Como investidores têm se protegido dos sinais de gastança do novo governo

Vender dólar contra o real e apostar contra a bolsa brasileira tem sido um trade combinado favorito dos últimos pregões

Operadores estão aparando apostas em cortes de juros na maior economia da América Latina, levando a uma alta das taxas ao longo da curva de juros futuros
Por Vinícius Andrade e Davison Santana
16 de Novembro, 2022 | 03:53 PM

Bloomberg — A perspectiva de um aumento dos gastos públicos e de inflação mais alta sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva elevou o apelo de um trade combinado de Brasil: vender o dólar contra o real e, ao mesmo tempo, apostar contra a bolsa local.

Desde que venceu a eleição de 30 de outubro, Lula dobrou a aposta em seus planos de expandir programas sociais e estimular o crescimento do consumo, decepcionando os investidores que esperavam um tom mais moderado após o pleito. Os operadores estão aparando apostas em cortes de juros na maior economia da América Latina, levando a uma alta das taxas ao longo da curva de juros futuros.

As expectativas de que a taxa Selic permanecerá em níveis altos por mais tempo podem pressionar os múltiplos no mercado acionário brasileiro, ao mesmo tempo em que alimentam entradas de dólares de operadores de carry, que tomam empréstimos em dólares para investir em títulos brasileiros de maior rendimento.

“O Brasil caminha para um novo arcabouço fiscal e provavelmente terá de lidar com juros mais altos por mais tempo”, disse Gustavo Brotto, diretor de investimentos da Greenbay Investimentos. A posição “vendida em bolsa e vendida em dólar” é atualmente a maior do fundo, segundo Brotto.

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A volatilidade dos ativos brasileiros tem sido alta nas últimas sessões em meio a notícias sobre como o novo governo planeja contornar o teto de gastos para cumprir as promessas de campanha de Lula. Atrasos no anúncio oficial dos planos - inicialmente esperados para a semana passada e que poderiam ser apresentados na quarta-feira - só deixaram os investidores mais nervosos.

A proposta em estudo prevê a exclusão de R$ 175 bilhões da regra do teto de gastos, que limita o crescimento dos gastos do governo e é vista pelos investidores como a principal âncora fiscal do Brasil. A equipe também estava considerando uma alternativa mais conservadora, pedindo a retirada de cerca de R$ 130 bilhões do teto no ano que vem.

A CNN Brasil informou na quarta-feira (16) que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sinalizou a Lula que concordaria em deixar as despesas relacionadas a um programa de assistência social fora das regras do teto de gastos por quatro anos. Descartar a regra inteiramente enfrentaria a resistência do Congresso, disse ele.

O dólar avançava na tarde de quarta-feira e chegou a reverter perdas de mais cedo e com o real com desempenho abaixo da maioria dos pares emergentes.

Vender ações brasileiras e apostar em um fortalecimento do real está longe de ser um trade novo, tendo aparecido diversas vezes, inclusive durante o primeiro mandato de Lula no início dos anos 2000 e em 2010-2011, quando sua sucessora Dilma Rousseff assumiu o cargo.

“Entre os ativos domésticos, o real é o principal candidato a performar melhor em um governo PT”, disse Fabricio Taschetto, sócio-fundador e diretor de investimentos da Ace Capital.

No início deste mês, a Legacy Capital disse a clientes que tinha aberto uma posição vendida em ações brasileiras e em dólar contra real.

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“As variáveis macroeconômicas devem se ajustar a esta nova configuração de elementos de política econômica,” disse a Legacy, em carta a cotistas. “Esperamos níveis de inflação e juros mais elevados, e taxa de câmbio mais apreciada.”

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