Lucro da Petrobras cai 15% no 3º tri com redução do preço do petróleo

Além do balanço, estatal de capital misto anunciou pagamento de R$ 43,7 bilhões aos acionistas em dividendos

Devido à queda da cotação do barril no mercado internacional, a Petrobras anunciou, em julho e agosto, reduções nos preços da gasolina para as distribuidoras
03 de Novembro, 2022 | 08:09 PM

São Paulo — A Petrobras (PETR4, PETR3) teve queda de 15,2% em seu lucro no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior, devido à queda do valor do barril do petróleo no mercado internacional no período, quando anunciou uma série de cortes nos preços de derivados como gasolina, diesel e GLP. De julho a setembro, o lucro líquido de uma das maiores produtoras de petróleo e gás do mundo somou R$ 46,11 bilhões, abaixo dos R$ 54,3 bilhões obtidos entre abril e junho. Na base anual, houve, no entanto, um aumento do lucro de 48% em relação ao 3º trimestre do ano passado (R$ 31,1 bilhões).

A queda do lucro em três meses foi atribuída pela estatal à desvalorização do petróleo brent e à “ausência de ganho de R$ 14,2 bilhões referente ao acordo de coparticipação em Sépia e Atapu”, ocorrido no segundo trimestre.

Segundo o comunicado da Petrobras, esses fatores foram parcialmente compensados pela melhora no resultado financeiro (R$ 7,8 bilhões), refletindo a menor desvalorização do real frente ao dólar no terceiro trimestre na comparação com o segundo.

O lucro da petroleira veio acima do esperado pelo mercado (R$ 43,3 bilhões). Os ADRs (recibos negociados nos EUA) da Petrobras subiam 2,02% no after market em Nova York às 20h19 (horário de Brasília), dando sequência ao movimento positivo da tarde.

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Mais cedo, o conselho de administração da estatal de capital misto aprovou pagamento de R$ 43,7 bilhões em dividendos. Após o anúncio no meio da tarde, as ações PN e ON da companhia fecharam em alta no pregão, de 1,14% (R$ 30,20) e de 0,51% (R$ 33,54), respectivamente.

Depreciação do real

O Ebitda (lucro antes de impostos, juros, amortização e depreciação) ajustado recorrente caiu 7,1% em três meses, somando R$ 92,268 bilhões. Na base anual, houve aumento de 44,5%.

O resultado financeiro foi negativo em R$ 8 bilhões, uma melhora de 49% em três meses. Segundo a companhia, isso se deve à menor depreciação do real frente ao dólar (3% no 3º x 11% no 2º).

Em termos de composição de receita no mercado interno, o diesel e a gasolina continuaram sendo os principais produtos da companhia, respondendo juntos por 74% da receita de derivados no 3º trimestre.

As despesas gerais e administrativas cresceram 10% em três meses, refletindo principalmente o reajuste salarial dos empregados, segundo a estatal.

Endividamento

No fim de setembro, a dívida bruta da Petrobras somava US$ 54,3 bilhões, alta de 1,3% em três meses. A dívida líquida totalizava US$ 47,5 bilhões, alta de 37,4%. A relação dívida líquida/Ebitda ajustado aumentou de 0,60x em junho para 0,75x no final de setembro.

“O prazo médio passou de 13 anos em 30 de junho de 2022 para 12 anos em 30 de setembro de 2020, em virtude, principalmente, da recompra de títulos de longo prazo no mercado internacional, aproveitando-se do momento de queda de seus preços”, citou a Petrobras.

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Futuro da estatal

Após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no domingo (30), o mercado começou a analisar as possibilidades para comandar a Petrobras em 2023. Entre os nomes, está o senador Jean Paul Prates, do PT potiguar, que atuou na campanha de Lula contribuindo para o plano de governo com propostas para o setor.

Hoje (3) a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a distribuição de dividendos pela petroleira, cujo maior acionista é o governo federal com 28,67% das ações. “Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas”, tuitou.

Em 2022, a petroleira anunciou a distribuição de cerca de R$ 180 bilhões em proventos aos acionistas, valor 77,5% acima do pago em todo o ano de 2021, destacou hoje uma reportagem do Valor Econômico.

Durante 2021, a estatal esteve no centro do debate público no Brasil devido à alta dos combustíveis e seu impacto expressivo nos índices de inflação. Quando os preços da gasolina começaram a cair após o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) ser zerado em junho, o país começou a registrar até deflação, levando o Banco Central a pausar o ciclo de alta dos juros em setembro.

No primeiro semestre, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a criticar a direção da companhia por reajustes dos combustíveis e efetuou mais uma troca de comando da estatal, com a substituição de José Mauro Ferreira Coelho por Caio Mario Paes de Andrade.

Apesar do histórico risco de intervenção política apontado pelos analistas do setor, a estatal de capital misto tem um desempenho operacional com perspectiva positiva devido às suas descobertas de petróleo no pré-sal e à redução do nível de endividamento com a venda de ativos não estratégicos nos últimos anos.

“Esperamos a entrada em operação de novos poços a médio prazo, contribuindo para o aumento na produção”, apontou a Guide Investimentos, que incluiu PETR4 em sua carteira de ações recomendadas para o mês de novembro. “Vemos a estatal cada vez mais eficiente, com margens recorrentemente apresentando melhoras, e o endividamento progressivamente encolhendo.”

(Atualiza às 20h20 com outros dados do balanço)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.