Exclusivo: Lemon Cash vendeu posição em fundo da FTX dias antes do colapso

Questionamento sobre a solidez das reservas foi o motivo da decisão da fintech argentina, conforme apurado pela Bloomberg Línea

Colapso da FTX balançou ecossistema cripto
18 de Novembro, 2022 | 02:45 PM

Bloomberg Línea — O colapso do FTX continua abalando o ecossistema cripto global. O colapso da exchange provocou uma nova crise de confiança que logo se espalhou para outras empresas, provocando um sell-off que derrubou ainda mais os preços de criptoativos e levou as empresas a restringir os saques de depósitos para estancar o sangramento.

A Lemon Cash, uma das principais empresas argentinas do setor, retirou o capital que havia investido na Alameda, o fundo da FTX, em 3 de novembro, dias antes de a empresa liderada por Sam Bankman-Fried iniciar o processo de falência, conforme apurado pela Bloomberg Línea.

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Uma publicação do site especializado em cripto Coindesk, que questionava a solidez das reservas da FTX, foi o motivo da decisão da Lemon – segundo confirmado por uma fonte com conhecimento direto do assunto, que pediu para não ser identificada.

A Bloomberg Línea também confirmou que a Lemon divulgará nesta sexta-feira (18) uma prova de reservas, semelhante à apresentada pela Buenbit, certificada por uma auditoria externa. Com isso, a empresa tentará assegurar aos clientes que não corre riscos de liquidez, mesmo após a divulgação de que a empresa investia depósitos de clientes através da Alameda.

Veja a seguir a prova de reservas à qual a Bloomberg Línea teve acesso exclusivo:

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Lemon by Tomás Carrió on Scribd

Parte disso já havia sido antecipado pelo CEO da Lemon Cash, Marcelo Cavazzoli, no domingo passado (13). Em sua conta no Twitter, ele descreveu a queda da FTX como “notícia muito triste” que representa “um grande golpe na confiança” no setor e enfatizou que o colapso da FTX não afetará os usuários da fintech que ele lidera, pois “não há fundos na FTX ou na Alameda”.

O executivo da empresa acrescentou até mesmo que “depósitos em qualquer moeda são líquidos e disponibilizados para trading e saque quando quiserem”, e detalhou que os usuários “podem continuar a usar a Lemon normalmente”. Ele acrescentou que “inclui a compra e venda de criptoativos, swaps, depósitos e saques, uso do cartão e qualquer outra coisa que quiserem”.

Mas para tentar trazer ainda mais paz de espírito, Cavazzoli havia adiantado que a empresa já estava trabalhando em uma Prova de Reserva com uma auditoria externa “para mostrar, de forma transparente, tanto o ativo como o passivo” da Lemon Cash.

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Saque de fundos da FTX

Por que a Lemon estava sob escrutínio e por que ela deveria tentar levar paz de espírito para seus usuários? Porque, de acordo com um usuário nas redes sociais, os Termos e Condições da Lemon Cash (T&C) reconheciam os investimentos da empresa na FTX. Mas esses termos e condições logo foram substituídos e hoje a FTX não aparece mais neles. Cavazzoli respondeu também por suas mídias sociais.

“Os fundos dos usuários não estão expostos à FTX ou à Alameda. Essa captura de tela mostra uma versão antiga onde a consideramos como uma possibilidade”, disse. No dia seguinte, em sua publicação no Twitter, ele acrescentou: “Por que a FTX e o Alameda estavam então nos T&Cs? Eles eram uma das múltiplas opções de investimento por trás do Lemon Earn (finanças centralizadas e descentralizadas) e em algum momento foram utilizados, assim como outras opções”.

Mas o vínculo foi cortado no início de novembro, quando a Lemon Cash decidiu eliminar sua posição na Alameda Research, a plataforma comercial quantitativa que Bankman-Fried havia lançado em homenagem ao nome de sua cidade natal na Califórnia.

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Tudo começou em 2 de novembro, com a publicação de um artigo no site da Coindesk. Isso levou a equipe comercial da Lemon a analisar os riscos e a empresa decidiu retirar os fundos, um processo concluído entre 5 e 6 de novembro, poucos dias antes do colapso da FTX.

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Tomás Carrió

Tomás Carrió, jornalista especializado em economia e finanças. Trabalhou para os jornais El Cronista e La Nación e é colunista de economia da Radio Milenium. Licenciado em Comunicação Social (Universidad Austral) e Mestre em Jornalismo (Universidade Torcuato Di Tella).

Francisco Aldaya

Jornalista argentino com 10 anos de experiência. Francisco cobriu o setor financeiro da América Latina na S&P Global Market Intelligence e também trabalhou nas seções de economia e política do Buenos Aires Herald. Ele também contribuiu para o Buenos Aires Times.