Bloomberg Opinion — Eu levei meu filho para ver o musical O Rei Leão em Hamburgo e paguei algumas centenas de dólares, que foram para a Walt Disney (DIS). Mas, como milhões de outros clientes encantados, eu não amei ter gasto tanto dinheiro para ouvir uma versão de O Ciclo Sem Fim. Vender otimismo e maravilha em um mundo de divisões e incertezas é potencialmente um modelo de negócios brilhante. Então por que a Disney está tão nervosa?
Bob Chapek foi destituído do cargo de CEO no domingo (20) após apenas dois anos. A gigante da mídia e entretenimento se recuperou da pandemia, mas “Bob C” não conseguiu apaziguar as preocupações de investidores, chefes de estúdio inquietos e políticos que acusaram a empresa de se tornar “muito lacradora”.
O retorno potencial do maestro Bob Iger, cujo célebre mandato de 15 anos como CEO incluiu as aquisições da Pixar, Marvel Entertainment e Lucasfilm, pode ser uma solução útil a curto prazo, mas em teoria ele só permanecerá no cargo por dois anos. O eventual sucessor de Iger precisará sair da sombra de “Bob I” e tomar algumas decisões complicadas. É uma tarefa assustadora.
Além disso, a oposição à renomeação de Iger por parte da Trian Fund Management, do investidor ativista Nelson Peltz, após construir uma participação de mais de US$ 800 milhões, de acordo com o Wall Street Journal, indica que a harmonia não está garantida.
Chapek teve a infelicidade de assumir o controle da Disney em fevereiro de 2020, logo que a pandemia forçou o fechamento de seus parques e cinemas. Ele supervisionou uma rápida recuperação e as ações atingiram um recorde no ano seguinte em meio à animação com o rápido crescimento de seu serviço de streaming Disney+. Mas os mercados são inconstantes; antes interessados apenas no aumento de assinantes, os investidores agora anseiam por rentabilidade. Um prejuízo de US$ 1,5 bilhões no último trimestre foi tão popular quanto o vilão Scar.
Brigas na administração e diversas gafes políticas que vão desde os protestos “Don’t Say Gay” até a remuneração de Scarlett Johansson aumentaram a sensação de dificuldades. Um grande impulso de redução de custos cimentou a reputação (um tanto injusta) de Chapek como “mão-de-vaca”, em vez de uma alma criativa.
O contrato de Chapek foi renovado em junho, fazendo sua destituição parecer atrapalhada, mas em outros aspectos o segundo mandato de Iger tem um bom timing. Ele assume a empresa em um momento em que o preço das ações da Disney está em níveis pouco exigentes, tendo caído mais de 40% este ano. A tão esperada sequência de Avatar deve finalmente ser lançada no próximo mês, e o centenário da Disney no ano que vem certamente vai trazer um pouco de nostalgia. Ele também pode dar algumas soluções imediatas para acalmar os investidores, como a compra da participação de um terço da Comcast (CMCSA) no serviço de streaming Hulu.
Mas Iger não tem uma varinha de condão. Diante de uma crise de custo de vida, os clientes podem acabar se afastando com os aumentos de preços que a Disney está implementando no Disney+ e em seus parques temáticos. Também é pouco provável que o público de cinemas retornem a níveis pré-pandemia. Parâmetros como bilheteria não têm mais a mesma importância, afetando a forma como o “talento” é compensado. Embora a Disney tenha um histórico excelente de histórias e personagens, ela gastou cerca de US$ 30 bilhões em conteúdo no ano passado para alimentar a fera do streaming, em meio à competição de rivais de peso, como a Apple (AAPL), a Netflix (NFLX) e a Amazon (AMZN). Nem todos gostaram de seus experimentos com as franquias Star Wars e Marvel.
Iger apontou o problema em setembro, quando disse em uma conferência que o setor estava entrando em uma “era de grande ansiedade”, dizendo: “as pessoas que administram essas grandes empresas estão ansiosas. Até mesmo as empresas de streaming estão ansiosas. Os investidores estão ansiosos. Os anunciantes estão ansiosos. A comunidade criativa está ansiosa. Os agentes estão ansiosos. Todos estão ansiosos. Eles estão ansiosos porque esta é uma era de grande transformação e ainda há muitas incógnitas.”
Eu acrescentaria a essa lista a dificuldade de satisfazer diversos públicos internacionais em uma era de polarização política e de guerras culturais.
A trajetória de Iger e suas habilidades diplomáticas lhe dão uma vantagem para enfrentar estes desafios. Contudo, reconhecer esses desafios é uma coisa, resolvê-los é outra bem diferente.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Chris Bryant é colunista da Bloomberg Opinion que cobre empresas industriais. Anteriormente, trabalhou para o Financial Times.
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