Mulheres jovens lideram protestos na China contra a política de Covid Zero

Nas universidades, as estudantes mulheres não estavam apenas participando dos protestos, como também dando início e liderando outras manifestações

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Bloomberg — Mulheres jovens surgiram como uma voz proeminente nos protesto contra a política rígida de Covid Zero que desencadeou confinamentos repentinos e há meses piora a vida de milhões de pessoas em toda a China.

Nas ruas de Pequim e Xangai, mulheres desafiaram a forte presença da polícia em diferentes regiões, juntando-se a outros manifestantes que expressavam sua raiva e frustração contra as autoridades locais e o Partido Comunista. Várias mulheres também fizeram discursos inflamados, apesar de possíveis consequências.

A participação mais ampla de mulheres na última onda de protestos em larga escala ressalta as mudanças em uma sociedade asiática conservadora. Mesmo que tenham aumentado sua participação na força de trabalho da segunda maior economia do mundo e tenham certa autonomia para seguir suas escolhas pessoais, elas lutam contra a discriminação no local de trabalho, assédio sexual e violência de gênero.

As mulheres têm um motivo a mais para se irritar com as restrições contra a covid, pois acabam cuidando da maior parte das tarefas domésticas e dos filhos, disse uma mulher de 40 anos depois de participar de um protesto em Xangai. Algumas mulheres também enfrentaram violência doméstica, acrescentou ela.

“Elas têm menos a perder com os protestos, e possivelmente mais a ganhar” na sociedade patriarcal da China, disse Maria Repnikova, professora assistente de comunicação global na Georgia State University. “Os regimes autocráticos tendem a construir sua legitimidade em torno de valores familiares conservadores que não favorecem as mulheres e sua participação na política”, acrescentou.

As manifestações foram desencadeadas por relatos nas redes sociais sobre como pelo menos 10 pessoas morreram em um incêndio de um prédio residencial em Urumqi, capital da região de Xinjiang, no oeste do país. Os líderes do Partido Comunista não enfrentavam protestos tão intensos desde o Massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989.

Li, uma mulher que pediu para omitir seu nome completo por razões de segurança, se juntou a uma dessas manifestações em Xangai e disse que eles lembravam os protestos em Hong Kong há mais de dois anos e no Irã, mais recentemente.

“Eu só queria estar lá”, disse a publicitária de 29 anos. “Não importa se estou apenas parada lá. As mulheres chinesas são geralmente mais voltadas para a ação e mais francas do que os homens.”

Na noite de domingo (27), na margem do rio Liangmahe, em Pequim, uma mulher fazia um discurso questionando por que não houve cobertura da mídia sobre o incêndio em Xinjiang.

Nas universidades, as estudantes não estavam apenas participando de protestos, mas dando início a outros. Alguns vídeos mostraram algumas delas simplesmente segurando um pedaço de papel em branco e paradas em silêncio, sem se intimidarem por professores ou pela equipe de segurança majoritariamente masculina.

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