Bloomberg — Elizabeth Holmes foi condenada a passar mais de 11 anos na prisão por transformar de forma fraudulenta sua startup de exames de sangue Theranos em uma empresa que chegou a valer US$ 9 bilhões, mas que faliu em um escândalo que revelou que não passava de enganação.
A sentença imposta no fim do dia na sexta-feira (18) pelo juiz distrital Edward Davila, em San Jose, no estado da Califórnia, está muito mais próxima dos 15 anos de pena que os promotores pediram do que os advogados de Holmes buscavam - prisão domiciliar ou 18 meses de prisão no máximo.
A sentença encerra uma saga de anos que fascinou o Vale do Silício, inspirando livros, série, documentários, podcasts e filmes sobre a estudante que largou a Universidade de Stanford e se tornou uma empreendedora celebridade, para depois ver sua empresa falir quando a tecnologia prometida foi exposta como um fracasso.
Os exames revolucionários com resultados precisos com apenas algumas gotas de sangue dos pacientes na verdade foram prometidos como base em apenas centenas de testes como ensaio, e com acuracidade questionável. Os resultados vinham de laboratórios tradicionais, algo não revelado ao público.
Os advogados de Holmes pediram a Davila que deixasse Holmes permanecer em liberdade sob fiança enquanto ela apela - o que o juiz disse que decidirá posteriormente. Ele ordenou que Holmes se apresentasse na prisão em abril de 2023, embora o local ainda não tenha sido determinado.
Holmes compareceu ao tribunal com um vestido e um casaco pretos, visivelmente grávida, e sentou-se ereta em sua cadeira ao lado de seus advogados, sem tocar no encosto de seu assento. Ao ouvir sua punição, o parceiro de Holmes, Billy Evans, a abraçou onde ela estava sentada. Ela então se levantou para abraçar seus pais, que, junto com Evans, estavam sentados na primeira fila do tribunal atrás dela.
Antes da decisão da sentença, Holmes dirigiu-se ao tribunal em lágrimas, pedindo desculpas às vítimas e investidores e dizendo que assumiu total responsabilidade pela Theranos - embora não admitisse nenhum crime.
“Estou arrasada com minhas falhas”, disse Holmes. “Olhando para trás, há tantas coisas que eu faria diferente se tivesse a chance. Tentei realizar meu sonho rápido demais.”
Um júri condenou Holmes em janeiro por quatro acusações de fraude e conspiração depois que os promotores apresentaram evidências e depoimentos de testemunhas de que ela sabia que os dispositivos de teste de sangue que ela apresentou como revolucionários para fundos de venture capital e investidores ricos não funcionavam de fato. As acusações levaram a uma pena máxima de prisão de 20 anos.
O juiz disse que tratará da restituição das vítimas em uma data futura. O governo propôs que Holmes fosse condenada a pagar US$ 800 milhões a investidores que perderam dinheiro na Theranos, enquanto Davila calculou as perdas atribuídas à fraude de Holmes em US$ 121 milhões.
Seus advogados disseram que ela “essencialmente não tem bens”. Um relatório antes da sentença do escritório de liberdade condicional do governo disse que seus “modestos ativos” ficam aquém dos US$ 450 mil em empréstimos para fechar seu acordo civil com reguladores de valores mobiliários (a SEC, equivalente à CVM nos EUA) e mais de US$ 30 milhões em compromissos por taxas legais e honorários.
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