Bloomberg Opinion — Não foi surpresa para ninguém quando o Federal Reserve aumentou sua taxa de juros em 75 pontos-base na quarta-feira (2). As atenções já haviam se voltado para o que acontece a seguir. Será que o ritmo de aperto monetário vai cair a partir de agora? O Fed vai mudar de ideia sobre os aumentos das taxas? Apesar dos esforços do presidente, Jerome Powell, para abordar essas questões, suas respostas ainda deixam muitas dúvidas. E isso é um problema.
Para ser claro, as futuras decisões do Fed sobre as taxas de juros precisam depender de dados, como Powell insiste. Se a política monetária é difícil de prever apenas porque o futuro é incerto, tudo bem. O problema é que a incerteza atualmente não se limita às dúvidas sobre a evolução da economia. O que também não está claro é como o Fed responderá às condições em constante mudança.
Os investidores estão confusos. A maioria espera um caminho mais suave para o aumento das taxas, levando a uma “taxa terminal” de aproximadamente 5% no próximo ano. Mas a pergunta certa não é se é isso é que o Fed tem em mente; é o que o Fed faria se as coisas ficarem diferentes do que ele espera. Suponha, por exemplo, que o desemprego aumente abruptamente, mas a inflação não diminua. Isso significaria taxas mais altas, mais baixas ou sua manutenção? No momento, é difícil dizer.
O Fed tem uma estrutura política que pretende esclarecer esses julgamentos. Infelizmente, no momento, isso é bastante irrelevante.
Em 2020, após uma cuidadosa revisão, o banco central mudou para uma abordagem chamada de metas flexíveis de inflação média.Isto supôs que combater a inflação era a guerra do passado e enfatizou a “orientação futura” e a necessidade de manter as taxas mais baixas por mais tempo. Em vez de tentar prever o aumento nos preços, as autoridades esperavam até que o aumento ocorresse. Quanto à segunda parte do “duplo mandato” do Fed, a política visaria o “emprego máximo”, não o “pleno emprego” (ou seja, a taxa de emprego mais alta consistente com preços estáveis). Isso também sugeria que o Fed erraria no sentido de manter a economia ativa.
O timing foi horrível, mas não culpe o Fed por não prever a pandemia, ou a invasão da Ucrânia pela Rússia e a subsequente interrupção do fornecimento de energia. Esses enormes choques do lado da oferta atordoaram os formuladores de políticas em todos os cantos do mundo. Além disso, Powell e seus colegas merecem crédito por concordarem que foram muito lentos para começar a aumentar as taxas quando a inflação começou a crescer. Tal franqueza fortaleceu a confiança de que o banco central está determinado a voltar a ter a inflação sob controle. Por enquanto, a credibilidade do Fed ainda é forte, basta ver a estabilidade das expectativas de inflação apesar do ritmo chocante dos recentes aumentos de preços.
Manter essa credibilidade é essencial, mas não pode ser considerada garantida. Até agora, o Fed já descartou tacitamente grande parte da estrutura de 2020, mas isso deixa um vácuo. Para reduzir o âmbito da incerteza, é necessária uma revisão mais completa e deliberada.
No mínimo, a nova estrutura deve olhar com ceticismo para a orientação futura e outros aspectos das recentes comunicações do Fed, revisitar a questão da política monetária no “limite inferior zero”, restaurar o objetivo de evitar a inflação antes que ela aconteça, reabilitar o “pleno emprego”, informar explicitamente os indicadores que orientam as decisões sobre as taxas de juros e, acima de tudo, esclarecer a resposta política adequada aos choques na oferta em oposição à demanda.
Há bastante a se fazer. No entanto, sem uma nova análise dessas questões, os investidores continuarão fazendo as perguntas erradas e ficando frustrados com as respostas inúteis do Fed.
— Editores: Clive Crook, Timothy Lavin.
Os Editores são membros do conselho editorial da Bloomberg Opinion.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Petrobras aprova pagamento de dividendo de cerca de R$ 43,7 bilhões