Bloomberg Línea — Depois da pandemia, a seguradora Liberty se prepara para retomar o crescimento. Em 2021, a empresa registrou vendas de R$ 4 bilhões, mas viu o lucro cair de R$ 249 milhões para R$ 4,4 milhões entre 2020 e 2021. Agora, a companhia espera atingir R$ 5 bilhões em vendas, puxadas pelo crescimento dos seguros de automóveis.
Durante a pandemia, a companhia informa que registrou alta de 4,4% no pagamento de prêmios aos segurados, chegando a um total de R$ 4,5 bilhões - o mercado total indenizou R$ 7 bilhões por mortes em decorrência da pandemia, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
A empresa não abre quantos foram os sinistros por morte, mas no ano passado 412.880 pessoas morreram de covid-19, chegando a um acumulado de 619.056 mortes, contando com os óbitos de 2020, segundo o Ministério da Saúde.
“2021 foi o ano do seguro de vida”, conta a presidente da empresa no Brasil, Patrícia Chacon, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea. “No ano passado, crescemos 30% no seguro de vida e no ano que vem vamos crescer dois dígitos de novo”, diz.
Mas o forte serão os seguros de automóveis, diz ela. O setor cresceu 40% na empresa e deve puxar o crescimento das vendas e a retomada dos lucros. Isso porque 2021 foi um ano difícil para os veículos.
A venda de carros novos registrou queda de 24% em relação a 2019, último ano antes da pandemia. Em fevereiro de 2022, o setor registrou o pior mês na venda de carros novos em 15 anos. Foi um ramo da economia que sofreu com a falta de chips no mercado mundial, segundo informativo da Fenabrave, entidade que representa o setor.
“A gente também passou por um período ruim. Na pandemia, faltaram chips, então teve pouca venda de carro novo, e os carros antigos se valorizaram. Os carros usados começaram a ficar muito mais caros. Isso teve um impacto no mercado de seguros”, conta Chacon.
Neste ano, as coisas estão melhorando, mas muito por causa das reduções de IPI sobre automóveis, ainda conforme a Fenabrave. Em setembro deste ano, o setor já registrava alta de 20% em relação ao mesmo mês do ano passado.
“A boa notícia é que estamos entrando num momento em que estamos conseguindo ajustar os preços dos automóveis”, analisa Chacon.
Empresa terá programa de capacitação de mulheres
Ainda neste mês, a Liberty também vai dar início a um programa de capacitação de mulheres para torná-las corretoras de seguros. O programa envolve um treinamento de dez meses, com workshops, palestras e oficinas de vendas e, ao final, as participantes receberão uma carteira de corretoras para poder atuar no mercado.
A empresa escolherá 40 mulheres a partir de um processo seletivo e dará prioridade a mulheres em situação de vulnerabilidade social, mães solo, mulheres negras e mulheres trans.
Segundo a presidente da Liberty no Brasil, Patrícia Chacon, o programa é a continuação de uma política implantada na companhia ainda em 2015, chamada “mulheres seguras”, de oferta de oportunidades para mulheres na empesa e no mercado de seguros.
O projeto inicial existe para “trazer à tona vieses que impedem a inserção das mulheres no mercado de trabalho”, diz Chacon, em entrevista à Bloomberg Línea. “Mas não adianta criarmos metas e programas, temos que estender a mão, criar condições. Por isso, agora estamos focando em mulheres em situação de vulnerabilidade que têm dificuldade de achar um emprego formal, mulheres trans que não conseguem espaço, mulheres negras, mulheres com mais de 50 que querem se reinserir.”
A executiva conta que a ideia de reajustar o foco do programa nasceu a partir de dados da Confederação Nacional de Seguradoras (CNSeg) segundo os quais 57,6% dos trabalhadores da indústria de seguros são mulheres, mas só 31% dos cargos de liderança são ocupados por elas.
E por mais que elas sejam maioria da força de trabalho, ganham menos. O salário médio dos homens que trabalham em seguradoras era de R$ 9.189,10 em 2020. O das mulheres, era de R$ 6.053,28.
“Há dez anos, as mulheres em posição de liderança eram 20%. O salto foi grande, mas ainda é pouco”, diz Chacon. Na Liberty, 45% dos cargos executivos são ocupados por mulheres. Entre esses cargos estão as áreas de talentos, de tecnologia e de transformação, enumera a presidente da empresa.
E é um mercado que vive de parcerias. A Liberty contabiliza que 80% dos vendedores de seguros do país são corretores, entre pessoas físicas ou empresas de corretagem, e 20% são companhias parceiras. E o Brasil é o seu segundo maior mercado, atrás apenas dos Estados Unidos, país de origem da empresa.
Chacon diz que, a partir de sua experiência na Liberty, pode ver que setores mais diversos são setores mais dinâmicos e mais produtivos.
Mas deixa claro que os programas de inserção não têm a ver apenas com o negócio. “Estamos fazendo isso porque é o certo a se fazer”, diz.
Leia também:
Os brasileiros do setor financeiro entre os 500 mais influentes da América Latina