Como a política de Covid Zero reduz a atividade na China? Veja em 6 gráficos

Segunda maior economia do mundo sente o peso de restrições à medida que as cidades intensificam os controles para frear os contágios com o aumento do número de casos

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Bloomberg — A nova onda de propagação de covid na China e a intensificação dos controles em cidades e províncias do país estão prejudicando a recuperação da economia e estimulando uma ação mais forte do banco central para impulsionar o crescimento. A China atravessa o maior e mais estendido surto da pandemia, com quase 450 mil novos casos neste mês em todas as províncias.

Grandes cidades como Guangzhou, Pequim e Zhengzhou impuseram novas restrições para conter o contágio, restringindo a mobilidade e a atividade comercial dos residentes e provocando uma rara onda de manifestações nas grandes cidades.

Veja a seguir 6 gráficos que explicam como o quadro atual e as restrições afetam a atividade econômica na segunda maior economia do mundo, com efeitos potenciais sobre o resto do mundo, incluindo o Brasil:

1. Explosão do número de casos

2. Atividade desacelera

O efeito dessas restrições já é visível no índice agregado da Bloomberg de oito indicadores iniciais para este mês de novembro. O indicador geral ficou em 3, indicando uma contração em relação ao ritmo já lento de outubro, o que também representa o nível mais baixo desde abril e maio, quando a economia quase parou após Xangai e outras cidades vizinhas entrarem em crise com lockdowns.

No final da semana passada, o banco central intensificou seu estímulo à economia, reduzindo em 25 pontos base o coeficiente de reservas compulsórias dos bancos. Isso injetaria 500 bilhões de yuan (cerca de US$ 70 bilhões) de liquidez na economia, permitindo que os bancos emprestassem mais a empresas afetadas pelas interrupções da covid. Recentemente, também foram tomadas mais medidas para fortalecer o mercado imobiliário.

A partir de 21 de novembro, cidades cujas atividades representam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) da China estavam sob alguma forma de bloqueio, de acordo com estimativas da Nomura Holdings. Cerca de 412 milhões de pessoas foram afetadas por restrições na semana passada, acima dos 340 milhões da semana anterior.

Pequenas empresas já estão sentindo os danos. As indústrias de serviços tiveram o pior nível desde maio, conforme a Standard Chartered. Empresas com foco no mercado doméstico tiveram resultados piores do que as orientadas para a exportação, e as expectativas também caíram.

“Tanto a produção industrial quanto a não industrial continuaram encolhendo em novembro”, de acordo com um relatório de Wei Li e Ding Shuang, economistas da Standard Chartered que compilaram o levantamento de mais de 500 pequenas e médias empresas.

O setor de hospedagens e restauração foi o que mais caiu em novembro, seguido por declínios no comércio atacadista e varejista, juntamente com a venda de imóveis, escreveram os economistas.

As vendas residenciais nas quatro principais cidades caíram mais de 30% nas primeiras três semanas do mês, enquanto o valor das vendas nas 50 principais cidades continuou a cair. As vendas de automóveis, que vinham contando pontos positivos para a economia chinesa devido aos subsídios do governo, também estão lutando para sustentar o ritmo neste mês.

3. Queda no transporte aéreo...

As restrições de tráfego estão limitando as viagens aéreas pelo país e também impedindo as pessoas de se deslocarem dentro das cidades, com o uso do metrô caindo em cidades como Pequim, Chongqing e Guangzhou.

4. E também no uso do metrô

Apenas 11.000 viagens foram feitas no metrô de Chongqing na última quinta-feira (24), bem abaixo da média diária deste ano de 2,7 milhões de viagens. O congestionamento nas principais cidades da China também diminuiu na semana passada, pois restaurantes, empresas e alguns locais de trabalho fecharam as portas e as pessoas ficaram em casa.

5. Cai a produção industrial

A propagação do vírus também está afetando a produção industrial, com manifestações em uma fábrica de iPhone em Zhengzhou.

O aumento dos casos também está afetando a produção de carvão, com casos espalhados para algumas minas na província de Shaanxi, de acordo com o veículo especializado Coal Vision. Também há notícias de bloqueios em Ordos, na Mongólia.

Além disso, a produção de aço está caindo neste mês e os estoques estão aumentando, segundo uma associação do setor, com mais de 50% de aumento desde o início do ano. A produção diária das principais siderúrgicas está bem abaixo do recente pico alcançado em meados de setembro.

As fábricas em Tangshan, principal pólo siderúrgico da China, cortaram a produção em 30% por 10 dias a partir de 15 de novembro, informou a empresa de pesquisa Mysteel, enquanto as usinas na província de Jiangsu também consideraram impor cortes.

Além da desaceleração da economia interna, a demanda externa começou a diminuir. Tanto as exportações quanto as importações caíram inesperadamente no mês passado, e o Indicador de Comércio Avançado Coreano sugere que isso pode ter continuado este mês.

As importações sul-coreanas da China nos primeiros 20 dias do mês caíram 12,1% em relação a um ano atrás, enquanto as exportações do país para a China retrocederam quase 30%.

6. Melhoria dos mercados em xeque

Um destaque positivo na China das últimas semanas vinha sendo o mercado de ações. O índice de referência subiu quase 8% no acumulado deste mês, em grande parte desde que o governo anunciou a flexibilização de algumas restrições da Covid e um maior apoio para algumas incorporadoras e para o mercado imobiliário. Mas isso agora parece ter ficado para trás.

- Com colaboração de Kathy Chen.

- Tradução de Michelly Teixeira.

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