São Paulo — A antiga imagem da instituição financeira que nasceu no Rio de Janeiro e hoje é sediada em parte do Edifício Pátio Victor Malzoni (o mesmo do Google no Brasil) - um dos quadriláteros mais caros da avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo - foi lembrada por analistas ao comentar mais um trimestre de lucros recordes.
No próximo ano, o BTG Pactual (BPAC11) completa 40 anos de fundação. Em 1983, era só uma DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), denominada apenas de Pactual, no Rio, antes de se tornar um dos principais bancos de investimento do país atuando principalmente em capital de risco.
“As áreas de clientes, com fortes crescimentos de ativos sob gestão (em especial renda fixa) e sólido Net New Money [captação de clientes, de dinheiro novo] permanecem sendo providenciais para desmistificar a imagem de uma instituição cujos resultados são exclusivamente associados à atividade de mercado de capitais, algo que, a essa altura, em nossa opinião, já é passado”, apontou o analista do BB Investimentos, Rafael Reis, em relatório sobre o resultado do 3º trimestre do BTG, divulgado nesta terça (8).
O CFO do banco, Renato Cohn, concorda com essa visão ao destacar os ganhos de alavancagem operacional da instituição nos últimos trimestres e suas apostas em negócios promissores em áreas estratégicas como infraestrutura e energia.
“Fizemos no passado uma série de investimentos que estão começando a maturar, e as receitas estão crescendo acima dos custos”, afirmou Cohn, em teleconferência com jornalistas, na tarde de hoje.
O BTG é um dos principais acionistas, por exemplo, da Eneva (ENEV3) - a maior empresa privada produtora de gás do Brasil e uma das maiores geradoras termelétricas - e controla, desde junho, a V.tal, maior empresa de infraestrutura de fibra ótica do país, criada a partir do processo de separação estrutural dos ativos de fibra ótica da Oi.
“Gostamos bastante da Eneva, que já apresenta uma estabilidade das receitas”, disse o CFO.
Os resultados trimestrais recordes de lucro, receita e rentabilidade vão enfrentar, a partir de 2023, um novo contexto político, social e econômico no Brasil, com o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito no último dia 30 de outubro. Para o CFO, a mudança de poder tem de ser vista com naturalidade.
“Estamos vivendo diversas incertezas. Isso é natural dentro do processo de transição. O novo governo vai atuar de maneira responsável como vem indicando. Nas próximas semanas ou meses, essas incertezas tendem a diminuir”, apontou Cohn.
IPOs
O executivo disse que o mercado de capitais, que foi a principal alavanca do crescimento do Pactual nas décadas passadas, está preparado para retomar operações como IPOs (ofertas iniciais de ações), que foram suspensas desde o fim de 2021 devido ao menor apetite dos investidores em tomar risco diante um cenário macroeconômico desafiador, com inflação e juros em patamares elevados, além da guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Falta uma pequena melhora do mercado para voltar [operações de abertura de capital]. O pipeline [conjunto de projetos] já temos. Falta o mercado chegar a um preço justo”, afirmou o CFO do BTG.
O banco de investidores foi um dos principais coordenadores na última onda de IPOs, vista em 2021, reforçando suas receitas com a estruturação dessas ofertas iniciais, além de follow-on (ofertas subsequentes de ações).
“Em nossa visão, o BTG tem tudo para continuar ganhando terreno dada a qualidade de execução de sua estratégia de crescimento diversificado e capitalizando sobre uma marca incrementalmente associada à excelência em seus nichos de atuação”, avaliou o analista do BB Investimentos.
Queda de juro
O CFO evitou prever a trajetória do NNM (Net New Money) para os próximos trimestres. Entre julho e setembro, o banco captou R$ 62,9 bilhões, alcançando R$ 1,17 trilhão de recursos de clientes sob gestão e administração (AuM/WuM).
“É difícil prever Net New Money. Se o juro cair em 2023, clientes podem procurar alternativas e novidades para realocar portfólio”, disse Cohn.
Atualmente, boa parte dos economistas projeta um início do ciclo gradual de cortes de juros para o segundo trimestre de 2023. Há dois meses, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central mantém a taxa Selic em 13,75% ao ano, o que contribui para atrair moeda forte do exterior para aplicações no mercado doméstico.
A expansão dos negócios e da base de clientes se tornou uma das principais estratégias do BTG para prosseguir na trajetória de crescimento de sua lucratividade. O CFO confirmou o interesse, por exemplo, da companhia de adquirir o Banco Alfa. Outro foco atual do banco é assumir a gestão dos fundos da Captalys, em uma joint venture entre sua gestora e a Prisma Capital.
“Os cotistas ainda precisam aprovar a operação, que é benéfica para eles”, disse o CFO, sem fornecer detalhes.
Leia também
Empresas aéreas e sindicatos negociam reajuste salarial sob risco de impasse