Bloomberg — A Nestlé, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, espera que o inovador segmento de produtos à base de plantas - plant-based - deve seguir em trajetória de crescimento mais sustentável e responder por 30% ou 40% do mercado global de proteína, mesmo depois de uma recente perda de entusiasmo do mercado com os dados de consumo.
A exemplo do boom inicial com a demanda de cerveja artesanal, muitos investidores apostaram no mercado de proteína vegetal, movidos por expectativas excessivamente otimistas de aceitação do consumidor, disse o executivo-chefe de Tecnologia (CTO) da Nestlé, Stefan Palzer, em entrevista à Bloomberg News.
“Quando a cerveja artesanal chegou ao mercado, todo mundo queria tê-la”, disse Palzer. “Depois, houve uma queda na demanda, e ela voltou a crescer lentamente ao longo de muitos anos, tornando-se um negócio significativo. Acho que é isso que também vamos observar com a proteína vegetal”, afirmou.
Os produtores de proteínas vegetais que se beneficiaram de uma maior atenção com a saúde nos dois anos iniciais da pandemia buscam sobreviver e preservar a rentabilidade, enquanto a inflação faz os consumidores buscarem opções mais baratas, incluindo a carne animal que esperavam substituir.
Antes uma queridinha dos investidores, a Beyond Meat perdeu mais de 80% de seu valor de mercado no ano passado, pois os descontos em produtos nos Estados Unidos e no exterior prejudicaram a lucratividade. E algumas redes de fast-food recuaram das ofertas de hambúrguer plant-based após uma demanda fraca.
Reforço de equipe em P&D
Embora o mercado possa ter ficado desapontado com os números de vendas recentes de proteínas vegetais, a Nestlé ainda está vendo um desempenho “muito bom” no segmento, disse Palzer, que lidera a área de pesquisa e desenvolvimento da Nestlé.
Ele está se preparando para um crescimento constante do consumo desses produtos nos próximos anos. Por isso, a companhia está reforçando o total de funcionários dedicados à proteína vegetal em sua equipe global de P&D, alcançando uma participação de 10% do pessoal, ou 300 pessoas.
A empresa com sede em Vevey, na Suíça, continuará desenvolvendo substitutos de carne, mas também se voltou para produtos que usam proteínas animais, e não animais - como um mix que pode ter ovos adicionados para aumentar o volume e tornar o preço acessível, ou incluir ingredientes vegetais em bebidas com proteínas lácteas.
“Acreditamos no potencial [desse segmento]”, disse ele. “Mas o potencial está além do ingrediente alternativo puro. É usar proteínas vegetais para inovar em muitas partes do nosso portfólio”, observou.
Flexitarianismo
Pares da Nestlé, incluindo a Hormel Foods, já estão experimentando misturas de carne e vegetais para atrair os adeptos do flexitarianismo (que buscam uma alimentação flexível reduzindo, em vez de excluir, o consumo de alimentos de origem animal, priorizando a ingestão de vegetais, como verduras e legumes).
A rede de restaurantes Sonic, que segue o modelo drive-thru, vendia, por exemplo, um hambúrguer com carne de cogumelos no passado, que era considerado uma opção mais saudável.
Enquanto a ciência e a tecnologia de alimentos continuam sendo um alvo principal para a Nestlé, a inovação está descentralizada, disse Palzer. Ele falou de Santiago, no Chile, onde a empresa realizou um evento de inauguração de um novo centro para desenvolver alimentos para as necessidades dos consumidores da região.
América Latina
O executivo da Nestlé também disse enxergar muito potencial de proteína vegetal na América Latina, onde o consumo de carne continua alto. As motivações para recorrer a substitutos animais variam de região para região. Por exemplo, no Reino Unido e na Alemanha, o bem-estar animal é um grande impulsionador, enquanto na América Latina está relacionado ao ganho em saúde e, depois, em sustentabilidade, disse ele.
Nos Estados Unidos, o hambúrguer de carne plant-based do McDonald’s, feito pela Beyond Meat, não passou de um teste reduzido. Enquanto isso, a rede expandiu o hambúrguer de proteína vegetal em todo o Reino Unido e Irlanda. Palzer disse que é inevitável que os produtos vegetais se tornem populares.
“Não tem jeito porque não podemos continuar com a mesma quantidade de carne, peixe e frango que consumimos hoje”, disse. “Portanto, os produtos à base de plantas precisam se popularizar simplesmente porque não há proteína animal suficiente.”
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