Bloomberg Línea — O ex-ministro da Educação Fernando Haddad, cotado para comandar a equipe econômica do próximo governo, foi o enviado do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para um almoço com banqueiros realizado nesta sexta-feira (25) na Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Haddad não falou de compromissos com o teto de gastos, mas sinalizou que o governo Lula pretende reconfigurar o Orçamento e realizar uma reforma tributária para impostos indiretos, em uma primeira etapa, e, na sequência, em relação aos impostos sobre renda e patrimônio.
O encontro contou com a participação de políticos e CEOs dos principais bancos brasileiros. Após as declarações, alguns banqueiros disseram à Bloomberg Línea que a impressão é a de que o discurso foi interessante, mas que deixou a desejar em termos de detalhamento.
Segundo um dos participantes, CEO de um grande banco do país, que pediu para não ter o nome divulgado, o discurso de Haddad não trouxe novidades sobre o que deve ser a política fiscal do novo governo, o que gerou mais incertezas. Na avaliação dele, o mercado sai da reunião do mesmo jeito que entrou, isto é, sem respostas. E não há sequer a certeza de que Haddad será ministro de Lula.
Em um momento em que o mercado financeiro demanda mais informações do novo governo, que ainda não sinalizou a indicação de qualquer ministro, Haddad disse que tinha declinado originalmente o convite do presidente da Febraban, Isaac José Sidney, para falar no evento, mas mudou de ideia.
Haddad é um dos nomes mais cotados para liderar a área econômica do governo petista, segundo fontes da equipe de transição, mas negou que tenha sido convidado para assumir a Fazenda e desconversou falar sobre a possibilidade de trabalhar com o Persio Arida nessa pasta.
Mas, depois que Lula pediu para que Haddad o representasse no evento, o ex-ministro disse que “entende que a estratégia do presidente eleito para o próximo governo é que seja melhorada a qualidade do orçamento público, tanto do ponto de vista de receita quanto de despesa”.
Haddad disse que há a determinação clara de Lula para que seja realizada uma reforma tributária, porque o ciclo tributário do país hoje “é um caos que afugenta investidores”.
“Nosso compromisso em 2023 é com a reforma tributária e contamos com o apoio população e do setor financeiro”, disse Haddad, sinalizando ainda que “a qualidade da despesa pública no Brasil piorou”.
“Temos um Orçamento com muita dificuldade para atingir o objetivo programado. O orçamento público precisa ser reconfigurado, precisamos dar consistência aos gastos públicos, inclusive nos gastos públicos recentemente aprovados, como o Auxílio Brasil. Precisamos repensar gastos represados para a ciência e tecnologia, controle ambiental e cultura”, afirmou.
Haddad disse ainda ser mais prudente deixar a discussão sobre a nova âncora fiscal para depois da transição. “A gente fica monotemático e esquece que tem um mundo de coisas pra resolver”, disse. “Uma coisa é você reconhecer uma disfunção orçamentária que foi promovida pelo próprio governo. Outra coisa é uma regra durável, que pode ser revista, mas tem que ser sustentabilidade, ser crível.”
Haddad disse que o governo Lula pretende trazer mais transparência ao orçamento “sem tirar protagonismo do Congresso”.
“O Congresso deve e pode participar do direcionamento dos recursos parlamentares. Devemos melhorar a qualidade da receita por meio da reforma tributária”, afirmou.
Custo do crédito
Haddad falou ainda sobre intermediação financeira e barateamento do crédito no Brasil, com menos spread - a diferença entre o custo de captação e o custo de concessão -, para tornar o crédito mais acessível e auxiliar o Banco Central na agenda de adimplência. “Temos que acelerar a regulação do sistema bancário para promover mais concorrência entre os bancos e, eventualmente, o Estado entrar para desonerar o sistema de crédito, porque não existe economia de mercado sem crédito”, disse.
O presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse que os bancos “querem a redução do custo dos empréstimos no país”.
O ex-ministro também acenou à questão institucional, dizendo que Lula pretende “virar a página na guerra entre os poderes”.
“O presidente Lula é um democrata. Ele nasceu em uma mesa de negociação. Se ele é duro ou mole em uma mesa de negociação é para defender os interesses para os quais ele foi eleito”, disse, salientando que o presidente eleito vai dialogar com o Congresso e com a sociedade.
“Estamos vivendo um momento delicado para atingir o entendimento, mas vamos chegar lá. Esse chefe de Estado não impõe sua vontade, mas constrói o entendimento das coisas a partir do que ele recebe de insumos da sociedade. Depois que passarmos pela parte mais estreita, a estrada se alarga.”
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