Bloomberg Línea — Após um desempenho considerado fraco de vendas no terceiro trimestre, prejudicado pelo Dia dos Pais em agosto, a Via (VIIA3), um dos maiores grupos de varejo do país, dono de bandeiras tradicionais como Casas Bahia e Ponto, decidiu apostar suas fichas na Black Friday, que coincide neste ano com a Copa do Mundo.
Uma das estratégias é aproveitar a euforia do consumidor com o jogo de estreia da seleção brasileira de futebol, na próxima quinta-feira (24), contra a Sérvia: para isso, deixará uma de suas principais unidades, a megaloja da Casas Bahia na marginal Tietê, em São Paulo, aberta em regime integral (24h), com o funcionamento entrando pela madrugada da sexta-feira (25).
Em entrevista à Bloomberg Línea, o COO da Via, Abel Ornelas Vieira, disse que um telão será instalado na unidade para que o consumidor possa ver o jogo, que começará às 16h. Ele espera que o investimento da companhia na temporada de descontos resulte em aumento do tíquete médio de vendas, apostando principalmente na venda de TVs de telas maiores, a partir de 65 polegadas.
“Trabalhamos com a expectativa de registrar um crescimento das vendas nesta Black Friday em relação à edição do ano passado. Por isso, antecipamos nossa campanha e iniciamos na última quinta-feira (17)”, afirmou o executivo.
Ele disse que os brasileiros já se acostumaram à Black Friday, uma invenção americana que o Brasil “importou” para surfar com as vendas em canais digitais. “Há consumidores que guardam o dinheiro ao longo do ano para comprar na Black Friday. Neste ano, o Auxílio Brasil vai ajudar também”, observou Vieira, em referência ao benefício mensal de R$ 600 concedido pelo governo federal.
Margem de lucro
A rede com 1.120 lojas aposta também nas vendas a prazo para impulsionar seus resultados do quarto trimestre. “Estamos parcelando em até 30 meses no cartão”, disse o COO da Via.
O executivo disse que o grupo varejista fez “ótimas negociações” com as indústrias no reforço dos estoques e que os preços mais baixos não vão afetar os ganhos. “Não abrimos mão de margem. Esperamos vendas mais altas e temos estoque adequado para essa necessidade”, afirmou Vieira.
Segundo ele, a logística do grupo também está pronta para o aumento das entregas, após o reforço da compra da logtech CNT no ano passado, que permitiu à Via a oferta de serviços de fulfillment (operação que vai do armazenamento ao envio para a transportadora e o cliente) para seus parceiros. As lojas físicas do grupo também são usados como apoio às operações do comércio eletrônico.
Inflação
A Black Friday, que costuma no Brasil ser alvo de críticas de parte dos consumidores por causa de anúncios com descontos ilusórios, transformou-se na principal data de vendas para os grupos varejistas no quarto trimestre antes das compras de Natal, principalmente no e-commerce, com estratégias agressivas de Via, Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Mercado Livre (MELI).
Para a Black Friday deste ano, consultorias especializadas em varejo projetam um movimento de R$ 6,05 bilhões no e-commerce, com mais de 8,3 milhões de pedidos online, alta de 3,5% em relação à edição de 2021. As categorias com previsão de maior aquecimento nas vendas são telefonia, eletrônicos, informática, eletrodomésticos e eletroportáteis, além de moda, beleza e saúde.
O cenário macroeconômico mudou neste ano, principalmente com o aumento dos índices de inadimplência diante de juros mais elevados para conter a inflação. A disparada dos preços dos combustíveis, sobretudo no primeiro semestre, também pesou no orçamento das famílias, corroendo o poder de compra em um ambiente de dólar mais caro, segundo economistas.
“A Black Friday pode reduzir um pouco os preços de alguns bens e serviços em novembro. Por outro lado, a Copa do Mundo pode aumentar os preços de eletrônicos, principalmente da TV”, avaliou relatório do grupo financeiro japonês MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group).
O MUFG projeta uma taxa oficial de inflação no Brasil em torno de 0,40% e 0,50% para os meses de novembro e dezembro, respectivamente, em meio ao aumento da demanda sazonal por bens e serviços relacionados aos feriados de fim de ano.
O setor de logística dá sinais positivos para a temporada de promoções. Com varejistas como Amazon, Via, Renner, Netshoes, Magazine Luiza, Natura e Boticário em sua carteira de clientes, a BBM Logística, um dos maiores operadores logísticos do modal rodoviário do país, informou ter ampliado em 150% sua estrutura operacional para atender ao crescimento do consumo pela Black Friday.
“Esperamos um crescimento de 50% na demanda em relação ao mesmo período de 2021, especialmente nos setores de beleza, moda e vestuário”, disse Ricardo Hoerde, diretor da unidade de e-commerce da BBM Logística.
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