Como a CEO da Illycaffe, exceção no mundo corporativo, quer inspirar mulheres

No fim de 2021, apenas 2,4% das empresas listadas na Itália tinham mulheres em cargos semelhantes de liderança - e Scocchia quer quebrar o padrão

Em seu plano até 2026, a CEO tem como meta dobrar a receita nos EUA e aproveitar a mudança de gostos na China, onde o consumo de chá predomina
Por Flavia Rotondi e Chiara Remondini
27 de Novembro, 2022 | 09:36 AM

Bloomberg — A CEO da Illycaffe, Cristina Scocchia, se destaca entre as exceções no mundo corporativo italiano por estar à frente de uma famosa empresa familiar - apesar de não ter nenhum parentesco com os controladores. E agora, enquanto se prepara para abrir o capital da Illy, Scocchia quer inspirar uma nova geração de executivas no país.

Scocchia assumiu o comando da Illy em janeiro com o mandato de levar a marca de café a uma oferta pública inicial até 2026, provavelmente em Nova York ou Milão, disse em entrevista. A empresa familiar foi avaliada em mais de 1 bilhão de euros (US$ 1,1 bilhão) em 2019, quando começou a buscar investidores minoritários, disseram pessoas a par do assunto na época.

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Com 48 anos, a executiva reconhece que sua experiência como mulher à frente de uma grande companhia rumo a um IPO não é comum na Itália. Mas ela espera que sua história possa ajudar a incentivar mais mulheres no país a buscarem diplomas em administração de empresas e avançar no mundo corporativo.

“Cada uma de nós está batendo a cabeça contra um teto de vidro, e isso dói”, disse Scocchia na entrevista em Milão. “Mas as próximas gerações sofrerão menos e esperamos que, em algum momento, o teto rache.”

Como muitas executivas, Scocchia contou que recebeu funções servis em reuniões ou eventos – tarefas que colegas homens nunca receberiam. “Os homens se cumprimentavam com um aperto de mão e, inevitavelmente, um deles me perguntava: ‘Você se importaria de pegar meu casaco?’”, lembra Scocchia.

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Embora isso não aconteça na Illy, Scocchia brinca que “se alguém me pedir para trazer café, pelo menos sei que vou servir a bebida da mais alta qualidade que existe”.

Embora a Itália tenha avançado em outros segmentos - Giorgia Meloni é a primeira mulher eleita como primeira-ministra -, defensores da controversa legislação de 2011 que estabelece cotas baseadas em gênero nos conselhos de administração dizem que a lei é necessária em um país que nem sempre aceita mudanças rapidamente.

A lei de 2011 ajudou a aumentar a representação feminina em conselhos corporativos de empresas com capital aberto: a Itália ocupou o sexto lugar entre 19 países no Índice Europeu de Diversidade de Gênero de Mulheres em Conselhos do ano passado. O país está atrás do Reino Unido, França e países escandinavos, mas à frente da Espanha, Alemanha e Países Baixos.

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No entanto, mulheres no cargo de CEO representavam apenas 2,4% do valor total de mercado de empresas listadas na Itália no fim de 2021, segundo relatório da agência reguladora Consob no início deste ano.

Marca registrada

Na parte que lhe toca, a experiência de Scocchia em várias empresas globais permitiu que se destacasse como candidata a assumir a liderança da Illy, conhecida por seu café sofisticado no estilo italiano vendido em latas nas cores prateada e vermelha.

Scocchia começou sua carreira na gigante de consumo americana Procter & Gamble e depois trabalhou na líder francesa de cosméticos L’Oreal. Em 2017, era diretora-presidente da empresa italiana de maquiagem Kiko, onde liderou a expansão do grupo no Oriente Médio e na Ásia. Está no conselho da Illy desde 2019 e também faz parte dos conselhos da gigante de óculos EssilorLuxottica e do estaleiro italiano Fincantieri.

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Em seu plano até 2026, a CEO tem como meta dobrar a receita nos EUA e aproveitar a mudança de gostos na China, onde o consumo de chá predomina.

Apesar de a Illy esperar crescimento de receita de dois dígitos neste ano – depois de registrar cerca de 500 milhões de euros em vendas em 2021 – Scocchia alerta para uma retração da margem devido ao aumento generalizado dos preços dos grãos de café, logística e energia para manter as fábricas em operação.

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