado.
Já a startup brasileira, que tem outras alternativas de financiamento no mercado de capitais, como fundos imobiliários e certificados de recebíveis imobiliários para tomar crédito para seus projetos, recebeu até hoje US$ 800 milhões em rodadas de investimentos privadas.
Entre os 47 investidores da startup estão os fundos Andreessen Horowitz, D1 Capital Partners, Advent International, DST, Monashees, QED Investors e Vulcan Capital.
A Loft usou parte dos recursos de suas captações anteriores para adquirir empresas do mercado imobiliário. Em 2021, a Loft comprou a CredPago, de locações sem fiança. Também no ano passado, a Loft comprou a CrediHome, uma startup de originação de empréstimos imobiliários. A empresa também comprou a Foxter, a TrueHome no México, a 123i, um portal de condomínios, e a Vista.
Empresas de crédito ao consumidor, em particular, enfrentam um cenário desafiador diante da elevação das taxas de juros, que aumentam o custo dos empréstimos e podem pressionar a inadimplência.
Pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram para não serem identificadas porque os assuntos são privados, disseram que a Loft estava sem caixa e por isso aceitou o down round.
Há três meses, em agosto, a Loft transferiu a Nomah, sua startup de estadias de curto prazo (uma alternativa aos hotéis e aos aluguéis tradicionais), para a mexicana Casai e investiu na nova empresa formada pela fusão. Segundo uma pessoa que preferiu não ser identificada, a transferência da Nomah para a Casai teria sido uma condição dos investidores para que a Loft recebesse a nova captação.
A Andreessen Horowitz juntou duas empresas de seu portfólio (Casai e Loft) e investiu na nova empresa que surgiu da fusão.
Assim como outras startups no mercado brasileiro e do exterior, a Loft realizou demissões diante do novo cenário adverso e cortou 543 pessoas da equipe desde abril. Na ocasião dos 159 primeiros cortes, a empresa disse para a Bloomberg Línea que havia redundâncias devido às aquisições.
Na última quinta-feira (22), a Loft anunciou que passará operar a compra e a venda de casas em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Antes, a empresa só negociava apartamentos no marketplace.
Recentemente, a empresa também anunciou sua nova marca no México, “Loft México”, ao renomear a startup mexicana de negociação digital de imóveis, a TrueHome, que foi adquirida em outubro de 2021. O negócio deu o pontapé inicial à expansão da empresa brasileira na América Latina.
Os fundadores da Loft, Mate Pencz e Florian Hagenbuch, se conheceram quando trabalhavam no Goldman Sachs. Fundaram uma startup na área de indústria gráfica no Brasil, a Printi, que foi adquirida por uma gigante americana, a Vistaprint. Fundaram também um fundo dedicado a investimento seed, o Canary. Até que, em 2018, decidiram apostar na digitalização do mercado imobiliário com a Loft.
Hagenbuch deixou recentemente funções executivas para assumir como presidente à frente das áreas de cultura e integração. O dia a dia da gestão está a cargo de Pencz e do novo COO, Marcel Regis, um veterano de 25 anos de Ambev (ABEV3) e AB Inbev (BUD) que se juntou à Loft em junho.
Em abril deste ano, Pencz disse à Bloomberg Línea que, com as altas taxas de juros, a empresa observou uma desaceleração no mercado de crédito imobiliário desde o final de 2021.
No mesmo mês, o cofundador Kristian Huber disse também à Bloomberg Línea que, embora a empresa tenha governança e compliance alinhados para realizar um IPO (oferta inicial de ações), a Loft ainda poderia captar recursos com investidores privados e que não havia pressa para abrir o capital.
As empresas de tecnologia passam por dificuldades neste ano enquanto o mercado se afasta de ativos de risco com a alta do juro. Startups como Kavak, Clara e Clip tomaram dívidas por meio de linhas de crédito fornecidas por grandes bancos americanos, como alternativa para levantar capital sem reduzir o valuation. A contrapartida em geral é o custo dos empréstimos ou as garantias que precisam ser dadas.
Segundo a Lavca (Associação para Investimento em Capital Privado na América Latina), os investimentos em dívida de risco - venture debt - responderam por 13% do capital investido no primeiro semestre de 2022 nas startups da região.
No Brasil, um dos principais concorrentes da Loft é o QuintoAndar, que recebeu avaliação de US$ 5,1 bilhões em sua última rodada de investimentos em 2021. Além das duas startups brasileiras, as colombianas La Haus e Habi (mais novo unicórnio) e a chilena Houm são outras startups bancadas por venture capital que disputam terreno para digitalizar as transações imobiliárias na América Latina.
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