Bloomberg Línea — Para substituir o comando da Petrobras (PETR4, PETR3), o governo Lula terá de cumprir regras de governança da estatal, como a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária para eleger uma nova diretoria, o que deve levar pelo menos 60 dias. Com isso, o atual CEO da estatal de capital misto, Caio Prates de Andrade, e sua equipe de diretores deverão ficar no cargo até pelo menos março.
A avaliação foi feita em relatório dos analistas Vicente Falanga (Bradesco BBI) e Ricardo França (Ágora Investimentos), enviado aos clientes. Eles citaram que Andrade pretende terminar seu mandato em abril e que teria ainda a intenção de prosseguir com as vendas de ativos fora da exploração offshore de petróleo e gás, mesmo que a equipe de transição de Lula tenha pedido para suspender tais negócios.
“É provável que Caio Andrade e a atual diretoria permaneçam na empresa até pelo menos março. Nesse período, eles poderão assinar vendas de ativos sem interferência direta do governo, enquanto não descartamos o uso de liminares judiciais para bloquear tais aprovações, semelhantes à liminar apresentada para suspender o pagamento de dividendos do terceiro trimestre”, apontaram os analistas.
As incertezas sobre os rumos da petroleiro têm levado a revisões de recomendação dos analistas para suas ações. Na semana passada, o UBS BB rebaixou de compra para venda sua recomendação para a Petrobras, com forte corte no preço-alvo de R$ 47 para R$ 22.
No mercado doméstico, a corretora Órama Investimentos também adotou recomendação de venda com preço-alvo de R$ 22, em um relatório intitulado “Petrobras: Altos riscos já não compensam o preço descontado”.
Para justificar suas recomendação de saída do papel, o analista Phil Soares escreveu que a sinalização do novo governo é de uso da Petrobras como instrumento de políticas públicas e de possibilidade de uma perspectiva de deterioração dos números da companhia.
“Para que as ações da Petrobras de fato representem um investimento atrativo, teríamos que ter alguma confiança de que a Petrobras de amanhã seguirá sendo a mesma empresa de hoje. É neste ponto que tendemos a discordar”, observou o analista da Órama.
Ele projeta uma política de investimentos menos criteriosa e menos focada em retorno aos investidores, alteração na política de preços, abandonando a paridade internacional, aumento nas despesas gerais (SG&A) e maior participação do governo nos acordos de compartilhamento de produção.
Soares fez, no entanto, uma ressalva de que, por ser uma companhia produtora de petróleo, o valor de mercado da Petrobras é intimamente ligado ao preço dessa commodity.
“Uma alta no mercado internacional pode puxar o preço do papel para cima, bem como uma queda pode puxar para baixo. A perspectiva de mudança na política de preços pode enfraquecer esta componente, podendo não permitir mais que a companhia se beneficie da alta de preços vendendo mais caro a sua produção”, disse o analista da Órama.
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