BlackRock: risco fiscal preocupa estrangeiro, mas não é exclusivo do Brasil

Para maior gestora do mundo, país tem condições de aumentar a atração de investimento externo para ativos em sustentabilidade com narrativa mais clara na área

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Bloomberg Línea — Para a BlackRock (BLK), 2023 deve ser um ano positivo para a entrada de estrangeiros no mercado brasileiro, com o aumento do investimento no Ibovespa e em outras classes de ativos. Segundo a maior gestora do mundo, ativos com exposição a políticas ESG devem ser o foco.

“O Brasil tem um potencial grande de ser um protagonista na agenda ESG e de ser um maior destino para o investimento estrangeiro. Com uma narrativa global mais clara, é possível ter um investimento maior em sustentabilidade”, afirmou a country manager da BlackRock Brasil, Karina Saade, nesta quarta-feira (30).

Na avaliação da gestora global, a perspectiva de aumento do investimento estrangeiro em ativos ligados a temas ESG (ambientais, sociais e de governança) tende a se manter mesmo diante das incertezas fiscais no governo do presidente eleito Lula (PT). Axel Christensen, estrategista-chefe de Investimento na América Latina da BlackRock, disse que “o Brasil não está sozinho” na comparação com outras economias.

“Os investidores estão cautelosos porque a questão fiscal impacta os investimentos. É um risco, mas não é um risco que os investidores enxergam somente no Brasil. O país deve ser um dos vencedores quando falamos sobre certas indústrias, como a de sustentabilidade”, disse Christensen. “Estamos vendo isso acontecer nas economias emergentes, como Chile e Colômbia, que aumentaram os gastos sociais, mas também vemos isso acontecer em economias mais desenvolvidas, como o Reino Unido.”

“Os investidores estão olhando com muito cuidado para quais empresas no setor devem se beneficiar no curto e médio prazo. Acredito que existem oportunidades daqui para a frente”, disse.

Saade disse que a expectativa da BlackRock para 2023 é que a incerteza que marcou este ano diminua. Para a executiva, o cenário global deve melhorar, ainda que as taxas de juros no mundo e no Brasil devam continuar altas. A situação deve melhorar somente a médio e longo prazo.

“Precisamos de menos incerteza no mercado global e uma taxa de juros menor. Com a taxa de juros tão alta, o investidor fica com um apetite menor a risco”, afirmou. Ainda segundo Saade, os investimentos só irão crescer quando a Selic cair. “O timing disso é incerto. Enquanto a Selic estiver alta, a propensão de assumir risco é baixa. Para os clientes voltarem a tomar mais risco, a taxa de juros precisa ir para menos de 10%.”

A BlackRock atualmente gerencia cerca de US$ 8 trilhões de ativos, dos quais US$ 5,5 trilhões em ETFs, US$ 2 trilhões em gestão ativas, US$ 740 bilhões em estratégias liquidas e US$ 320 bilhões em outras estratégias. Dos 101 BDRs de ETFs gerenciados pela BlackRock, 81 estão disponíveis para o investidor de varejo — e R$ 2,7 bilhões em BDRs estão sob gestão da companhia atualmente.

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