Bloomberg — A tensão entre os dois executivos mais ricos da indústria de criptoativos respinga no já abalado mercado de ativos digitais.
No domingo (6), o bilionário Changpeng “CZ” Zhao, CEO da Binance, foi ao Twitter (TWTR) para anunciar planos de vender a participação de aproximadamente US$ 530 milhões da empresa em FTT, o token nativo da corretora FTX, controlada por Sam Bankman-Fried. A Binance é a maior exchange de criptomoedas do mundo, e a FTX, a sétima.
CZ disse que sua decisão foi motivada por “revelações recentes”. Em 2 de novembro, o site CoinDesk disse que grande parte do balanço da Alameda Research, empresa de trading de Bankman-Fried, é composto pelo token FTT. O preço do FTT despencou em meio a elevados volumes de negociação após o anúncio do CEO da Binance, e traders correram para retirar fundos da FTX.
CZ não especificou a quais “revelações” se referia. Um porta-voz da Binance não quis comentar. A FTX disse nesta segunda-feira (7) que a empresa trabalhava para “ajudar a acelerar os saques” de Bitcoin (BTC).
“Um concorrente está tentando nos perseguir com ‘rumores falsos’”, disse Bankman-Fried em tuíte nesta segunda. “A FTX está bem. Os ativos estão bem.”
A disputa entre os dois magnatas ocorre em um momento difícil para o setor, abalado por uma série de escândalos este ano, desde a implosão da stablecoin TerraUSD (USTC) até uma série de pedidos de recuperação judicial entre plataformas de crédito de criptomoedas. O setor “ainda sofre de TEPT (transtorno de estresse pós-traumático)”, disse Anto Paroian, CEO do hedge fund cripto ARK36.
Os preços da maioria das criptomoedas operavam em baixa nesta segunda, mesmo com o avanço das bolsas. Solana, um token apoiado pela FTX e Alameda, estava entre as maiores quedas.
O volume de negociação do FTT atingiu o maior nível em mais de um ano. Isso sugere que “formadores de mercado estão trabalhando horas extras para manter a liquidez em meio à alta pressão vendedora”, afirmou Clara Medalie, chefe de pesquisa da empresa de análise Kaiko, em um e-mail.
“No geral, o FTT é um token relativamente ilíquido em mercados abertos, então os planos da Binance de liquidar todos os tokens FTT que possui é um evento de mercado bastante significativo”, acrescentou. “A Alameda provavelmente dedicará recursos consideráveis para evitar o colapso do preço do FTT.”
A participação da Binance em FTT é um legado de seu investimento na FTX, fatia que foi vendida no ano passado por cerca de US$ 2,1 bilhões, de acordo com CZ. O CEO disse que planeja vender os tokens FTT “de uma maneira que minimize o impacto no mercado”. O processo pode levar alguns meses para ser concluído, acrescentou.
CZ e Bankman-Fried têm trocado farpas no Twitter nos últimos meses, divergindo por questões que vão desde o lobby com políticos dos Estados Unidos até alegações de negociações com informação privilegiada. Em uma série de tuítes no domingo (6), CZ negou que a venda de FTT fosse um “movimento contra um concorrente”, embora uma postagem posterior parecesse implicar descontentamento com a FTX.
O CEO da Binance tem uma fortuna de US$ 18,9 bilhões, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg, enquanto o patrimônio de Bankman-Fried é de US$ 15,4 bilhões.
No domingo, Caroline Ellison, CEO da Alameda, respondeu à publicação do CoinDesk dizendo que “esse balanço patrimonial específico se refere a um subconjunto de nossas entidades corporativas, temos mais de US$ 10 bilhões em ativos que não estão refletidos aqui”. Ellison posteriormente se ofereceu para comprar todos os tokens FTT da Binance ao preço de US$ 22. A moeda era negociada justo acima desse nível nesta segunda-feira.
Em uma thread feita hoje no Twitter, Bankman-Fried procurou acalmar investidores, dizendo que “a FTX tem o suficiente para cobrir todas as posições de clientes”, que está processando todos os saques e “continuará” processando. O CEO da FTX terminou com um pedido ao antigo rival no Twitter: “Adoraria se pudéssemos trabalhar juntos para o ecossistema”.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também:
Lula avalia custo de promessas de campanha em primeiro teste com o Congresso
O que o investidor precisa saber sobre as eleições de meio de mandato dos EUA