Pressão fiscal toma conta do humor e mercado pune ações pós-balanço

Média de variação das ações das empresas na sessão seguinte aos resultados foi uma queda de 2,2%, ante ganho de 0,6% no trimestre anterior

Ações brasileiras caíram mais de 8% em dólares no acumulado do mês, o maior recuo entre os principais índices acionários globais
Por Barbara Nascimento e Vinícius Andrade
22 de Novembro, 2022 | 02:37 PM
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Bloomberg — Os resultados corporativos do terceiro trimestre no Brasil deram pouca razão para os investidores ficarem excessivamente pessimistas, já que os lucros reportados vieram, em geral, acima ou em linha com as expectativas do mercado. Mesmo assim, as ações sofreram.

Cerca de 63% das empresas que integram o índice Ibovespa (IBOV) superaram ou atingiram as estimativas dos analistas para o terceiro trimestre, ante 61% para os balanços referentes aos três meses encerrados em junho, segundo dados da Bloomberg. A média de variação das ações das empresas na sessão seguinte aos resultados, contudo, foi uma queda de 2,2%, ante ganho de 0,6% no trimestre anterior, em meio ao mau humor dos gestores com a volatilidade do cenário macroeconômico.

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Preocupações com a trajetória fiscal do país sob a gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva têm mantido o mercado sob pressão. Lula ainda não nomeou um ministro da Fazenda e sua equipe enviou uma minuta da proposta da chamada PEC da Transição que remove indefinidamente o Bolsa Família do teto de gastos.

A incerteza sobre o compasso das contas públicas - e seus efeitos sobre a taxa de juros - tem afastado os investidores. O Morgan Stanley, que no início do mês citou resultados sólidos em uma avaliação preliminar da temporada de balanços, recentemente rebaixou as ações brasileiras dentro de sua carteira de América Latina.

“As empresas do Ibovespa continuaram a entregar crescimento na comparação anual”, disse a estrategista de ações da XP Jennie Li. “Para o quarto trimestre e já pensando em 2023, estamos um pouco mais cautelosos.”

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As ações brasileiras caíram mais de 8% em dólares no acumulado do mês, o maior recuo entre os principais índices acionários globais.

No caso de surpresas corporativas negativas, a punição foi ainda mais dolorosa. O Bradesco (BBDC4), por exemplo, teve a pior queda diária desde 1998 após um lucro recorrente 22% abaixo do esperado. O Magazine Luiza (MGLU3) tombou mais de 13% depois de reportar prejuízo e a Via (VIIA3) teve a pior queda semanal desde os primeiros dias da pandemia.

“O ambiente macroeconômico mudou muito nas últimas três semanas”, disse Rafael Martins, vice-presidente de finanças e relações com investidores da Stone, em teleconferência com analistas na quinta-feira. “Difícil dizer onde isso vai acabar.”

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Projeções e comentários pouco inspiradores sobre os próximos trimestres também têm deixado os gestores mais cautelosos. Os operadores recentemente reduziram as apostas em cortes da Selic, que atualmente está em 13,75% e tem pressionado o custo de captação para empresas em setores como o de pagamentos.

“É difícil encontrar um tom extremamente otimista” nas administrações, disse Marcos Peixoto, gestor da XP Asset Management. “E igualmente difícil para a companhia se planejar e dar guidance se nem o próximo Ministro da Fazenda sabemos quem é.”

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