Bloomberg — O bilionário e novo dono do Twitter (TWTR) Elon Musk levantou a possibilidade de falência da empresa durante uma videoconferência com funcionários na última quinta-feira (10). A fala surpreendeu, visto que a empresa foi comprada por Musk por US$ 44 bilhões apenas duas semanas atrás, com US$ 13 bilhões financiados em empréstimos por bancos de Wall Street.
A afirmação pode não ser nada mais do que uma estratégia, já que o homem mais rico do mundo tem se movido agressivamente para remodelar a empresa, seja cortando funcionários, sacudindo as operações e removendo algumas “vantagens”, como trabalho remoto e comida grátis.
Mas pouco em relação a Musk ou à sua aquisição do Twitter até agora foi simples. E embora a possibilidade de uma falência no curto prazo seja improvável, seus comentários não devem ser descartados de imediato.
O Twitter assumiu uma enorme carga de dívidas e problemas com anunciantes. Além disso, o setor de tecnologia, em geral, está sob constante pressão, incluindo gigantes como a proprietária do Facebook, a Meta (META). Confira três pontos para entender tudo o que tem acontecido na companhia:
O Twitter está à beira da falência?
Isso parece improvável por enquanto, e a discussão é, na melhor das hipóteses, prematura.
O Twitter tinha US$ 2,68 bilhões em caixa e equivalentes em 30 de junho, além de outros US$ 3,4 bilhões em investimentos de alta liquidez, de acordo com um documento. Mesmo com a nova carga de dívidas da empresa, essa pilha de dinheiro por si só poderia manter os trabalhos funcionando por um bom tempo.
Como o homem mais rico do mundo, Musk também tem muito poder para manter a empresa viva, e ele poderia injetar mais dinheiro no Twitter se as coisas ficarem complicadas. Isso, no entanto, provavelmente exigiria a venda de mais ações da Tesla (TSLA), o que é uma ameaça ao preço das ações da montadora.
Dito isso, mesmo antes das mudanças recentes, a imagem financeira do Twitter já não era boa. Desde 2019, a empresa não tem se mostrado lucrativa no acumulado do ano. Desde a aquisição, Musk disse que houve uma “queda maciça” na receita, pois alguns anunciantes abandonaram a plataforma. Ele também chegou a dizer que a empresa estava perdendo mais de US$ 4 milhões por dia.
O que pode dar errado para o Twitter?
A dívida. Musk emprestou cerca de US$ 13 bilhões de bancos para adquirir o Twitter por meio de um tipo de aquisição alavancada, que é quando o comprador carrega o balanço da empresa com dívidas para ajudar a financiar a compra.
A tática elevou a despesa anual de juros do Twitter para cerca de US$ 1,2 bilhão, ante menos de US$ 100 milhões. Isso é o suficiente para consumir boa parte da receita anual do Twitter, que foi de aproximadamente US$ 5 bilhões em 2021. A situação pode ficar ainda pior, porque as taxas de juros de cerca de metade da dívida não são fixas e tendem a subir com o mercado.
Uma desaceleração econômica, que provavelmente está no horizonte, também faria com que os anunciantes reduzissem seus gastos. Enquanto isso, Musk está traçando um novo curso sobre moderação de conteúdo, o que fez com que outros anunciantes recuassem devido ao medo de que suas marcas pudessem ser prejudicadas.
O que aconteceria se a falência fosse decretada?
Os acionistas arcam com o peso das perdas em caso de uma falência. Isso significa que Musk, junto com uma série de outros apoiadores, provavelmente veria todo o seu investimento em ações de US$ 33,5 bilhões ir a zero.
Como os credores normalmente recebem uma participação na empresa em troca de uma dívida reduzida, Musk provavelmente perderia o controle da empresa também. Normalmente é assim que a falência funciona – e também garante que Musk só tome tal medida como último recurso.
O processo do Chapter 11 destina-se a ajudar uma empresa a se reestruturar, não a sair do negócio. O Twitter poderia, em teoria, renascer das cinzas nesse cenário, mas sob o controle dos bancos que emprestaram recursos à empresa.
Essa é uma situação indesejada para o grupo de sete bancos liderado pelo Morgan Stanley (MS) que nunca teve a intenção de manter a dívida.
Normalmente, eles teriam desfeito seus compromissos de dívida antes que o negócio fosse fechado na forma de títulos e empréstimos alavancados, mas não tiveram a chance de fazê-lo por causa da reversão repentina de Musk para comprar o Twitter e da volatilidade do mercado.
Antes da menção de falência por Musk nesta semana, alguns fundos se ofereceram para comprar uma parte do pacote de empréstimo com desconto de até 60 centavos de dólar. Essa seria uma das reduções mais acentuadas para esses empréstimos em uma década – implicando possíveis perdas profundas para os bancos e que os investidores já estão precificando algum risco de inadimplência.
Os comentários de Musk provavelmente deverão tornar a dívida ainda mais difícil para os bancos venderem a potenciais investidores, que gostariam de ver vários trimestres de bom desempenho antes de se envolverem com a empresa.
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