Embraer reduz prejuízo no 3º tri e levanta R$ 2,2 bi do BNDES para exportações

Fabricante de jatos eleva projeção de fluxo de caixa livre para US$ 150 milhões, prevendo maior número de entregas de aeronaves no quarto trimestre

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Bloomberg Línea — A Embraer (EMBR3) teve um prejuízo de R$ 160,4 milhões no terceiro trimestre, uma redução de 31,5% em 12 meses. O dado reflete o resultado líquido atribuído aos acionistas. O prejuízo por ação caiu de R$ 0,32 para R$ 0,22 na base anual. Já o prejuízo líquido ajustado do terceiro trimestre ficou em R$ 93,8 milhões, queda de 47,8% na comparação com igual período do ano passado (perda de R$ 179,7 milhões).

A divulgação do resultado coincide com o anúncio de que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou financiamento à Embraer para a produção e exportação de aeronaves comerciais fabricados pela empresa brasileira.

A operação, da ordem de R$ 2,2 bilhões, se dará por meio do BNDES Exim Pré-embarque, linha de crédito direto do banco para produção de bens nacionais destinados à exportação, e reforça a captação de crédito rotativo anunciado recentemente pela Embraer de US$ 650 milhões com um conjunto de instituições financeiras estrangeiras, segundo o BNDES.

Uma linha de crédito rotativo de até US$ 650 milhões com 14 instituições financeiras foi assinada para aumentar a liquidez da Embraer e melhorar a estrutura de capital, acrescentou a empresa.

Com isso, a fabricante de jatos conseguiu reduzir endividamento no terceiro trimestre. A dívida total encolheu R$ 2,918 bilhões em 12 meses, somando R$ 6,893 bilhões em setembro.

“Isso está em linha com a estratégia de melhoria de nossa estrutura de capital e gestão de passivos”, justificou a companhia, em comunicado.

Já a margem bruta consolidada foi de 19,1%, levemente a cima dos 18,9% há um ano. Nos nove meses acumulados do ano, a margem bruta atinge 20,9%, acima de 15,9% há 12 meses.

Defesa em queda

A receita líquida consolidada alcançou R$ 4,871 bilhões (US$ 929 milhões) entre julho e setembro, queda de 3% em 12 meses. Isso ocorreu devido à receita menor da unidade de defesa & segurança e parcialmente compensada por maiores receitas na aviação comercial, executiva e serviços & suporte, explicou a Embraer.

A receita de US$ 929 milhões veio 16% abaixo do consenso da FactSet e 7% abaixo de nossa estimativa”, avaliou o banco americano Goldman Sachs, em relatório assinado por Noah Poponak, Gavin Parsons e Anthony Valentini. O GS tem recomendação de compra para o papel da Embraer com preço-alvo de US$ 16 (12 meses).

A ADR (recibo negociado em NY) fechou a US$ 10,38 na última sexta-feira e sobe 1,16% para US$ 10,50 na pré-abertura dos negócios desta segunda-feira. Na B3, o papel recua 2,15% para R$ 13,63 por volta das 10h50.

A companhia tem tido percalços nas encomendas do segmento militar. No mês passado, a FAB (Força Aérea Brasileira) confirmou uma redução no número de compra de cargueiros militares KC-390, de 22 para 19 unidades, para adequar-se a condições orçamentárias. Em novembro do ano passado, a FAB já havia cortado as encomendas de 28 para 15, mas a Embraer ameaçou tomar medidas jurídicas e, em fevereiro, houve um acordo para manter 22 encomendas, depois revisada para baixo em outubro.

A Embraer anunciou que o CEO de sua divisão de Defesa, Jackson Schneider, deve deixar a empresa. O contrato do executivo termina em abril de 2023. Ele será substituído por Bosco da Costa Junior, atual VP de vendas de defesa global. “A notícia é neutra para a ação da Embraer. Não esperamos nenhuma mudança no planejamento estratégico da empresa”, avaliam os analistas Victor Mizusaki (Bradesco BBI) e Wellingon Lourenço (Ágora Investimentos), em nota. Eles mantiveram a recomendação de compra para o papel com preço-alvo de R$ 30.

Maior fluxo de caixa

A Embraer elevou também, nesta segunda-feira, sua projeção (guidance) de FLC (fluxo de caixa livre) para o ano de 2020. Inicialmente, o valor estimado era de “US$ 50 milhões ou mais”. A previsão atualizada agora aponta “US$ 150 milhões ou mais”.

A revisão do guidance se deu porque a companhia diz que, nos primeiros nove meses de 2022, registrou fluxo de caixa livre acumulado superior às suas expectativas iniciais, principalmente “em decorrência de avanço nas margens operacionais, melhor gestão do capital de giro, eficiência tributária”, entre outros fatores.

“A Embraer terá maior concentração de entregas e receitas no quarto trimestre quando comparada à sazonalidade dos demais trimestres do ano”, apontou a fabricante de jatos, em fato relevante.

No terceiro trimestre, o FCL ficou negativo em R$ 586,6 milhões, explicado principalmente pela necessidade de capital de giro devido à maior concentração de entregas no quarto trimestre, o que reverterá o caixa para uma tendência positiva, explicou a companhia no material de divulgação do balanço.

Estímulo

No último dia 7 de novembro, a Embraer já havia divulgado seu relatório de entregas de aeronaves no terceiro trimestre, indicando que deve fechar o ano de 2022 ao patamar de entregas de aeronaves observado em 2019, antes da pandemia.

A crise sanitária mundial foi citada nos comentários do BNDES sobre a liberação de R$ 2,2 bilhões.

“As operações de crédito são importantes para retomada da produção de aeronaves pela Embraer nos patamares pré-pandemia de covid-19 e também reforçam a parceria estratégica entre o BNDES e a Embraer iniciada em 1997, consolidando o apoio do BNDES à indústria aeronáutica e à exportação de aeronaves brasileiras”, destacou Bruno Aranha, diretor do BNDES”, em nota.

O CFO da Embraer, Antonio Carlos Garcia, diz que os recursos captados com o grupo de instituições financeiras, incluindo o BNDES, vai contribuir para a execução de seu plano de crescimento.

“A longevidade da parceria entre Embraer e BNDES ilustra a solidez dessa relação que estimula as exportações do Brasil e beneficia a sociedade como um todo. Em conjunto com outras ações que estamos realizando junto às instituições financeiras brasileiras e internacionais esta operação reforça nossa credibilidade para acesso a recursos financeiros que vão contribuir para a execução do nosso plano de crescimento”, disse Antonio Carlos Garcia, CFO da Embraer, na nota do BNDES.

As ações da Embraer ainda acumulam queda de 43,88% em 2022. A companhia tem um valor de mercado de R$ 10,3 bilhões. Analistas avaliam que o papel está barato.

Vemos a empresa sendo negociada em 5,8x 2023 EV/EBITDA, abaixo de sua média histórica de 7,9x. Além disso, ao excluir a participação da Embraer na Eve de cerca de US$ 2,2 bilhões, vemos os negócios tradicionais da empresa sendo negociados em 1,8x EV/EBITDA em 2023, ou 3,9x se considerarmos um desconto de valuation alinhado com o desempenho de outras empresas eVTOL desde o anúncio da fusão da Eve em 21 de dezembro de 2021, que consideramos excessivamente barato (implicando ainda mais potencial à medida que o segmento de aviação comercial da Embraer continue a se recuperar)”, analisou um recente relatório da equipe da XP, assinado pelos analistas Lucas Larghi e Pedro Brun.

(Atualiza às 12h50 com comentário de analistas)

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