Opinión - Bloomberg

O Fed deveria parar de confundir os investidores com sua política monetária

Banco central americano abandonou sua estrutura anterior de política monetária e agora precisa de uma nova

Presidente do Fed, o banco central americano
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Não foi surpresa para ninguém quando o Federal Reserve aumentou sua taxa de juros em 75 pontos-base na quarta-feira (2). As atenções já haviam se voltado para o que acontece a seguir. Será que o ritmo de aperto monetário vai cair a partir de agora? O Fed vai mudar de ideia sobre os aumentos das taxas? Apesar dos esforços do presidente, Jerome Powell, para abordar essas questões, suas respostas ainda deixam muitas dúvidas. E isso é um problema.

LEIA +
Ações passam a subir em NY com Fed sinalizando que pode interromper ciclo

Para ser claro, as futuras decisões do Fed sobre as taxas de juros precisam depender de dados, como Powell insiste. Se a política monetária é difícil de prever apenas porque o futuro é incerto, tudo bem. O problema é que a incerteza atualmente não se limita às dúvidas sobre a evolução da economia. O que também não está claro é como o Fed responderá às condições em constante mudança.

Os investidores estão confusos. A maioria espera um caminho mais suave para o aumento das taxas, levando a uma “taxa terminal” de aproximadamente 5% no próximo ano. Mas a pergunta certa não é se é isso é que o Fed tem em mente; é o que o Fed faria se as coisas ficarem diferentes do que ele espera. Suponha, por exemplo, que o desemprego aumente abruptamente, mas a inflação não diminua. Isso significaria taxas mais altas, mais baixas ou sua manutenção? No momento, é difícil dizer.

O Fed tem uma estrutura política que pretende esclarecer esses julgamentos. Infelizmente, no momento, isso é bastante irrelevante.

PUBLICIDADE

Em 2020, após uma cuidadosa revisão, o banco central mudou para uma abordagem chamada de metas flexíveis de inflação média.Isto supôs que combater a inflação era a guerra do passado e enfatizou a “orientação futura” e a necessidade de manter as taxas mais baixas por mais tempo. Em vez de tentar prever o aumento nos preços, as autoridades esperavam até que o aumento ocorresse. Quanto à segunda parte do “duplo mandato” do Fed, a política visaria o “emprego máximo”, não o “pleno emprego” (ou seja, a taxa de emprego mais alta consistente com preços estáveis). Isso também sugeria que o Fed erraria no sentido de manter a economia ativa.

LEIA +
Por que o mercado de trabalho aquecido é uma má notícia para os EUA

O timing foi horrível, mas não culpe o Fed por não prever a pandemia, ou a invasão da Ucrânia pela Rússia e a subsequente interrupção do fornecimento de energia. Esses enormes choques do lado da oferta atordoaram os formuladores de políticas em todos os cantos do mundo. Além disso, Powell e seus colegas merecem crédito por concordarem que foram muito lentos para começar a aumentar as taxas quando a inflação começou a crescer. Tal franqueza fortaleceu a confiança de que o banco central está determinado a voltar a ter a inflação sob controle. Por enquanto, a credibilidade do Fed ainda é forte, basta ver a estabilidade das expectativas de inflação apesar do ritmo chocante dos recentes aumentos de preços.

Manter essa credibilidade é essencial, mas não pode ser considerada garantida. Até agora, o Fed já descartou tacitamente grande parte da estrutura de 2020, mas isso deixa um vácuo. Para reduzir o âmbito da incerteza, é necessária uma revisão mais completa e deliberada.

PUBLICIDADE

No mínimo, a nova estrutura deve olhar com ceticismo para a orientação futura e outros aspectos das recentes comunicações do Fed, revisitar a questão da política monetária no “limite inferior zero”, restaurar o objetivo de evitar a inflação antes que ela aconteça, reabilitar o “pleno emprego”, informar explicitamente os indicadores que orientam as decisões sobre as taxas de juros e, acima de tudo, esclarecer a resposta política adequada aos choques na oferta em oposição à demanda.

LEIA +
Para Powell, juro pode subir mais do que se pensava, mas ritmo pode diminuir

Há bastante a se fazer. No entanto, sem uma nova análise dessas questões, os investidores continuarão fazendo as perguntas erradas e ficando frustrados com as respostas inúteis do Fed.

— Editores: Clive Crook, Timothy Lavin.

Os Editores são membros do conselho editorial da Bloomberg Opinion.

PUBLICIDADE

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Petrobras aprova pagamento de dividendo de cerca de R$ 43,7 bilhões