Bloomberg — A CEO da Illycaffe, Cristina Scocchia, se destaca entre as exceções no mundo corporativo italiano por estar à frente de uma famosa empresa familiar - apesar de não ter nenhum parentesco com os controladores. E agora, enquanto se prepara para abrir o capital da Illy, Scocchia quer inspirar uma nova geração de executivas no país.
Scocchia assumiu o comando da Illy em janeiro com o mandato de levar a marca de café a uma oferta pública inicial até 2026, provavelmente em Nova York ou Milão, disse em entrevista. A empresa familiar foi avaliada em mais de 1 bilhão de euros (US$ 1,1 bilhão) em 2019, quando começou a buscar investidores minoritários, disseram pessoas a par do assunto na época.
Com 48 anos, a executiva reconhece que sua experiência como mulher à frente de uma grande companhia rumo a um IPO não é comum na Itália. Mas ela espera que sua história possa ajudar a incentivar mais mulheres no país a buscarem diplomas em administração de empresas e avançar no mundo corporativo.
“Cada uma de nós está batendo a cabeça contra um teto de vidro, e isso dói”, disse Scocchia na entrevista em Milão. “Mas as próximas gerações sofrerão menos e esperamos que, em algum momento, o teto rache.”
Como muitas executivas, Scocchia contou que recebeu funções servis em reuniões ou eventos – tarefas que colegas homens nunca receberiam. “Os homens se cumprimentavam com um aperto de mão e, inevitavelmente, um deles me perguntava: ‘Você se importaria de pegar meu casaco?’”, lembra Scocchia.
Embora isso não aconteça na Illy, Scocchia brinca que “se alguém me pedir para trazer café, pelo menos sei que vou servir a bebida da mais alta qualidade que existe”.
Embora a Itália tenha avançado em outros segmentos - Giorgia Meloni é a primeira mulher eleita como primeira-ministra -, defensores da controversa legislação de 2011 que estabelece cotas baseadas em gênero nos conselhos de administração dizem que a lei é necessária em um país que nem sempre aceita mudanças rapidamente.
A lei de 2011 ajudou a aumentar a representação feminina em conselhos corporativos de empresas com capital aberto: a Itália ocupou o sexto lugar entre 19 países no Índice Europeu de Diversidade de Gênero de Mulheres em Conselhos do ano passado. O país está atrás do Reino Unido, França e países escandinavos, mas à frente da Espanha, Alemanha e Países Baixos.
No entanto, mulheres no cargo de CEO representavam apenas 2,4% do valor total de mercado de empresas listadas na Itália no fim de 2021, segundo relatório da agência reguladora Consob no início deste ano.
Marca registrada
Na parte que lhe toca, a experiência de Scocchia em várias empresas globais permitiu que se destacasse como candidata a assumir a liderança da Illy, conhecida por seu café sofisticado no estilo italiano vendido em latas nas cores prateada e vermelha.
Scocchia começou sua carreira na gigante de consumo americana Procter & Gamble e depois trabalhou na líder francesa de cosméticos L’Oreal. Em 2017, era diretora-presidente da empresa italiana de maquiagem Kiko, onde liderou a expansão do grupo no Oriente Médio e na Ásia. Está no conselho da Illy desde 2019 e também faz parte dos conselhos da gigante de óculos EssilorLuxottica e do estaleiro italiano Fincantieri.
Em seu plano até 2026, a CEO tem como meta dobrar a receita nos EUA e aproveitar a mudança de gostos na China, onde o consumo de chá predomina.
Apesar de a Illy esperar crescimento de receita de dois dígitos neste ano – depois de registrar cerca de 500 milhões de euros em vendas em 2021 – Scocchia alerta para uma retração da margem devido ao aumento generalizado dos preços dos grãos de café, logística e energia para manter as fábricas em operação.
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