Bloomberg — A hashtag #RIPTwitter” está em alta no Twitter.
Naturalmente, todos que outrora se queixaram de que a plataforma é um local infernal estão falando sobre a alegria que ela trouxe para suas vidas e o quanto sentirão falta dela. O Twitter é essencialmente assim. Felizmente, o Twitter não vai acabar hoje ou amanhã (mas, se acabasse, Musk poderia ao menos afirmar que resolveu o problema dos bots).
Mas há uma boa chance de a plataforma passar por dificuldades por algum tempo, pelo menos neste domingo (20), quando o início da Copa do Mundo desencadear uma onda de tweets de todo o mundo.
O Twitter (TWTR) está operando com uma equipe muito reduzida. Depois que metade da empresa foi demitida há duas semanas, centenas de pessoas deixaram a empresa na noite desta quinta-feira (17), depois que a Elon Musk estabeleceu um prazo para que os funcionários restantes concordassem com condições de trabalho “extremamente difíceis” ou aceitassem uma rescisão de três meses. Muitos preferiram a rescisão.
Não está claro exatamente quantos dos 7.500 funcionários originais do Twitter permanecem na empresa. Um repórter da Fortune publicou no Twitter que 75% dos 3.700 funcionários restantes da empresa haviam se demitido, ao passo que o The Verge afirmava que cerca de 2.900 funcionários ficaram para trás. O número real deve estar nesse intervalo.
Muitos trabalhadores afirmaram que o site ficaria em ruínas em um futuro próximo sem o trabalho de engenheiros essenciais suficientes. O Twitter também suspendeu temporariamente o acesso com crachá em seus edifícios, o que significa que ninguém pode entrar no escritório.
Naturalmente, Musk não deu ouvidos às preocupações. “As melhores pessoas ficaram, então não estou super preocupado”, disse ele em seu perfil no Twitter na quinta-feira.
Musk gosta de rodear-se de fãs e se divertiu em ter uma vigorosa base raivosa no Twitter, respondendo principalmente a elogios. Quem tenta corrigi-lo é escorraçado. O bilionário já demitiu vários engenheiros que o criticaram abertamente. Musk pode dizer que valoriza a excelência, mas é óbvio que muitas das pessoas mais inteligentes do Twitter já deixaram a empresa.
Pode-se argumentar que é absolutamente possível operar uma plataforma on-line global com uma equipe reduzida. Vamos supor que entre 1.000 e 2.000 funcionários permaneceram no Twitter. É um grande número de engenheiros, principalmente considerando que o WhatsApp tinha apenas uma fração disso – 55 – quando foi comprado pelo Facebook em 2014 e mantinha um aplicativo de mensagens para cerca de 450 milhões de usuários ativos mensais. O Twitter tem cerca de 300 milhões de usuários ativos mensais.
Também é possível argumentar que situações extremas exigem medidas extremas. Musk tomou as rédeas de uma empresa que não foi lucrativa em seu último trimestre. Para reduzir radicalmente os custos, ele precisa cortar pessoal e ficar com um núcleo de engenheiros “implacáveis” que podem trabalhar em alta velocidade e alta intensidade.
Mas nenhum desses argumentos tem peso se o objetivo for o sucesso a longo prazo. O WhatsApp pode ter dado certo com apenas algumas dezenas de funcionários, mas também foi notoriamente cauteloso em lançar novas funcionalidades. Seus fundadores focaram principal e simplesmente em manter seus servidores funcionando.
Musk não tem intenção de apenas manter os servidores funcionando. Ele quer transformar o Twitter em um “app para tudo”, com uma série de novos recursos como pagamentos para emular plataformas online maiores, como a chinesa WeChat.
Essa é uma tarefa especialmente desafiadora para o Twitter. Após 16 anos de operação, seus sistemas estão cheios de dívidas técnicas, bugs deixados para trás depois de uma miríade de iterações e atualizações. Seus sistemas são altamente complexos e distribuídos em múltiplas redes. Reformulá-lo exigirá tempo e experiência – mas Musk está com pressa e acabou demitindo muitas das pessoas que conhecem bem esses sistemas.
Musk está planejando relançar seu serviço de US$ 8, o Twitter Blue, em 29 de novembro “para garantir que esteja sólido”. Mas o Twitter em si pode não estar tão firme quando esse momento chegar.
Não está claro por que a abordagem do Musk tem sido tão extrema. Talvez ele esteja desesperado para recuperar seu investimento e pagar os credores. Mas ele não precisava tomar medidas tão drásticas.
O Twitter não estava à beira do desastre quando Musk assumiu as rédeas da empresa. O Twitter foi majoritariamente lucrativo ao longo dos últimos cinco anos e geriu um negócio de publicidade decente que, até a aquisição de Musk, trouxe cerca de 90% de suas receitas. Esse negócio parece cada vez mais incerto à medida que os anunciantes se recusam a ingressar no tumulto da empresa.
Musk é como um mecânico que substitui o motor, a correia dentada, o chassi e toda a estrutura de um carro quando, na verdade, o carro foi levado à oficina com um pneu furado. É um exagero e o tiro vai quase certamente sair pela culatra.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous”.
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