Bloomberg Opinion — A contagem de votos nos Estados Unidos demora muito. Além disso, a velocidade de contagem dos votos varia de estado para estado e de condado para condado, já que diferentes jurisdições utilizam métodos diferentes para chegar a uma contagem final.
Tudo isso é procedimento padrão e não é indicação alguma de irregularidade ou fraude.
O motivo disso é pouco compreendido. Os EUA são excepcionalmente lentos na confirmação dos eleitos; em contraste, o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil no último dia 30 divulgou o presidente eleito algumas horas após o encerramento das urnas.
Nos EUA, pelo contrário, nenhum estado teve uma contagem final na terça-feira (8) à noite. Alguns estados demorarão dias para contar a maioria dos votos e só encerrarão as eleições daqui uma ou duas semanas.
Grande parte da contagem lenta é uma função da estrutura básica das eleições nos EUA. Os eleitores americanos estão acostumados a votar em eleições para tudo – desde associações de bairro até o Senado. Em muitos outros países, os eleitores vão às urnas para eleger menos cargos.
Na terça-feira, todos os estados fizeram eleições para a Câmara, cerca de dois terços deles realizarão eleições para o Senado, a maioria realizará eleições legislativas estaduais; 36 vão eleger governadores; e também há muitos cargos em jogo, dependendo do estado, condado, cidade e outros órgãos governamentais. Alguns eleitores podem ter apenas uma dúzia ou mais de opções; outros podem enfrentar mais de 50.
Isso torna a contagem bastante complexa. Máquinas conseguem fazê-lo rapidamente, mas são caras, então, em alguns casos as cédulas têm que ser transferidas do local de votação para as máquinas. Isso demora, principalmente porque essas cédulas devem ser manejadas cuidadosamente para evitar qualquer possibilidade de irregularidades.
Os EUA também possuem uma administração eleitoral excepcionalmente descentralizada. A descentralização significa que cada estado e até mesmo cada município (ou qualquer autoridade responsável) tem que escolher quanto gastar na contagem rápida das cédulas quando há prioridades concorrentes. Não é surpresa que, como resultado, algumas jurisdições sejam mais rápidas.
Algumas pessoas que se agarraram às falsas acusações de fraude eleitoral em 2020 apontam a contagem por máquinas como um problema. Na verdade, as máquinas são mais precisas do que os seres humanos quando se trata de contar. As cédulas com muitos cargos também tornam a contagem manual impraticável.
E não para por aí. Funcionários da eleição recebem todo tipo de votos: votos antecipados, votos de ausentes e outros votos por correspondência, além das cédulas enviadas no dia das eleições. Algumas cédulas podem chegar vários dias depois das eleições.
Todas estas etapas envolvem compromissos. A contagem é mais rápida se as cédulas de correio tiverem que chegar até o dia das eleições – mas menos pessoas votariam, e presumivelmente mais delas votariam enquanto a campanha ainda estava ocorrendo. A contagem seria ainda mais rápida se a votação por correio fosse encerrada e as cédulas de eleitores ausentes fossem rigorosamente restringidas, mas isso também dificultaria o voto para muitos.
O resultado final é que a contagem dos votos será lenta de forma previsível, pelo menos para aqueles que estão familiarizados com a forma como vários estados manejam as eleições. Para o bem ou para o mal, é assim que o sistema funciona. Então prepare-se para ser paciente e para ignorar todos que tentarem argumentar que esses atrasos significam irregularidades nas eleições.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Jonathan Bernstein é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre política. Foi professor de Ciência Política na Universidade do Texas, em San Antonio, e na Universidade DePauw, e é o autor do blog A Plain Blog About Politics.
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