São Paulo — A Movida (MOVI3), um dos principais players do mercado nacional de locação de veículos, espera buscar repetir o desempenho operacional recorde do terceiro trimestre apostando no êxito da próxima alta temporada do turismo (férias escolares e festas de fim de ano) no Brasil e em Portugal, onde desembarcou em setembro, sua primeira incursão na Europa.
Mesmo com reajustes das tarifas praticados no segmento para cobrir alta de custos com juros e aumento dos preços dos veículos, a diária média da companhia bateu recorde no 3º trimestre: uma alta de 44% em 12 meses para R$ 139,20.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da subsidiária do Grupo Simpar (SIMH3), Edmar Lopes, disse que a companhia trabalha com uma expectativa otimista de aumento de demanda, pois o câmbio (dólar comercial acima de R$ 5) está desfavorável às viagens ao exterior. Para justificar o otimismo com a alta estação, ele cita que os níveis de reservas e ocupação da hotelaria estão fortes.
“Aumentamos a frota e também estamos abrindo vagas de trabalho temporário para o período”, disse o executivo. A frota total da companhia fechou setembro em 213 mil carros, crescimento de 26,4% em 12 meses.
Queda do lucro
No 3º trimestre, a Movida ainda sentiu o peso dos juros em patamar elevado (13,75% ao ano) em seu resultado. Em 12 meses, o lucro caiu 63,9% para R$ 93,7 milhões, com margem líquida de 3,6%, por conta das maiores despesas financeiras devido à alta de juros e aos maiores gastos com depreciação.
“Mesmo que o Banco Central corte a taxa Selic em 2023, ainda ficará em um patamar elevado. Ainda sim estamos otimistas com 2023 e esperamos um crescimento. Só não sabemos ainda em que nível será esse crescimento”, avaliou Lopes.
Entre julho e setembro, a receita líquida bateu recorde e avançou 66% em 12 meses, totalizando R$ 2,6 bilhões. Só com locação de veículos, o faturamento somou R$ 1,2 bilhão no 3º trimestre, aumento anual de 65%.
A geração de caixa medida pelo Ebitda trimestral se aproximou da marca de R$ 1 bilhão, alcançando R$ 925,3 milhões, alta de 50,9% em 12 meses.
Inflação
O CFO aponta como outros destaques do resultado da companhia: o volume de diárias (GTF), que cresceu 38% em 12 meses, totalizando 8,6 milhões de diárias. Na linha de negócios de seminovos, houve a venda de 20 mil carros no 3º trimestre, com ticket médio recorde de R$ 70,7 mil. A planilha de custos, no entanto, segue pressionando o balanço.
“Dois fatores impactam nossos custos: o valor do carro, que subiu bastante, e a taxa de juros, que mesmo estacionando em 13,75% ao ano, ainda está muito elevada. Olhamos para a curva dos juros futuros e, mesmo que haja um corte de 2,5 pontos percentuais na Selic em 2023, será um alívio, mas não o suficiente”, explica o executivo.
Ele disse que o segmento de locação de veículos está conseguindo repassar essa alta dos custos para as tarifas, pois a demanda está cada vez mais forte. Na sua avaliação, o cenário macroeconômico para o ano que vem ainda é turvo, mas não é uma exclusividade do Brasil.
“A baixa visibilidade sobre a inflação é global”, observou Lopes.
Concorrência
A fusão entre Localiza (RENT3), líder do segmento, e Unidas, anunciada em setembro do ano passado e concluída no começo deste segundo semestre, não resultou em uma “guerra de preços” no mercado.
“Temos um comitê de preços e não vimos mudanças. O mercado está saudável, com bons fundamentos”, disse o CFO.
A Abla (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis) divulgará o market share de cada player em 2023, após a concretização da fusão, informou Lopes.
Em junho deste ano, Localiza e Unidas submeteram ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o nome da Brookfield Asset Management, controladora da locadora Ouro Verde, como compradora de parte dos ativos da Unidas. No mesmo mês, o órgão antitruste publicou parecer positivo. O passo seguinte foi realizar o fechamento da transação por meio da incorporação das ações na B3, que ocorreu no dia 1ª de julho.
Europa
Já o plano de internacionalização das operações da Movida deslanchou em setembro com o anúncio da compra da DOH (Drive on Holidays), uma das principais locadoras de veículos leves de Portugal, em um negócio avaliado em cerca de 66 milhões de euros (cerca de R$ 335 milhões).
“Portugal é nossa porta de entrada no mercado europeu e vai nos trazer muito retorno. O turismo em Portugal, que tem um mercado fragmentado no segmento de locação, está forte. Isso nos anima, pois diversifica nossas receitas em moeda forte. Poderíamos ir para o Uruguai e Argentina, mas preferimos fechar um negócio em euro”, justificou o CFO.
Junto com os planos de ampliar sua área de abrangência para além das fronteiras, a Movida vê o início de um novo ciclo de mercado. “Como preparação para esta nova fase, tomamos a decisão acertada de adquirir carros de maior valor, triplicando nossa base de ativos desde o 3º trimestre de 2020. Estes carros se valorizaram e estão hoje em nossa base para venda nos próximos trimestres, impulsionando os preços de seminovos”, disse o CEO da Movida, Renato Franklin, no balanço.
Ele espera uma normalização do calendário de entregas de veículos novos pelas montadoras, com as quais a Movida tem buscado fortalecer ainda mais suas alianças. “À medida que a cadeia de suprimento das montadoras seja normalizada, aproveitaremos a maior disponibilidade de um mix de compra de carros de menor valor. Esta nova dinâmica irá beneficiar nosso fluxo de caixa e impulsionar os retornos futuros”, avaliou Franklin.
Análise
Um dia após a divulgação do balanço, a equipe da Genial Investimentos fez uma avaliação negativa de um ponto do resultado apresentado pela Movida.
“Embora em termos operacionais a maioria dos dados divulgados tenham vindo em linha com as nossas expectativas e com as do mercado, tivemos uma surpresa negativa do ponto de vista de lucratividade”, apontou em nota.
A Genial Investimentos destacou que o resultado da Movida foi penalizado em R$ 179 milhões por efeitos de operações com derivativos e variações cambiais.
(Atualiza às 12h, do dia 8/11, com análise)
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