Lula só poderá trocar comando da Petrobras em março, dizem analistas

Próximo governo terá que convocar Assembleia Geral Extraordinária e eleger uma nova diretoria, o que deve levar pelo menos 60 dias, segundo especialistas

Sede da Petrobras no Rio de Janeiro: presidente eleito Lula pretende mudar estratégia da companhia
28 de Novembro, 2022 | 03:19 PM

Bloomberg Línea — Para substituir o comando da Petrobras (PETR4, PETR3), o governo Lula terá de cumprir regras de governança da estatal, como a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária para eleger uma nova diretoria, o que deve levar pelo menos 60 dias. Com isso, o atual CEO da estatal de capital misto, Caio Prates de Andrade, e sua equipe de diretores deverão ficar no cargo até pelo menos março.

A avaliação foi feita em relatório dos analistas Vicente Falanga (Bradesco BBI) e Ricardo França (Ágora Investimentos), enviado aos clientes. Eles citaram que Andrade pretende terminar seu mandato em abril e que teria ainda a intenção de prosseguir com as vendas de ativos fora da exploração offshore de petróleo e gás, mesmo que a equipe de transição de Lula tenha pedido para suspender tais negócios.

PUBLICIDADE

“É provável que Caio Andrade e a atual diretoria permaneçam na empresa até pelo menos março. Nesse período, eles poderão assinar vendas de ativos sem interferência direta do governo, enquanto não descartamos o uso de liminares judiciais para bloquear tais aprovações, semelhantes à liminar apresentada para suspender o pagamento de dividendos do terceiro trimestre”, apontaram os analistas.

As incertezas sobre os rumos da petroleiro têm levado a revisões de recomendação dos analistas para suas ações. Na semana passada, o UBS BB rebaixou de compra para venda sua recomendação para a Petrobras, com forte corte no preço-alvo de R$ 47 para R$ 22.

No mercado doméstico, a corretora Órama Investimentos também adotou recomendação de venda com preço-alvo de R$ 22, em um relatório intitulado “Petrobras: Altos riscos já não compensam o preço descontado”.

PUBLICIDADE

Para justificar suas recomendação de saída do papel, o analista Phil Soares escreveu que a sinalização do novo governo é de uso da Petrobras como instrumento de políticas públicas e de possibilidade de uma perspectiva de deterioração dos números da companhia.

“Para que as ações da Petrobras de fato representem um investimento atrativo, teríamos que ter alguma confiança de que a Petrobras de amanhã seguirá sendo a mesma empresa de hoje. É neste ponto que tendemos a discordar”, observou o analista da Órama.

Ele projeta uma política de investimentos menos criteriosa e menos focada em retorno aos investidores, alteração na política de preços, abandonando a paridade internacional, aumento nas despesas gerais (SG&A) e maior participação do governo nos acordos de compartilhamento de produção.

PUBLICIDADE

Soares fez, no entanto, uma ressalva de que, por ser uma companhia produtora de petróleo, o valor de mercado da Petrobras é intimamente ligado ao preço dessa commodity.

“Uma alta no mercado internacional pode puxar o preço do papel para cima, bem como uma queda pode puxar para baixo. A perspectiva de mudança na política de preços pode enfraquecer esta componente, podendo não permitir mais que a companhia se beneficie da alta de preços vendendo mais caro a sua produção”, disse o analista da Órama.

Leia mais

Manifestações na China e surtos de covid derrubam preços de commodities

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.