Bloomberg Línea — A proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa do Mundo do Catar e no seu entorno é uma notícia negativa para a AB Inbev (BUD), mas deve gerar um impacto insignificante para as previsões das vendas trimestrais da companhia. No caso da Ambev (ABEV3), não haverá efeitos.
A razão é que o principal foco na aposta no megaevento do futebol é o alcance global de suas marcas nas transmissões televisivas dos jogos, o que amplia o consumo de suas bebidas nos maiores mercados. A avaliação foi feita pelo analista José Eduardo Daronco, da Suno Research, à Blomberg Línea.
A Budweiser é a cerveja oficial da Copa do Mundo desde 1985. Para a edição deste ano do maior torneio esportivo do planeta, lançou a sua campanha de marketing de maior abrangência, em mais de 70 países.
As ações da AB Inbev subiam 0,50% na Bolsa de Nova York por volta das 15h30 (horário de Brasília). Na B3, as ações da Ambev são negociadas em alta desde o começo do pregão. Os papéis registravam alta de 1,30%, cotados a R$ 15,60, no mesmo horário.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, disse à Bloomberg Línea que a decisão da Fifa afeta a AB Inbev, pois o escopo da Ambev é a América Latina e o Canadá.
“A Inbev tem um contrato de exclusividade com a organização da Copa, e não haverá mais venda. Já foi sinalizado uma indenização por isso”, disse Soares.
Ao comentar o resultado financeiro do terceiro trimestre no último dia 27 de outubro, o CEO da Ambev, Jean Jereissati, avaliava que a companhia está hoje melhor posicionada para potencializar seu resultado em comparação com a Copa do Mundo anterior, de 2018, pois diversificou seu portfólio e tem melhorado também as vendas de sua divisão NAB (Bebidas Não Alcoólicas).
Uma das apostas da gigante de bebidas para a Copa é a Budweiser zero, que surpreendeu nos testes com consumidores, segundo o executivo. Essa bebida estará liberada nos estádios e nos arredores.
O aumento de gastos com marketing em ações de ativação para a Copa do Mundo ajudaram a derrubar o lucro operacional, medido pelo Ebitda, da AB Inbev no terceiro trimestre, segundo o comunicado com o resultado.
Por decisão do Catar, o mais importante campeonato de futebol só permitirá a venda de bebidas alcoólicas em áreas oficiais de transmissão dos jogos no país, chamadas de FIFA Fan Festival. Haverá venda de cerveja com álcool dentro do estádio apenas em áreas de hospitalidade mais caras e de acesso restrito. Não há clareza das regras sobre tendas de hospitalidade do lado de fora dos estádios.
As expectativas de analistas quanto ao reforço nos volumes de cerveja comercializados pela AB Inbev e pela Ambev não têm como base as vendas do produto nesse país de maioria árabe localizado no Oriente Médio, mas na repercussão mundial do evento em promover encontros de torcedores, principalmente no Ocidente, onde ficam seus principais mercados.
“Esperamos um bom momento da indústria de cerveja e não alcoólicos, especialmente no quarto trimestre, impulsionado pelo clima favorável e pela Copa do Mundo. Prevemos que a AmBev aproveite esse momento favorável para recuperar margens”, analisou recente relatório da XP sobre a companhia.
O analista da Suno disse que o volume de vendas de bebidas pela Ambev in loco vai ser marginal. “O impacto da Copa para o resultado da Ambev não virá do Catar, mas do Brasil e de outros países que param para assistir aos jogos e beber com os amigos”, observou Daronco.
A Ambev não se manifestou ainda sobre a decisão do Catar de proibir a venda de bebidas alcoólicas no entorno dos estádios. A Anheuser-Busch InBev (AB InBev), controladora da Ambev, também não respondeu ainda ao pedido de comentário.
Restrições no Brasil
No mercado brasileiro, a Ambev enfrenta restrições à sua estratégia comercial de vendas de cerveja relacionada à Copa. No último dia 25 de outubro, o Tribunal do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) julgou os recursos da Ambev e da Heineken em inquérito administrativo que investiga possível infração à ordem econômica no mercado de produção e distribuição de cervejas.
Com a decisão, a Ambev continua proibida de assinar novos contratos de exclusividade e de renovar os contratos vigentes em determinadas regiões de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF) até o final da investigação.
O inquérito foi instaurado pela Superintendência-Geral do Cade, em março de 2022, após a Heineken Brasil acionar a autoridade concorrencial brasileira alegando que a Ambev estaria abusando de sua posição dominante por meio de contratos de exclusividade nos canais frios, que são pontos de venda de cerveja gelada, para consumo imediato no local, como bares e restaurantes.
No dia 29 de setembro deste ano, o Cade concedeu medida preventiva para impedir que fossem assinados novos contratos de exclusividade pela Ambev, relativos a vendas de cerveja em bares, restaurantes e casas noturnas, até o final da Copa do Mundo do Catar, em 18 de dezembro.
Com a medida, apenas 20% dos estabelecimentos poderiam ter contratos de exclusividade com a Ambev. Como cabia recurso em relação à medida preventiva, a Ambev recorreu e teve seu recurso parcialmente aceito, com os termos da nova decisão também afetando sua concorrente.
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