Bitcoin se descola dos mercados globais para oscilar por conta própria

O contraste entre a queda das criptomoedas e a efervescência das ações evidencia a mudança de rumo para os criptoativos

Foto: FreePik
Por Garfield Reynolds
14 de Novembro, 2022 | 06:46 AM

Bloomberg — A agitação espalhada entre as criptomoedas pelo colapso da plataforma de negociação FTX, de Sam Bankman-Fried, está fraturando o vínculo que um dia tiveram com outros ativos financeiros, um sinal de que a influência de Bitcoin nos mercados globais poderia estar diminuindo.

A Bitcoin perdeu 23% na semana passada, sua pior queda desde junho, ao mesmo tempo em que o índice S&P 500 subiu 5,9%. Isso ajudou a enfraquecer a correlação entre ambos para a mais baixa desse ano, segundo uma pesquisa que leva em conta 20 dias de operações. A brecha entre o Bitcoin e o Nasdaq tem sido a maior desde 2020.

Enquanto as principais divisas cripto subiam na manhã desta segunda-feira (+2,19% às 6h46 de Brasília, a US$ 16.739), os ganhos pouco efeito surtiam no sentimento geral do mercado, amortecido por comentários do governador do Federal Reserve (Fed) Christopher Waller de que os legisladores ainda tinham “um caminho a seguir” com a subida das taxas de juros.

”A ideia de usar criptomoedas como um jogo beta de alto risco está desaparecendo, porque há maneiras mais fáceis de jogar em outros lugares que não sofrem o mesmo risco sistêmico”, disse Chris Weston, chefe de pesquisa do Pepperstone Group. “É uma questão estrutural sobre a arquitetura real do sistema de moeda criptos e quanta confiança você pode ter nele. Quem será o próximo é a pergunta nos lábios de muitas pessoas”.

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Brecha no desempenho semanal do descendente Bitcoin e o ascendente Nasdaq foi a maior desde 2020

A ideia de que Bitcoin poderia representar uma parte interessante de um portfólio diversificado de ativos de risco está se desgastando com as perdas massivas geradas pela revelação de que até mesmo o FTX, que era consideradada um dos nomes mais proeminentes em criptoativos, sofreu um baque. Isso está muito longe do otimismo do início deste ano, quando Bridgewater estimou que 5% dos Bitcoins em circulação eram detidos por investidores institucionais.

A última queda nas divisas cripto veio quando os investidores já estavam se cansando do setor e a queda dos preços diminuiu a presença de moedas virtuais. O valor total do mercado de todas as criptodivisas caiu mais de 70% em relação ao recorde histórico de quase US$ 3 trilhões alcançado há um ano, de acordo com o site CoinGecko. O valor atual de US$843 bilhões, segundo o rastreador, representa agora menos de 1% do mercado mundial de ações.

As ações caíram 16% neste período, mas um ressurgimento do apetite de risco, impulsionado pela esperança de um ritmo mais lento de aumento das taxas de juros pelo banco central dos Estados Unidos, aumentou as ações em mais de US$ 13 trilhões desde o seu ponto mais baixo em 12 de outubro.

O forte contraste entre a queda das moedas cripto e a efervescência das ações enuncia a rápida reviravolta de uma classe de ativos que há menos de um ano estava prestes a conquistar os investidores mais convencionais.

O desempenho relativamente estável do ouro ofusca o mergulho do Bitcoin

Em 2021, o estrategista da JPMorgan Chase & Co. Nikolaos Panigirtzoglou escreveu que o bitcoin poderia teoricamente chegar a US$ 146.000 no longo prazo, deslocando o ouro. Uma pesquisa da PWC em abril constatou que 42% dos fundos de hedge de criptomoedas previam que o Bitcoin estaria cotado entre US$ 75.000 e US$ 100.000 até o final de 2022.

(Tradução de Michelly Teixeira)