Quem é e o que pensa Ilan Goldfajn, primeiro brasileiro presidente do BID

Atual diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental foi eleito neste domingo (20) para comandar um dos principais organismos multilaterais do mundo

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Bloomberg Línea — A escolha de Ilan Goldfajn para a presidência do BID, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington (Estados Unidos), representa novo degrau na carreira de um dos brasileiros de maior proeminência na discussão de políticas econômicas pelo menos nas duas últimas décadas e meia, com atuação tanto na esfera pública como na academia e em instituições privadas.

O BID é a principal instituição não-privada a financiar projetos econômicos, sociais e de infraestrutura na América Latina e no Caribe. Em 2021, emprestou cerca de US$ 23 bilhões a projetos na região.

Goldfajn será o primeiro brasileiro a ocupar essa função no BID, que existe desde 1959 e cuja sede fica em Washington, nos Estados Unidos. O mandato é de cinco anos.

Doutor em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), ele tem apontado em ocasiões recentes a importância do equilíbrio de políticas econômicas sustentáveis por governos nacionais com a proteção social a populações mais vulneráveis.

Em recente evento em São Paulo há dois meses, ao qual a Bloomberg Línea esteve presente, Goldfajn apontou como ressalva no processo de aumento das taxas de juros para combater a inflação a necessidade de observar o peso do trabalho informal em determinadas economias, algo que acaba limitando a eficácia do aperto monetário.

“As pesquisas têm mostrado que a informalidade do mercado de trabalho está relacionada com a capacidade de reduzir a inflação numa situação de desemprego”, afirmou Goldfajn, que foi um dos painelistas do evento “Informality and Wage Setting Policies in Latin America”, organizado pelo Insper.

“Para a inflação cair é crucial saber o quanto as taxas de juros mais altas vão afetar o emprego. E a informalidade parece ser um fator relevante para isso. É crucial olhar para a informalidade e como ela pode afetar a inflação neste momento”, afirmou o ex-presidente do BC na ocasião.

Goldfajn, 56 anos, nascido em Israel e também cidadão brasileiro, é atualmente diretor do Diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), também na capital americana. No cargo desde o início de 2022, o economista já desempenha justamente a função de relacionamento e interlocução com os países-membros do FMI que são das Américas.

No recente encontro anual do FMI em Washington também há dois meses, Goldfajn apontou em painel para a necessidade de formuladores de políticas públicas e econômicas equilibrarem a realidade de finanças públicas com orçamentos apertados e aumento dos juros para combater a inflação com redes de proteção e investimento em saúde e educação para os mais vulneráveis - cuja situação de fragilidade ficou exacerbada e exposta nos últimos anos com os efeitos da pandemia.

Além de doutor pelo MIT, ele é mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e bacharel em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Goldfajn também tem carreira atuante no setor acadêmico: foi durante muitos anos professor de Economia na PUC-Rio e, entre 2005 e 2009, integrou a diretoria do think tank de pensamento econômico Casa das Garças, no Rio de Janeiro.

Anteriormente foi presidente do Banco Central do Brasil entre 2016 e 2019, período em que, em paralelo com o trabalho do então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, criou as condições para que a taxa básica de juros, a Selic, fosse reduzida do patamar de 14,25% ao ano para 6,50%.

Um dos pontos mais elogiados por economistas naquele período foi a recuperação da credibilidade e da previsibilidade na comunicação da estratégia e dos passos do BC com os chamados agentes de mercado, ampliando a eficácia da política monetária.

À frente da instituição, Goldfajn também supervisionou e deu respaldo a iniciativas para inovação, abertura e aumento da concorrência em diferentes segmentos do setor financeiro, como o de meios de pagamento, bem como de digitalização do sistema com o crescimento de fintechs.

Recebeu o reconhecimento externo: foi eleito Banqueiro Central do Ano pela revista The Banker em 2017 e, no ano seguinte, nomeado Melhor Banqueiro Central pela revista Global Finance.

Foi a segunda passagem de Goldfajn pelo Banco Central, depois de ter sido diretor de Política Econômica da instituição de 2000 a 2003, nas presidências de Arminio Fraga e depois Meirelles.

Depois desse período, dedicou mais tempo ao trabalho acadêmico e ao setor privado: foi sócio-fundador da Ciano Investimentos, sócio e economista da Gávea Investimentos, gestora cofundada por Arminio, e economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco (ITUB4), maior banco do Brasil.

Depois de deixar o comando do Banco Central em 2019, cumpriu quarentena antes de assumir a presidência do conselho do Credit Suisse no Brasil, cargo que ocupou até setembro de 2021.

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