São Paulo — O Banco do Brasil (BBAS3) vai distribuir R$ 485,697 milhões em dividendos aos acionistas no próximo dia 30. Além disso, haverá o pagamento de R$ 1,81 bilhão sob a forma de JCP (Juros sobre Capital Próprio). A remuneração complementar é relativa ao terceiro trimestre, quando o banco lucrou R$ 8,4 bilhões, aumento anual de 62,7%.
No acumulado anual, o BB irá distribuir mais de R$ 8,5 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio a seus acionistas, correspondendo a um “payout” (porcentagem do lucro distribuído aos acionistas) de 40%.
O ROE (retorno sobre o patrimônio), indicador de rentabilidade, ficou em 21,8%. É o segundo maior da safra de balanços do setor financeiro, perdendo apenas para o divulgado pelo BTG Pactual (22%), sem exposição relevante ao varejo como o BB. Falta o Itaú divulgar seu balanço nesta sexta-feira.
“Quando assumi a presidência do Banco do Brasil, nossa rentabilidade trimestral era inferior a 15% e muito nos orgulha entregar um retorno sobre patrimônio líquido de 21,8%, o que consolida um novo patamar de rentabilidade, dentre os melhores retornos alcançados em comparação aos pares privados”, disse o CEO do BB, Fausto Ribeiro, em nota.
O dividendo será da ordem de R$ 0,17 por ação, enquanto o JCP ficou em R$ 0,63. Só terão direito à remuneração quem tiver o papel até o fim do pregão do próximo dia 21. No dia seguinte, as ações são negociadas “ex” (preço descontado do provento) na B3.
“Os resultados que apresentamos se originam do bom desempenho da margem financeira bruta, da diversificação nas receitas com serviços, despesas sob controle e capital forte”, justificou o CEO.
A carteira de crédito ampliada do BB atingiu R$ 969,2 bilhões em setembro de 2022, alta anual de 19%. O índice de inadimplência (relação entre as operações vencidas há mais de 90 dias e o saldo da carteira de crédito classificada) saiu de 2% em junho para 2,3% em setembro, permanecendo abaixo do Sistema Financeiro Nacional, que encerrou o período em 2,8%, segundo o BB. O índice de cobertura do BB foi de 234,9% em setembro.
Diversificação
O BB informou que seu resultado é “reflexo de alavancas que alicerçam a sustentabilidade do seu retorno no longo prazo: o crescimento da carteira de crédito com mix que apresenta um melhor retorno ajustado ao risco; a continuidade da diversificação na linha de serviços, que começa a refletir a monetização de novos modelos de negócios; a disciplina constante na gestão de custos; e a sólida posição de capital”.
“Temos avançado no desenvolvimento de novas avenidas de receitas, diversificando o nosso portfólio de negócios. Anunciamos hoje um novo investimento do nosso programa de Venture Capital na Bitfy, uma startup que conecta um grande ecossistema financeiro que aumenta nossa capacidade em construir soluções em blockchain e nos abre possibilidades para atuar com criptoativos e tokenização”, afirmou o CEO.
Crédito
A carteira pessoa física ampliada cresceu 10,9% em 12 meses, influenciada pela performance positiva no crédito consignado (+8,3% em 12 meses), empréstimo pessoal (+22,6% em 12 meses) e cartão de crédito (+31,5% em 12 meses).
A carteira ampliada PJ registrou incremento de 20,2% em 12 meses, com destaque para capital de giro (+8,3% em 12 meses), TVM (títulos e valores mobiliários) privados e garantias (+53,3% em 12 meses) e ACC/ACE (+36,6% em 12 meses).
A carteira ampliada de agronegócios expandiu 26,7% em 12 meses, com ênfase para as operações de custeio (+53,7% em 12 meses), de investimento (+59,3% em 12 meses) e Pronaf +13,5% em 12 meses), informou o banco.
Análise
O Bradesco BBI e a Ágora Investimentos consideraram que o resultado do BB mostrou novamente fortes tendências gerais. “O banco continuou se beneficiando da elevação das taxas de juros e da expansão da carteira. Enquanto isso, as taxas e despesas operacionais continuaram a apresentar um desempenho sólido”, analisou a dupla de analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e José Cataldo (Ágora Investimentos).
Eles citaram que o principal destaque foi a forte revisão de guidance (projeção), que implica no lucro líquido do quarto trimestre em 16,7% acima das estimativas do Bradesco BBI e 19,5% acima do consenso de mercado pela Bloomberg, incorporando NII (resultado líquido de intermediação financeira) mais forte, taxas e crescimento de empréstimos.
“Vemos o aumento significativo das provisões como uma normalização de níveis anteriormente baixos, refletindo a deterioração da qualidade dos ativos. Mantemos nossa recomendação de compra para as ações do BB e esperamos uma reação positiva do mercado”, concluíram os analistas, em nota.
Enquanto os bancos privados como Santander e Bradesco tenham decepcionado o mercado, o BB surpreendeu positivamente, com resultados muito fortes e acima do esperado, apontou o analista José Eduardo Daronco, da Suno Research, que atribuiu a performance do balanço ao reflexo do aumento da carteira de crédito, da manutenção da inadimplência em níveis saudáveis, bem como do controle de custos.
“As perspectivas para os próximos trimestres são positivas, fazendo com que o banco revisasse seu guidance para cima. Segundo projeções do próprio banco, o lucro líquido anual deve ficar acima dos R$ 30 bilhões, muito acima das perspectivas do mercado”, apontou Daronco.
Ele considerou que a carteira do BB é diferente dos seus pares privados, principalmente porque há uma concentração do agronegócio, que é defensivo. “Por outro lado, bancos como Santander e Bradesco têm uma exposição maior em pequenas e médias empresas e pessoas físicas, que em momentos de adversidade econômica são mais afetados”, observou o analista da Suno.