Catar proíbe a venda de bebidas alcoólicas em estádios às vésperas da Copa

Decisão reverte a decisão de permitir que a AB Inbev venda a cerveja Budweiser durante as partidas e é mais uma reviravolta na posição do governo do Catar

Visitantes dentro de un palco ejecutivo durante una visita al estadio de fútbol Al Thumama en Doha, Qatar.
Por Simone Foxman - Adveith Nair
18 de Novembro, 2022 | 08:26 AM

Bloomberg — As autoridades do Catar proibiram a venda de álcool em seus estádios da Copa do Mundo, revertendo drasticamente a decisão de permitir que a Anheuser-Busch InBev NV (BUD) venda a cerveja Budweiser nos locais das partidas. A informação acaba de ser publicada no site da FIFA nesta sexta-feira (18), a dois dias do começo da maior competição esportiva do planeta.

A decisão resultará na mudança das tendas que servem bebidas alcoólicas para mais longe dos estádios, disse à Bloomberg News uma pessoa que teve conhecimento da mudança antes de ela ser oficializada. O torneio, normalmente o maior evento esportivo do mundo e uma década de planejamento, começa no domingo (20) com a partida entre o Catar e o Equador. A InBev pagou milhões de dólares à FIFA pelos direitos exclusivos de venda da Budweiser na Copa do Mundo.

A decisão de proibir a venda de álcool nos estádios é uma reviravolta em relação à posição anterior do Catar. O Comitê Supremo de Entrega e Legado havia prometido que bebidas alcoólicas estariam disponíveis em “zonas de fãs” - as FIFA Fan Fests - fora dos estádios e outros locais.

A Fifa divulgou um comunicado confirmando que o consumo de bebida alcoólica só será permitido nas FIFA Fan Fests e não dentro dos estádios. “Os organizadores do torneio agradecem a compreensão da AB InBev”, disse a FIFA em um tweet.

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Um porta-voz da InBev não foi encontrado para comentar. A FIFA e a AB InBev disseram anteriormente que estão tentando criar uma atmosfera “respeitosa” com os costumes e tradições do Catar, ao mesmo tempo em que disponibilizam álcool para quem quisesse.

A venda de bebidas alcoólicas é uma das maiores tradições de grandes eventos esportivos como Copas do Mundo e Olimpíadas: milhares de turistas consomem cerveja antes, durante e depois dos jogos, e não é por acaso que as maiores fabricantes do mundo se associam a tais competições.

O torneio já foi cercado de controvérsias, desde complicações de agenda devido ao calor do verão no Catar até o tratamento de trabalhadores imigrantes. As dificuldades podem aumentar quando os torcedores chegarem e enfrentarem as normas locais, como códigos de vestimenta que exigem que homens e mulheres cubram seus corpos dos ombros aos joelhos em muitos espaços públicos.

A disponibilidade de álcool tem sido um ponto crítico em torno da decisão da Fifa de realizar o espetáculo de futebol quadrienal em um país muçulmano conservador, onde demonstrações públicas de afeto e embriaguez são tabus.

A marca Budweiser, da Ab InBev, é a cerveja oficial do torneio, sendo patrocinadora da Copa do Mundo desde 1985. Em setembro, lançou sua campanha oficial da Copa do Mundo da Fifa em mais de 70 países, o maior alcance em 146 anos de história da marca.

O Catar proíbe a venda de bebidas alcoólicas em quase todos os restaurantes não associados a um hotel ou resort. Com a permissão do empregador, os residentes estrangeiros também podem comprar garrafas de destilados, cerveja e vinho para consumo doméstico em um único depósito administrado pela Qatar Airways nos arredores de Doha.

Os organizadores do Catar inicialmente disseram que queriam que os jogos da Fifa fossem livres de álcool, mas voltaram atrás. Antes da última reversão, algumas FIFA Fan Fests foram definidas para vender “bebidas internacionais”. Os torcedores poderiam comprar cerveja Budweiser dentro do perímetro do estádio - em áreas designadas para o consumo de cerveja, até três horas antes e uma hora depois de cada partida, mas não podiam tomá-las nas arquibancadas.

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Apesar das restrições, a AB Inbev esperava que mais cerveja fosse consumida durante o torneio do que normalmente aconteceria durante um ano inteiro no país, disse Peter Kraemer, diretor de suprimentos da AB InBev, à Bloomberg News.

Sem cervejarias na região, a empresa teve que enviar seu produto para o Catar por frete marítimo e, em seguida, encontrar um espaço de armazenamento refrigerado para se proteger do clima quente do país, com temperaturas acima de 35º Celsius até o final de outubro.

As negociações anteriores se concentraram em disponibilizar a cerveja Bud Light ou outro produto Budweiser com baixo teor alcoólico dentro dos locais das partidas, enquanto a FIFA e a InBev pressionavam por mais concessões. Eles obtiveram sucesso no passado - o Brasil aprovou a chamada “Lei Budweiser” para derrubar as leis locais que proibiam a venda e o consumo de cerveja nos estádios para a Copa do Mundo de 2014. Na Copa da Rússia, em 2018, as autoridades russas flexibilizaram temporariamente a proibição da publicidade de cerveja durante os jogos.

-- Atualizada às 09h15 para incluir a confirmação da FIFA e adicionar mais contexto.

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