Dólar dispara após Lula questionar a estabilidade fiscal e o teto de gastos

Em discurso em Brasília, presidente eleito voltou a enfatizar papel social do governo e criticou as regras fiscais do país

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Bloomberg Línea — O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez um discurso a parlamentares aliados no final da manhã desta quinta-feira (10), ao visitar pela primeira vez o QG do governo de transição em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Lula enfatizou promessas feitas durante a campanha, dizendo que sua “missão” no cargo será a de acabar com a fome no país, e fez um discurso voltado para o papel social do novo governo -- sem acenar à responsabilidade fiscal.

“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal neste país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, fazer superávit e fazer teto de gastos?”, disse o presidente eleito, questionando na sequência o motivo de o país ter uma meta de inflação, “mas não de crescimento”.

As falas do presidente repercutiram mal no mercado e a aversão ao risco se intensificou. Por volta das 11h55, logo após o discurso de Lula, o dólar (USDBRL) disparou para R$ 5,32, alta de 2,60%. Na mesma hora, o Ibovespa (IBOV), caía 2,76%, a 110.407,00 pontos.

Os juros futuros também subiram, indicaram uma maior aversão ao risco. Por volta das 13h, os contratos futuros de DI com vencimento em maio de 2023 eram negociados a 13,83%, com alta de 0,095 ponto. Já o contrato com vencimento em outubro de 2026 era negociado a 12,81%, alta de 0,845 ponto.

Em outra fala, Lula disse que “regra de ouro é criança ter o que comer antes de dormir”, em referência à regra que impede que governos se endividem para o pagamento de despesas correntes.

Assim como em sua campanha, Lula voltou a falar sobre a revisão da reforma trabalhista, afirmando que “não se pode viver em um mundo em que os trabalhadores parecem que são microempreendedores, mas que trabalham como se fossem escravos, sem nenhum sistema de seguridade social”, e reafirmou seu compromisso de rediscutir a legislação trabalhista.

Sobre estatais, Lula afirmou que Banco do Brasil e Caixa Econômica não serão privatizados, e que a Petrobras “não será fatiada”. Por volta das 12h30, as ações da Petrobras ON (PETR3) e PN (PETR4) recuavam 1,06% e 2,08%.

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