Diretor criativo da Gucci, Alessandro Michele, deixa a marca

Michele ajudou a transformar a marca italiana em um gigante da moda desde que assumiu a liderança criativa em 2015

Gucci
Por Angelina Rascouet
24 de Novembro, 2022 | 01:02 PM

Bloomberg — Alessandro Michele, o diretor criativo que transformou a Gucci em uma marca de sucesso entre as gerações mais jovens, está deixando a marca italiana.

A Kering SA, dona da marca, anunciou que Michele está deixando seu cargo em um comunicado na quarta-feira (23). O escritório de design da Gucci supervisionará a direção da marca até que uma nova organização criativa seja anunciada, disse a empresa.

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“Há momentos em que os caminhos se separam devido às diferentes perspectivas que cada um de nós pode ter”, disse Michele no comunicado. “Hoje termina para mim uma jornada extraordinária de mais de vinte anos, dentro de uma empresa à qual dediquei incansavelmente todo o meu amor e paixão criativa.”

Michele, 49 anos, ajudou a transformar a marca com sede em Florença, na Itália, em um gigante da moda desde que assumiu a liderança criativa no início de 2015.

A Gucci é agora três vezes maior do que quando o CEO Marco Bizzarri “deu uma aposta inteligente no nome até então desconhecido e o colocou no comando da marca dominante da Kering”, escreveu Flavio Cereda, analista do Jefferies Group, em nota. “O próximo passo é necessariamente mais complicado agora”, com dúvidas sobre o sucessor.

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O designer será um substituto interno, e haverá mais mudanças de liderança, especialmente em um momento de demanda volátil, disse Cereda. A ambição da Gucci de atingir 15 bilhões de euros (US$ 15,6 bilhões) em vendas no médio prazo, o que significa aproximadamente até 2027, parece “cada vez mais fora de alcance”, acrescentou.

A moda de Michele, conhecida por seus designs chiques e extravagantes, foi usada por celebridades como Jared Leto, Harry Styles e Florence Welch. Sob sua supervisão, a Gucci também se envolveu em colaborações com outras marcas e empresas, como a Adidas e a North Face.

Apesar de algum progresso, no entanto, o crescimento da Gucci ficou atrás de marcas rivais desde a suspensão da maioria das restrições do coronavírus, incluindo Yves Saint Laurent, também da Kering, e a unidade de moda e couro da LVMH, liderada por Louis Vuitton e Christian Dior.

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A marca está particularmente exposta à China, que tem demorado mais para afrouxar as regras da pandemia por causa de sua abordagem de covid zero. No início deste ano, a Gucci nomeou um ex-executivo da Tiffany & Co., Laurent Cathala, para chefiar a unidade de moda na China e Hong Kong.

O diretor financeiro da Kering, Jean-Marc Duplaix, disse aos investidores no mês passado que Cathala pode não conseguir mudar o desempenho da noite para o dia e que o objetivo de aumentar as vendas é de longo prazo.

Michele diminuiu o ritmo de criação quando a pandemia chegou, lançando menos coleções e menos designs novos. Agora, a marca planeja retornar a seis coleções no ano que vem, disse Duplaix no mês passado. Além disso, a Gucci quer desenvolver ainda mais as categorias de moda masculina e viagens, disse ele.

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Antes do anúncio da saída de Michele, a Gucci havia anunciado que teria o apoio de um “diretor de estúdio”, que o ajudaria na coleção principal, sem nunca identificar esse indivíduo.

“Talvez seja hora de uma mudança”, escreveu Piral Dadhania, analista do RBC Europe Ltd., em nota aos clientes. A função na Gucci exige um designer disposto a se concentrar nos arquivos da marca e reconstruir sua herança, acrescentou.

A Gucci foi fundada em Florença em 1921 como fabricante de malas e outros artigos de couro e, nas décadas seguintes, expandiu-se para a Itália, Europa e Estados Unidos. Em 1999, a Pinault Printemps Redoute, como a Kering era conhecida anteriormente, comprou uma participação de 42% e depois a assumiu completamente.

A aquisição da marca italiana aumentou a rivalidade entre François Pinault, fundador da Kering, e o magnata francês do luxo Bernard Arnault, fundador da LVMH.

A saída de Michele segue a saída surpresa de Daniel Lee, há um ano, da Bottega Veneta, outra marca da Kering. Lee saiu por motivos não revelados após uma corrida bem-sucedida e recentemente ingressou no Burberry Group Plc, onde deve lançar sua primeira coleção de roupas de chuva em janeiro.

No início deste mês, a Estee Lauder anunciou a compra da linha de beleza de Tom Ford, um negócio que a Kering também considerou enquanto o grupo busca expandir suas ofertas de cosméticos e fragrâncias, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News.

Separadamente, a Balenciaga, outra marca da Kering, foi forçada a se desculpar na terça-feira (22) depois que uma campanha atraiu acusações de que a marca liderada pelo designer criativo Demna parecia sexualizar crianças em anúncios. A Balenciaga posteriormente retirou os anúncios controversos.

-- Com a ajuda de Sara Jacob e Rob Golum

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