Bloomberg Línea — As reações dos investidores ao balanço do terceiro trimestre da Petrobras (PETR4, PETR3), que apontou uma queda de 15% no lucro em três meses, são um dos destaques do pregão brasileiro nesta sexta-feira (4). Apesar do lucro menor, atribuído principalmente à redução no preço do petróleo tipo Brent e à maior base de comparação do segundo trimestre, há sinais de que o resultado deve agradar os investidores.
Em relatório divulgado nesta manhã, o BB Investimentos considerou os números positivos e manteve a recomendação de compra para PETR3 e PETR4, com preço-alvo de R$ 43 (dezembro de 2023), considerando ainda que a estatal de capital misto deveria reduzir o volume de pagamento de dividendos para investir mais em fontes renováveis de energia, uma tendência do setor.
“A receita líquida atingiu R$ 170 milhões, 6% acima do consenso de mercado. O segmento de exploração e produção (E&P) foi um dos destaques, já que mesmo com a redução de 11% nos preços do Brent, apresentou um sólido Ebitda de R$ 73 m ilhões (-7% t/t e +34% a/a)”, observou o analista Daniel Cobucci.
O segmento de gás e energia também superou as expectativas, segundo o especialista, compensando o resultado mais fraco em refino.
“Seguimos otimistas com o papel, entendendo que as condições operacionais e financeiras sugerem uma relação risco-retorno favorável”, avaliou Cobucci.
A Petrobras segue com múltiplos descontados (EV/Ebitda em 2,0x, ante média de 2 anos de 2,7x e pares em 3,2x), produção em expansão e alavancagem baixa, fatores que devem, segundo ele, permitir uma nova fase de crescimento ao longo dos próximos anos.
“Entendemos que o atual desconto nos múltiplos possa estar ligado a certa cautela dos investidores em relação à manutenção da atual rentabilidade ao longo dos próximos anos, dadas as sinalizações de que podem ocorrer mudanças na política de preços (PPI)”, explicou Cobucci.
Ontem, a presidente nacional do PT, partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, Gleisi Hoffmann, questionou a política de dividendos da estatal de capital misto, descrevendo como “sangria” o pagamento de remuneração aos acionistas.
A petroleira anunciou dividendos referentes ao terceiro trimestre no valor total de R$ 43,7 bilhões, o equivalente a R$ 3,35 por ação, resultado em um yield trimestral de 10,5%, ou seja, um payout de 95% do lucro líquido, segundo o BB Investimentos
Transição energética
“Seguimos com o entendimento de que a distribuição de um patamar tão expressivo de dividendos constrasta com a menor presença relativa da companhia em setores ligados à transição energética, como eólicas offshore, hidrogênio verde e biocombustíveis”, avalia o analista do BB Investimentos.
Em seu relatório, ele considera que a condição de baixa alavancagem combinada com o potencial de retorno de tais setores, que devem ter demanda crescente ao longo das próximas décadas, abririam espaço para que o próximo plano de negócio possa contemplar um aumento de participação em segmentos que outras das principais empresas do setor de petróleo vêm entrando.
“Só neste mês, duas transações bilionárias se destacam: a compra da Archaea Energy (produta de biogás) pela British Petroleum, e o anúncio da aquisição de fatia da Casa dos Ventos pela francesa TotalEnergies. Vemos bons motivos para a Petrobras se posicionar em setores ligados a energias com menor pegada de carbono”, cita o relatório.
Ele sustenta essa análise considerando a diversificação das receitas (que ficariam menos dependentes dos ciclos do petróle) e o entendimento de que tais projetos poderiam trazer retornos consistentes ao longo dos próximos anos, ao passo em que as tecnologias são desenvolvidas e a demanda aumenta.
“É provável que tal encaminhamento deva reduzir os montantes de dividendos a serem pagos. Contudo, tais projetos, se bem executados, podem contribuir para a perenidade da companhia a elevação dos retornos de longo prazo”, escreve o analista.
Ele vê também riscos nessa possível escolha. “Seguindo tal direcionamento, a companhia deve prezar pela manutenção de uma alocação de capital adequada, com investimentos proporcionais ao porte dos projetos e ao seu negócio principal, sem colocar em risco as atuais boas condições de endividamento, e sem deixar de investir no pré-sal, cujas condições de retorno são únicas e devem seguir como principal fonte de receitas por muitas décadas”, concluiu Cobucci.
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