Bloomberg — Os bancos centrais do mundo devem continuar elevando suas taxas de juros para combater a inflação crescente e generalizada, mesmo se a economia global afundar em uma desaceleração significativa, disse a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta terça-feira (22).
O aumento inesperado dos preços e o impacto na renda real estão prejudicando as pessoas em todos os lugares, criando problemas que só vão piorar se os as autoridades monetárias não agirem, de acordo com a organização com sede em Paris.
A OCDE elevou as projeções para a inflação de 2023 em comparação com suas estimativas de setembro. Os aumentos de preços devem seguir bem acima das metas dos bancos centrais: em 2,6% nos Estados Unidos, 3,4% na Zona do Euro e 3,3% no Reino Unido.
“Neste momento, controlar a inflação deve ser a principal prioridade, caso contrário, podemos acabar com uma espiral de preços e salários como tivemos na década de 1970, ou acabar com uma situação em que a inflação se torna tão arraigada que a dor necessária para controlá-la será ainda maior”, disse o economista-chefe interino da OCDE, Alvaro Santos Pereira, em entrevista à Bloomberg News.
“Os riscos de overshooting são certamente menores do que os riscos de inação”, acrescentou. O overshooting é um movimento de reação exagerada ou desproporcional dos bancos centrais que pode afetar preços de ativos, levando-os a valores fora das expectativas.
O aumento dos juros ocorre em um momento difícil para a economia mundial, que desacelera afetada pelo aumento dos custos de energia enquanto a Rússia continua a guerra na Ucrânia. Outro risco de taxas de juros mais altas é o aumento do custo do crédito, principalmente para países de baixa renda. Dois terços deles já estão em alto endividamento, de acordo com a OCDE.
Ainda assim, a OCDE disse que alguns sinais iniciais de sucesso em controlar os preços mostram que os bancos centrais devem permanecer em um curso restritivo. A organização destaca o Brasil como um país onde o rápido do aumento da taxa básica juros indica que a inflação já começou a diminuir nos últimos meses. Dados recentes também apontam para algum progresso no combate à inflação nos Estados Unidos.
A OCDE disse que, embora a economia global sofra uma “desaceleração significativa do crescimento”, atualmente não prevê uma recessão. De fato, revisou algumas de suas previsões de crescimento, principalmente para a zona do euro, onde agora vê uma expansão de 0,5% em 2023, em vez dos 0,3% projetados em setembro.
Pereira disse que, com a pandemia, as famílias estão reduzindo o consumo e que o apoio à política fiscal na Europa tem sido “bastante significativo” em comparação com a avaliação da OCDE de setembro.
Ele alertou que a política fiscal deve ser melhor direcionada, no entanto, para garantir que proteja apenas as famílias vulneráveis sem alimentar ainda mais a inflação ou sobrecarregar as finanças públicas.
“Na luta contra o aumento dos preços, também é essencial que a política fiscal trabalhe de mãos dadas com a política monetária”, disse Pereira em uma introdução ao último relatório econômico da OCDE. “As escolhas fiscais que aumentam as pressões inflacionárias resultarão em taxas de juros ainda mais altas para controlar a inflação.”
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