Por que a Cielo, maior alta do Ibovespa no ano, projeta a retomada do consumo

Líder no mercado de maquininhas teve valorização de 150% na bolsa em 2022 e trabalha com cenário positivo de estímulos aos gastos dos consumidores

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Bloomberg Línea — A Cielo (CIEL3), líder do mercado brasileiro de adquirência (maquininhas para pagamento), trabalha com um cenário de uma recuperação do consumo das famílias em 2023 na medida em que a taxa básica de juro da economia volte a cair, como projetam economistas de mercado, em parte no segundo trimestre.

A redução da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, permitiria a queda do custo do crédito, estimulando o consumo e o volume de transações no varejo, o que favorece o segmento de meios de pagamento, mesmo diante dos efeitos ainda a serem sentidos das taxas elevadas.

No terceiro trimestre, a Cielo apresentou o maior lucro líquido recorrente desde o segundo trimestre de 2019 (R$ 422 milhões, alta de 99% em 12 meses). Foi o quinto trimestre consecutivo de crescimento.

Analistas que cobrem o setor avaliaram de forma positiva o resultado do terceiro trimestre, mas as ações fecharam em queda de 7,73% na terça, cotadas a R$ 5,49. Para alguns, a desvalorização se deveu em parte a um movimento de realização de lucro, dado o fato de que é com folga a ação do Ibovespa que mais subiu neste ano, perto de 150% - a segunda que mais ganhou é a da PetroRio (PRIO3), com 80%.

O novo CEO da Cielo, Estanislau Bassols, que comandou a Mastercard no Brasil e presidiu a SKY e a VR Benefícios e teve o nome anunciado em agosto para o lugar de Gustavo Souza, disse que o mercado trabalha com a projeção de inflação decrescente no ano que vem e do debate sobre distribuição de renda, em referência às promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Já consideramos que o corte de juros, se confirmadas as projeções do mercado, tem o potencial de acelerar o consumo das famílias”, afirmou o executivo, em teleconferência com a imprensa nesta terça-feira (1), para comentar o balanço.

Reajustes

O novo CEO da Cielo afirmou que os reajustes dos serviços cobrados de lojistas são um dos componentes que explicam o avanço da Cielo e de outros players do mercado de adquirência desde o ano passado, quando começou a reprecificação. Lojistas relatam reajustes nos segundos e terceiro trimestres. O executivo não sinalizou novos ajustes de preços no curto prazo.

Fintechs como PagSeguro (PAGS) e Stone (STNE) continuam a pesar para a concorrência desse segmento, ainda dominado por grandes bancos, segundo analistas.

Nesse ambiente e com planos de expansão, a Cielo decidiu reforçar suas equipes de vendas com a contratação em andamento de 200 novos funcionários.

Durante a teleconferência, o CEO passou algumas notícias que foram foco de atenção de analistas: a penetração de cartões de crédito, fator importante para a indústria de adquirência, está desacelerando, o que impacta o TPV (total do volume transacionado). O uso do Pix, sistema de pagamento instantâneo, se populariza no varejo brasileiro e rivaliza com cartões. A Cielo tem apostado no uso do WhatsApp como meio de pagamento com sua parceria com a americana Meta (META).

Despesas sob controle

O terceiro trimeste da Cielo também apontou disciplina da empresa com despesas em tempos de inflação alta e manutenção de sua base ativa de clientes, segundo analistas.

“O lucro recorrente veio em linha com nossas projeções, mas 16,5% acima das expectativas do mercado. Em geral, o resultado foi bom com as receitas impulsionadas por uma expansão do volume financeiro e aumento do take rate [taxa cobrada de empresas que são clientes em cima das transações]. Já na parte de despesas, temos gastos mais controlados”, avaliou a Genial Investimentos em relatório.

Já relatório do BB Investimentos apontou consistência nos volumes capturados, recuperação no yield da receita, controle de custos e desempenho da Cateno, negócio de gestão de cartões da Cielo.

“A estratégia de reprecificação da companhia também vem encontrando espaço, ajudando na recuperação do yield da receita sem impactar de forma relevante a base ativa de clientes.”

“Consideramos este um momento de estabilização, no qual, aparentemente, os maiores desafios ficaram para trás e, deste ponto em diante, teremos maior visibilidade para a Cielo e para o mercado de adquirência, em geral”, observou o analista Luan Calimerio, do BB Investimentos.

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