São Paulo — A Embraer (EMBR3) deve fechar o ano de 2022 retornando ao patamar de entregas de aeronaves observado em 2019, antes da pandemia da Covid-19, iniciada em março de 2020. Essa expectativa do mercado se firmou após a companhia reportar o balanço de entregas no terceiro trimestre e reafirmar seu guidance (projeção) para o ano.
Entre julho e setembro, foram entregues 10 jatos no segmento comercial, abaixo dos 11 do segundo trimestre, mas acima dos nove do terceiro trimestre do ano passado. Já no segmento executivo, a Embraer entregou 23 jatos no terceiro trimestre, acima dos 21 registrados entre abril e junho e outros 21 em igual período do ano passado.
“O desempenho total foi fraco, ofuscando as notícias de um robusto backlog [carteira de pedidos firmes]”, apontou relatório do Itaú BBA, assinado pelos analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano.
O “backlock” da Embraer fechou o terceiro trimestre em US$ 17,8 bilhões, estável em relação ao segundo trimestre, mas acima dos US$ 16,8 bilhões de igual período do ano passado.
Ao reafirmar o guidance de entregas do ano, a Embraer considera o piso do intervalo, que implica um nível de entregas no quarto trimestre não visto desde 2019, destacou o Itaú BBA.
Para cumprir o guidance, a Embraer precisa entregar entre 33 e 43 jatos comerciais no quarto trimestre, o que implica um crescimento entre 106% e 169% na comparação anual, e entre 45 e 48 jatos executivos no mesmo período (alta de 23% a 49% em 12 meses), segundo os analistas do Itaú BBA, que mantiveram recomendação de “outperform” (acima da média do mercado) para o papel da companhia com preço alvo de US$ 21 (ano de 2022).
Já os analistas Victor Mizusaki (Bradesco BBI) e Wellington Lourença (Ágora Investimentos) enxergam riscos ao cumprimento da projeção de entregas de jatos pela Embraer, embora também mantenham a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 30.
“O quarto trimestre é sazonalmente mais forte e, no passado, a Embraer foi capaz de atingir essas entegas fortes. Entretanto, a interrupção da cadeia de fornecimento global é um desafio-chave para a Embraer atingir seu guidance”, apontou a dupla de analistas.
A entrega de 10 aeronaves comerciais no 3º trimestre veio abaixo da estimativa de Mizusaki e Lourença (12 aviões), mas o total de jatos executivos entregueses vieram em linha com as estimativas de suas instituições.
A Embraer entregou 9 E175 para a Skywest e 1 E2-E195 para a Aircastle no 3º trimestre, quando recebeu novos pedidos firmes da Porter (20 E2-E195s) e da Salam Air (6 E2-E195s).
Com recomendação também de compra para as ações da Embraer, a Toro Investimentos incluiu o papel na sua carteira recomendada deste mês de novembro, apesar de um recente revés em um contrato.
“A empresa apresentou uma reversão nesse trimestre, com a redução de 3 aeronaves no seu contrato com o governo. Apesar disso, a redução atinge um mínimo contratual, reduzindo risco operacional da companhia nos próximos trimestres. Com o firmamento de um novo contrato de 10 aeronaves com a NAC [Nordic Aviation Capital, de leasing de aeronaves regionais], acreditamos que a empresa possa apresentar um resultado positivo, com um forte carteira de backlog”, alertou a Toro, em nota.
Mais pedidos
Novas encomendas foram anunciadas nas últimas semanas. Em outubro, a Embraer informou que a TUI, um dos principais grupos de turismo do mundo, selecionou o Embraer E195-E2 para integrar a sua frota na Bélgica, marcando um passo importante na renovação da frota da companhia. A TUI receberá três jatos E195-E2 da AerCap (empresa de leasing de aviação) por meio de um contrato de leasing de longo prazo.
“O crescimento de pedidos dos modelos E2 é bastante positivo, pois reflete em uma expansão com enobrecimento do backlog da Embraer, que tende a ampliar as margens operacionais no longo prazo”, analisaram os analitas Alexandre Kogake e Pedro Pimenta, da Eleven Financial, que têm recomendação de compra para o papel com preço-alvo de R$ 22.
Boeing
A demanda crescente por aeronaves não se restringe ao segmento principal de atuação da Embraer. A renovação da frota é um componente fundamental da estratégia das fabricantes de aeronaves para descarbonizar o setor aeroespacial, pois as novas aeronaves proporcionam ganhos de eficiência, reduzindo o uso de combustível e as emissões de gases de efeito estufa.
Um estudo da Boeing - “2022 Commercial Market Outlook (CMO)” - prevê que a frota de aeronaves da América Latina quase dobrará nos próximos 20 anos, com o Brasil liderando essa demanda.
O país terá a maior parte da frota de aviação comercial da América Latina, segundo a Boeing. De acordo com a previsão da empresa para o mercado de aviação comercial, a frota da América Latina terá crescimento acima de 85% nos próximos 20 anos, com o Brasil responsável por 30% da demanda. Segundo a Boeing, a região da América Latina e Caribe vai precisar de 2.240 novas aeronaves até 2041.
Airbus
Já a Airbus, concorrente da Boeing, previu, em seu Global Market Forecast (GMF), uma demanda de 2.550 novas aeronaves na América Latina até 2041, das quais 1.400 serão novas aeronaves e 1.150 substituirão aeronaves com menor eficiência energética, melhorando significativamente o impacto ambiental da região.
Segundo o Airbus GMF, a frota que atende o Brasil (voando de e para o país) mais que dobrará nos próximos 20 anos, passando de mais de 520 aeronaves (523) para mais de 1.110 (1.119). A Airbus projeta que as viagens no Brasil aumentarão para 0,9 viagem per capita até 2041 – em comparação com apenas 0,4 viagem per capita feita em 2019 no país. O Brasil é o principal mercado de aviação comercial da Airbus na América Latina.
Leia mais
Câmbio atingiu fundo do poço entre emergentes e dólar deve cair, diz Morgan Stanley