Bloomberg Línea — A Itaúsa (ITSA4), holding do Itaú Unibanco, cumpriu o prometido em agosto de reduzir sua fatia detida na XP (XP), e vendeu cerca de R$ 1,5 bilhão em papéis da plataforma de investimentos. Os recursos agora devem ser usados para reduzir dívida. A transação foi divulgada em fato relevante nesta quinta-feira (10).
“A alienação impactará positivamente os resultados da Itaúsa do quarto trimestre de 2022 em aproximadamente R$ 680 milhões, líquidos de impostos”, informou a Itaúsa.
Para a agência de classificação de risco Fitch, a estratégia da Itaúsa de desinvestir toda sua participação na XP resultará em “um mix de risco mais equilibrado no médio-longo prazo”.
A venda ocorre após a divulgação do resultado financeiro da XP na última terça-feira (8), quando as ações da plataforma subiram no mercado nova-iorquino, embora ainda acumule baixa da ordem de 30% no ano. A cotação mínima do papel em 52 semanas é de US$ 16,37, enquanto a máxima chegou a US$ 36,35 nesse período. Hoje a ação cai 0,18%, a US$ 19,68
Em agosto, o CEO da Itaúsa, Alfredo Setubal, disse que a venda das ações detidas pela holding no capital da XP poderia ser um alternativa para diminuir o seu nível de endividamento. Na época, a Itaúsa detinha 10,3% de participação remanescente no grupo fundado por Guilherme Benchimol.
Foram vendidas 15,5 milhões de ações da XP (2,79% do capital), sendo 5,5 milhões para a própria XP em uma transação de “block-trade”. Com isso, a Itaúsa totaliza 41 milhões de ações da XP alienadas neste ano. Sobram 35,470 milhões de ações (6,39% do capital total e 2,27% do capital votante).
A venda não altera os termos e condições do acordo de acionistas da XP quanto ao direito de indicar membros ao conselho de administração e comitê de auditoria da plataforma de investimentos.
Em dezembro do ano passado, a Itaúsa fez operação semelhante, vendendo fatia de 1,39% da XP por R$ 1,2 bilhão e projetando ganho de R$ 900 milhões para aquele quarto trimestre.
Com fama de boa pagadora de dividendos, a Itaúsa sinalizou, em agosto, um aumento do “payout” (porcentual do lucro distribuído) para o patamar histórico (em torno de 40% e 50%). A holding já chegou a distribuir até 90%, mas essa fatia do lucro caiu para o mínimo de 25% devido à alta da taxa Selic e da inflação.
A holding programou divulgação do resultado do terceiro trimestre para esta sexta-feira (11) após o fechamento do mercado, enquanto o Itaú anuncia seu balanço na noite desta quinta-feira.
Avaliação de riscos
No último dia 4, a agência de classificação de risco Fitch analisou a situação dos ratings da Itaúsa, destacando a força de seu perfil de negócios, altamente ligado ao de sua principal investida, o Itaú Unibanco, responsável por aproximadamente 80% dos investimentos e 85% do resultado recorrente de equivalência patrimonial das investidas da Itaúsa no primeiro semestre deste ano.
“O sólido perfil de crédito do Itaú Unibanco, particularmente em função de sua liderança no setor bancário privado nacional e de seu modelo de negócios altamente diversificado, adiciona importante elemento de estabilidade para o perfil de crédito da holding. No entanto, a alta exposição da Itaúsa ao setor financeiro doméstico significa que os ratings também são altamente influenciados pela avaliação da Fitch sobre o ambiente operacional bancário, já que um enfraquecimento das condições econômicas do país pode resultar em pressões adicionais sobre os perfis de crédito dos bancos brasileiros”, analisou a Fitch.
No fim de junho, a Itaúsa detinha um portfólio de ativos de R$ 72 bilhões de valor contábil, que, apesar de mais diversificado que o dos últimos anos, é altamente concentrado no Itaú Unibanco, instituição bancária privada líder do país, observou a Fitch.
“Em que pese tal concentração, a Fitch vê como positivo o reposicionamento estratégico da Itaúsa, o qual busca fortalecer seu perfil de negócios através de fontes alternativas de liquidez. A adição de investidas não ligadas ao setor financeiro nos últimos anos, juntamente à intenção estratégica de desinvestir toda a sua participação na plataforma de investimentos XP Inc. resultará em um mix de risco mais equilibrado no médio-longo prazo”, previu a agência de classificação de risco.
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