Mudança fiscal pode apagar chance de corte da Selic, diz Mário Mesquita

Economista-chefe do Itaú disse à Bloomberg News que a grande dúvida no radar de investidores é a duração da dispensa de cumprimento de regras pelo novo governo

Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, não vê o teto de gastos completamente removido, mas, sim, modificado
Por Barbara Nascimento e Leda Alvim
17 de Novembro, 2022 | 03:45 PM

Bloomberg — Se a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva insistir em um waiver - uma dispensa fiscal temporária do cumprimento de regras - muito maior do que o estimado pelo mercado, isso poderia não apenas levar a dívida bruta para próximo do equivalente a 80% do PIB como também puxar a inflação para cima e fazer com que a chance de um corte de juros próximo “quase desapareça”, disse Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú (ITUB4), em entrevista à Bloomberg News.

No cenário de um waiver de R$ 175 bilhões, como sinalizado, o economista estima que a dívida iria para um patamar equivalente a 79,2% do PIB, o déficit para 2% do PIB, a inflação ao ano para 5,6% e o dólar para R$ 6 no caso de o mercado reagir muito mal e elevar muito o prêmio de risco.

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“As chances de um corte nos juros quase desaparecem”, disse. Nesse caso, ele estima os juros chegando no fim de 2023 a 13% ao ano, ou seja, apenas 75 pontos base a menos do que o patamar atual.

Mesquita afirmou que a grande dúvida no radar do mercado agora é o tamanho do problema em termos de extensão: se o pedido para aumento dos gastos fora do teto vai ficar restrito a 2023, se será restrito aos próximos quatro anos ou se não terá validade para acabar.

Mesquita não vê o teto de gastos completamente removido, mas sim modificado. “O Brasil não vai voltar ao teto originalmente proposto, mas também não vai mudar para um regime fiscal de aumento irresponsável do gasto”, disse, ponderando que o retorno para um regime de metas fiscais ou a remoção de gastos sociais, como o Bolsa Família, do teto de gastos - conforme sinalizado - é uma má sinalização sobre o comprometimento fiscal do país.

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O economista-chefe do Itaú também não vislumbra agora um cenário em que o Banco Central tenha que aumentar juros, embora parte do mercado tenha começado a precificar uma taxa de 14% em 2023, na semana passada. Mas, se o cenário piorar a ponto de a autoridade monetária se ver diante da necessidade de ter que aumentar os juros, ele é categórico em afirmar que uma alta de 0,25 ponto percentual não deve ser a solução e o BC “terá que subir bem mais que 14%”.

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