Bloomberg Línea — Quando a apuração ainda estava em andamento no fim da tarde de domingo (30), começaram a surgir em grupos de WhatsApp e em posts em redes sociais a discussão sobre o peso e a responsabilidade dos eleitores da região Nordeste na definição do resultado final.
Ao fim da apuração, a constatação de que o ex-presidente obteve 69,34% dos votos válidos no Nordeste, o equivalente a mais de 22,5 milhões de votos, deu força para a teoria de que a região definiu a sua vitória. Afinal, a ampla vantagem de candidatos do PT na região tem acontecido de forma sistemática desde 2002, ano em que o partido ganhou a eleição presidencial pela primeira vez.
Isso porque a vantagem de quase 12,6 milhões de votos sobre o atual presidente foi mais do que suficiente para reverter a diferença de mais de 10 milhões de votos que Bolsonaro alcançou a seu favor nas demais quatro regiões do país: Sudeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
Tudo somado, Lula foi eleito com 60,346 milhões de votos, o equivalente a 50,9% dos votos válidos. Bolsonaro teve 58,206 milhões de votos, ou 49,1% dos votos válidos. Uma diferença de cerca de 2,150 milhões de votos entre os dois candidatos.
Mas uma análise mais atenta dos dados que saíram das urnas depois do segundo turno mostram outro diagnóstico e outro fator fundamental para o resultado final: embora o Nordeste tenha sido o “colchão” de votos de Lula, a região na verdade entregou o menor percentual de votos para um candidato do PT desde 2006, segundo levantamento da empresa de pesquisas Quaest.
Por outro lado, Lula teve o maior crescimento - como candidato do PT em relação a 2018 - no Sudeste, região que concentra 40% dos eleitores do Brasil e onde estão os três maiores colégios eleitorais do país (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, nessa ordem). E os maiores ganhos percentuais de votos foram em São Paulo e no Rio.
O desempenho do PT vinha caindo ano a ano na região Sudeste desde 2002, quando Lula teve 63% dos votos válidos no segundo turno. Em 2018, Fernando Haddad (PT), recebeu 35% dos votos válidos no Sudeste. Mas, nas eleições deste ano, a tendência foi revertida e Lula obteve 46% dos votos.
Bolsonaro, por tabela, teve uma queda importante na preferência dos eleitores do Sudeste em quatro anos: passou de 65% dos votos válidos em 2018 para 54% neste ano.
Em números absolutos, isso significa que, do segundo turno de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro presidente, para o segundo turno deste ano, em que ele foi derrotado, o PT conseguiu 7,8 milhões de votos a mais no Sudeste. Foi o equivalente a cerca de 60% do salto de 13 milhões de votos em quatro anos no país.
Bolsonaro conseguiu ampliar em 7,1 milhões o número de votos entre o primeiro e o segundo turno em 2022 - como costuma acontecer em eleições, com exceção ao desempenho de Geraldo Alckmin em 2006 justamente contra Lula -, mas esse desempenho perdeu força no Sudeste.
O atual presidente viu seu desempenho piorar em termos percentuais em todos os estados da região de 2018 para 2022. E, na região Sudeste, isso representou uma perda de 1,3 milhão de votos, mesmo com o crescimento do número de eleitores em quatro anos.