COP27: Encontro entre China e EUA é destaque no quarto dia da reunião

Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, fez falas importantes dizendo que ‘mercados’ são mais poderosos do que a política na questão climática

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Bloomberg — A quarta-feira foi chamada de “Dia das Finanças” na COP27, com discussões focadas nas necessidades dos países em desenvolvimento, especialmente os da África.

O dia também foi marcado pelo encontro bilateral dos enviados especiais para o clima da China, Xie Zhenhua, e dos Estados Unidos, John Kerry, que não estava na agenda oficial da Cúpula, e marca a primeira vez em que os dois lados conversaram sobre mudanças climáticas em meses.

Kerry disse que sua relação com o enviado climático da China, Xie Zhenhua, foi construída ao longo de anos de negociações e reuniões em aeroportos enquanto ambos viajavam pelo mundo. Ainda que a relação entre os dois países esteja sob tensão em decorrência da decisão de Pequim de suspender as negociações sobre o clima após a visita da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a Taiwan, o encontro pode sinalizar alguma trégua.

“Certamente estou pronto para negociar”, disse Kerry. “A crise climática não é uma questão bilateral.”

O enviado especial americano também defendeu seu plano de permitir que as empresas obtenham créditos de carbono para investimentos em projetos de descarbonização em países em desenvolvimento, insistindo que abordagens criativas são necessárias para acelerar a transição, limitar o aquecimento mundial a 1,5 graus Celsius e empregar trilhões de dólares em capital avesso a riscos.

Outro destaque ficou com as falas do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, que disse que qualquer esforço do Partido Republicano para impor políticas que penalizem os investidores ‘sustentáveis’ estaria em desacordo com as forças do mercado, que são mais poderosas que a política.

“Os mercados estão indo para um caminho diferente”, disse Gore em entrevista a Francine Lacqua, da Bloomberg Television, no Egito, nesta quarta-feira (9). “Estamos vendo um movimento maciço em direção a políticas mais favoráveis ao clima.”

Os mercados estão “no começo de uma revolução de sustentabilidade”, disse Gore, repetindo uma frase que usou antes para descrever o ponto atual da história. “Então, seja o que for que os políticos de diferentes países queiram opinar, estamos vendo empresas, investidores e mercados se moverem em direção a soluções para a crise climática.”

Mais cedo, no início do dia, Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra (BOE, na sigla em inglês), e co-presidente da maior coalizão de finanças climáticas do mundo, pediu aos governos que “alinhem a regulação financeira com as emissões líquidas zero”, tornando obrigatórios os planos de transição.

Em entrevista à Bloomberg Television, Carney disse que os ativos de energia renovável estão preparados para uma era de crescimento, seguindo os esforços para combater as mudanças climáticas. “O dinheiro inteligente” está seguindo “um muro de oportunidades”, afirmou.

No entanto, uma crise de energia e um cenário político em mudança nos EUA tornam mais difícil para bancos e investidores virarem as costas totalmente para os combustíveis fósseis. As empresas do setor financeiro também estão cada vez mais cautelosas com as ramificações legais de aderir a parcerias de emissão zero, com alguns alegando que tais objetivos estão em desacordo com os deveres fiduciários.

Esses riscos legais podem se intensificar, dependendo do resultado das eleições de meio de mandato nos EUA, ainda em curso no país. Mas também há um risco legal envolvido em fazer promessas climáticas que as empresas não cumprem.

“As empresas devem ter cuidado para não serem pegas na correnteza de ambições irreais, o que pode expô-las a riscos de litígio e reputação se não cumprirem tais compromissos”, Sonali Siriwardena, sócio e chefe global de ESG da Simmons & Simmons em Londres.

Promessas

Os Estados Unidos, a União Europeia e outros países devem anunciar amanhã um plano para incentivar os importadores e exportadores de combustíveis fósseis a reduzir suas emissões de metano como parte do Global Methane Pledge, uma meta coletiva para reduzir as emissões do gás em 30% até o final da década.

A declaração, vista pela Bloomberg, diz que os países devem se esforçar para conter vazamentos de metano - gás 80 vezes mais poderoso que o dióxido de carbono. Isso inclui a eliminação da queima rotineira, e uma melhor medição e verificação das descargas de metano.

“Através de nossos esforços coletivos, pretendemos reduzir o aquecimento em 0,1°C até meados do século, acelerando o metano e queimando a redução no setor de petróleo e gás”, diz o documento.

“Como um dos maiores importadores e exportadores mundiais de recursos de energia fóssil, nos comprometemos a tomar medidas imediatas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção e consumo de energia fóssil, particularmente para reduzir as emissões de metano.”

Enquanto isso, no Reino Unido, o novo primeiro-ministro Rishi Sunak parece estar firmemente comprometido em ampliar o financiamento climático e cumprir com os compromissos de zero emissão líquida, de acordo com James Cartlidge, secretário do Tesouro.

--Com informações adicionais de Melina Flynn, da Bloomberg Línea

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