Bloomberg — As empresas que precisam de capital no Brasil terão que recorrer a down rounds para evitar se endividar em um ambiente de altas taxas de juros, segundo a guardiã da fortuna de Abilio Diniz.
Flavia Almeida, presidente e sócia da Península Capital, disse que donos de empresas de capital fechado ainda estão relutantes em vender ações a um preço mais baixo do que em rodadas de investimentos anteriores.
Os fundos de private equity não querem marcar para baixo o valor de seus investimentos e “os empresários estão enfrentando um dilema”, disse Flavia, responsável por administrar US$ 4 bilhões em ativos na Península, incluindo a fortuna da família do bilionário Diniz. “Mas as empresas em estágio inicial de existência não podem ser altamente alavancadas na América Latina, pois o dinheiro é mais caro aqui.”
Flavia prevê “down rounds significativos” nos próximos 12 a 18 meses, à medida que as necessidades de capital aumentam, e ela planeja comprar. O importante para acertar o alvo de aquisição é ter amplo conhecimento sobre os mercados locais, disse ela.
Os investidores “precisam ser extremamente cuidadosos agora”, disse ela, e antes de comprar participações em empresas devem considerar quanto dinheiro a empresa tem e quanto tempo esse dinheiro vai durar.
As ações das empresas de tecnologia caíram nos mercados de capitais este ano, com o Nubank chegando ao valor de mercado de cerca de US$ 23,5 bilhões, em relação aos quase US$ 55 bilhões em dezembro. Após um boom que levou os investimentos de venture capital na América Latina a um recorde de US$ 14,1 bilhões nos últimos três trimestres de 2021, esses investimentos caíram para US$ 6,6 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, segundo a LAVCA, a associação para investimentos de private equity na região.
“Estamos mais líquidos do que o usual” após vender uma participação de 3,8% na BRF SA, maior exportadora de frango do Brasil, por cerca de R$ 900 milhões em agosto, disse Flavia. “Estamos um pouco sentados no dinheiro nesse sentido e estamos extremamente ocupados procurando oportunidades em private equity e imóveis no Brasil, agora que as taxas de juros subiram e os preços dos ativos caíram.”
A Península está abrindo um fundo para terceiros para aumentar suas participações no que Flavia chamou de empresas de inovação nos setores de varejo, educação e bem-estar. Também está decidindo se permitirá que investidores de fora invistam conjuntamente nos imóveis da Península, que agora são 100% de propriedade da família Diniz.
A Península começou em 2005 como o single-family office dos Diniz, mas agora também administra dinheiro de outros investidores, incluindo family offices e fundos soberanos. Seu foco é private equity, mas a empresa também tem um fundo de hedge global de US$ 2 bilhões chamado O3, que é 50% de seus gestores.
A Península pode comprar participações minoritárias ou majoritárias em empresas fechadas ou listadas em Bolsa, podendo também fazer aquisições com investidores terceiros. Possui participação no varejista francês Carrefour SA e em sua unidade brasileira. Outro investimento é na Olist, plataforma de tecnologia que ajuda pequenos varejistas a expandir suas vendas online.
“Estamos muito focados no varejo, na educação e no que chamamos de bem-estar, que não é só saúde, mas também pode incluir bem-estar”, disse Almeida.
Abilio Diniz é autor de duas autobiografias best-sellers e é um dos empresários mais controversos e conhecidos do Brasil. Ele esteve no centro de grandes batalhas corporativasl, incluindo uma com o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri.
A briga terminou em 2013 com Diniz perdendo o controle do Pão de Açúcar, a gigante rede de supermercados fundada por seu pai em 1948. A empresa é uma das muitas marcas controladas pela GPA, unidade brasileira do Casino.
Naouri e Diniz voltaram a ter boas relações, aumentando as especulações sobre quais medidas o bilionário brasileiro tomaria para ajudar a resolver os problemas de dívida do Casino e salvar a empresa que seu pai construiu. Entre as possibilidades levantadas na mídia local está que Diniz venderia o Carrefour para comprar a GPA ou ajudaria o Carrefour a comprar o Casino.
“Somos investidores do Carrefour, estamos comprometidos e, se houver alguma oportunidade no varejo, o Carrefour deve analisar isso e nós, como membros do conselho, faremos nosso trabalho lá”, disse Almeida, sem comentar mais.
Quanto aos investimentos imobiliários, a maioria dos imóveis da Península são lojas ou antigas lojas do Pão de Açúcar ou do Assai, outra marca da GPA.
“Estamos começando a desenvolver mais essa área”, disse Flavia, acrescentando que, se os imóveis do Península fossem incluídos em um fundo listado, ele seria o terceiro maior do Brasil.
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