Bloomberg — Enquanto crescem as dúvidas sobre se a Rússia foi a autora do disparo contra a Polônia e, em caso afirmativo, se foi um acidente, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os principais líderes europeus pedem cautela em torno das deduções sobre o episódio.
Um foguete atingiu um vilarejo polonês a cerca de 6 quilômetros da fronteira com a Ucrânia, matando duas pessoas. O incidente ocorre em um momento em que as tensões já estão altas com a Rússia, em guerra com a Ucrânia desde fevereiro. Moscou disparou uma bateria de mísseis contra a infraestrutura ucraniana no início do dia, causando interrupções de energia em todo o país.
Alguns líderes sugeriram inicialmente que o foguete que pousou na Polônia havia sido lançado pela Rússia, mas na manhã de quarta-feira a imagem era menos clara, com alguns até sugerindo que poderia ter sido a defesa antimísseis da Ucrânia desviando um projétil russo do curso.
Vários diplomatas envolvidos no processo disseram que, enquanto as discussões estão em andamento, parece menos provável que a Polônia recorra ao Artigo 4 da Carta da OTAN, o que iniciaria uma discussão dentro da aliança militar antes de qualquer resposta potencial.
Acrescentando uma nota de incerteza, no entanto, o ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, disse que foi informado por seu colega polonês que Varsóvia pretende acionar a cláusula ainda nesta quarta-feira.
Os embaixadores da OTAN se reúnem na manhã desta quarta-feira. Varsóvia tomará uma decisão em função das consultas aos aliados, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
Não está claro quem realmente disparou o foguete que atingiu o vilarejo, de acordo com Agnieszka Scigaj, uma ministra do gabinete do primeiro-ministro polonês. Mas ela acrescentou que a Ucrânia também usa o tipo de projétil que caiu.
Questionado se o foguete havia sido lançado da Rússia, Biden disse a repórteres em Bali, onde participava de uma cúpula do Grupo dos 20, que “há informações preliminares que contestam esta hipótese”. Dada a trajetória do foguete, é improvável que tenha sido disparado da Rússia, acrescentou o mandatário, “mas veremos”.
O tom de cautela também está no discurso do chanceler alemão Olaf Scholz, que pediu uma investigação completa do “terrível incidente”, enquanto um alto funcionário francês disse que ninguém queria uma escalada com a Rússia que pudesse sair do controle. Identificar que o míssil foi fabricado na Rússia não provaria quem o lançou, disse esta autoridade.
Fontes do governo norte-americano disseram à Associated Press que as descobertas iniciais apontavam para o foguete sendo disparado por forças ucranianas contra um projétil russo. Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional disse que não comentaria a informação.
Uma autoridade de um país do Grupo dos Sete disse que é possível que os militares da Rússia tenham errado um alvo pretendido dentro da Ucrânia, ou que uma investida da Ucrânia tenha desviado o foguete do curso. Haveria pouco incentivo para a Rússia atacar deliberadamente a Polônia, disse a pessoa, dado o risco de uma resposta da OTAN.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, os membros da aliança militar expressaram repetidamente preocupações sobre serem implicados diretamente no conflito bélico. Embora tenham apoiado a Ucrânia com armas e ajuda financeira, a Europa e os EUA estabeleceram limites ao enviar sistemas de mísseis de maior alcance e caças avançados. Também rejeitaram os apelos da Ucrânia para estabelecer uma zona de defesa aérea em seu espaço aéreo.
(Tradução Michelly Teixeira)