Por que a estagflação é o maior risco para a economia global em 2023

Metade dos 388 entrevistados na pesquisa MLIV Pulse, da Bloomberg, acredita que o crescimento vai desacelerar e a inflação continuará elevada

Preço das ações tende a continuar pressionados com o enfraquecimento da atividade
Por Farah Elbahrawy - Heather Perlberg
29 de Novembro, 2022 | 08:12 AM

Bloomberg — A estagflação será o principal risco para a economia global em 2023, de acordo com investidores que disseram que as esperanças de uma recuperação nos mercados são prematuras depois do movimento de venda de ações deste ano.

Quase metade dos 388 entrevistados da última pesquisa MLIV Pulse, da Bloomberg, disse que um cenário em que o crescimento continua a desacelerar enquanto a inflação permanece elevada será dominante no próximo ano. O segundo resultado mais provável é a recessão deflacionária, enquanto uma recuperação econômica com alta inflação é vista como menos provável.

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Os resultados sinalizam outro ano desafiador para os ativos de risco, depois que o aperto dos bancos centrais, o aumento da inflação e o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia alimentaram a pior queda das ações desde a crise financeira global de 2008.

Diante desse cenário sombrio e com as ações subindo no quarto trimestre, mais de 60% dos participantes da pesquisa disseram que investidores em todo o mundo ainda parecem muito otimistas com os preços dos ativos.

“O próximo ano ainda será difícil”, disse Nicole Kornitzer, gerente de portfólio do Buffalo International Fund da Kornitzer Capital Management, com sede em Paris, que tem sob gestão cerca de US$ 6 bilhões. “Definitivamente, a estagflação é a perspectiva por enquanto.”

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Qual é o cenário mais propvável a nível global em 2023?

Enquanto isso, cerca de 60% dos participantes esperam que o dólar enfraqueça ainda mais. Isso contrasta com o mês passado, quando quase metade dos entrevistados disse que aguardaria a reunião do Federal Reserve de novembro com uma posição comprada no dólar.

A força do dólar pesou sobre várias classes de ativos este ano, incluindo outras moedas como o euro e ações de mercados emergentes. Um dólar em queda pode criar bolsões de oportunidades em um 2023 sem brilho.

“O dólar provavelmente enfraquecerá ao longo de 2023″, disse Kornitzer. “Talvez não dramaticamente, mas a tendência provavelmente será de queda.” Uma recessão nos EUA e a direção das taxas serão os principais catalisadores da moeda, disse ela.

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Mais participantes da pesquisa enxergam o dólar ainda mais fraco agora

Todos os olhos estão voltados para o Fed em 2023, com o crescimento provavelmente prejudicado ainda mais, pois as taxas permanecem mais altas por mais tempo - algo que já foi prenunciado pelo presidente Jerome Powell.

Ao mesmo tempo, a rígida política Covid Zero da China é outro risco para a economia global, já que os casos atingiram níveis recordes em meio a protestos crescentes contra as restrições de covid do país.

Mais da metade dos entrevistados espera que o S&P 500 termine 2023 em uma faixa maior ou menor do que 10%. Isso está de acordo com as expectativas de Wall Street, com estrategistas do Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of America entre aqueles que veem o S&P 500 relativamente inalterado daqui a 12 meses.

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Todos eles esperam que a deterioração dos lucros afete o desempenho das ações.

“Os analistas precisarão ajustar para baixo suas estimativas de ganhos”, disse Anneka Treon, diretora-gerente da Van Lanschot Kempen, com sede em Amsterdã, cuja empresa tem uma visão conservadora sobre as ações em 2023. “Esperamos que a Europa veja uma contração econômica, os EUA provavelmente só será capaz de mostrar um crescimento modesto, e a China não alcançará mais suas próprias ambições”.

Como o S&P 500 deve terminar o ano?

No entanto, apesar de todo o pessimismo, os entrevistados disseram que é mais provável que a inflação nos EUA recue abaixo de 3% em 2023 do que ultrapasse 10%, o que implica algum alívio no final do ano.

Isso seria uma notícia bem-vinda para as autoridades do Fed, que já sinalizaram que estão inclinadas a reduzir para um aumento de 50 pontos-base em dezembro para mitigar os riscos de um aperto excessivo.

Em termos de oportunidades, os participantes da pesquisa veem uma chance de abocanhar títulos de longa duração e ações de tecnologia, entre outros temas. Ambas as classes de ativos foram prejudicadas este ano devido ao forte aumento das taxas de juros.

Entre outros riscos potenciais em 2023 estão os desenvolvimentos do mercado imobiliário no Reino Unido e no Canadá, com os entrevistados vendo uma probabilidade maior de uma queda de 20% nesses países do que em outros. O salto nos custos dos empréstimos está forçando alguns potenciais compradores a sair do mercado e estimulando as previsões de uma queda nos preços das casas.

A maioria dos entrevistados descartou a possibilidade de escalada de conflitos geopolíticos no próximo ano – por exemplo, China e Taiwan, assim como a OTAN e a Rússia.

“O primeiro semestre de 2023 será dominado pela narrativa das taxas mais altas”, disse Ipek Ozkardeskaya, analista sênior da Swissquote. “No entanto, por volta do terceiro e quarto trimestres do próximo ano, esperamos que a retórica do mercado mude para ‘baixo crescimento e recessão’.”

--Com a ajuda deTomoko Yamazaki.

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