Bloomberg — Mais de 24 horas após sua derrota no segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro ainda não havia sido visto ou ouvido, com os eleitores sem saber se ele admitirá a derrota para o adversário Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro não fez nenhum comentário público no domingo (30) à noite depois que o TSE declarou perto das 20h que ele havia perdido a eleição para Lula por menos de dois pontos percentuais, a menor margem em uma eleição presidencial na história moderna do país.
Segundo relatos da imprensa, o presidente foi dormir depois das 22h e na manhã desta segunda-feira (31) o comboio presidencial deixou a residência oficial rumo ao Palácio do Planalto.
Cresce a especulação na capital sobre os próximos passos do presidente e as redes de televisão colocaram câmeras em diferentes prédios do governo caso Bolsonaro decida quebrar o silêncio. O presidente se reuniu nas últimas horas com seu chefe de gabinete, Ciro Nogueira, e alguns outros ministros e conselheiros, bem como seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro.
Flavio agradeceu ao pai no Twitter e disse que não desistiriam no Brasil, sem dar pistas sobre qual seria o posicionamento em relação à derrota nas urnas.
Embora sua decisão de não reconhecer imediatamente o resultado não seja uma surpresa completa, dado seu longo histórico de ataques ao sistema eleitoral brasileiro, dificilmente é um sinal de que o quadro institucional do país está prestes a ser descarrilado.
Os chefes do Senado e da Câmara rapidamente reconheceram o resultado da eleição na noite de domingo, juntamente com juízes do Supremo Tribunal Federal e alguns dos aliados mais próximos de Bolsonaro.
“Ele vai continuar trabalhando normalmente até o final de seu mandato”, disse Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro que acabou eleito governador de São Paulo no domingo.
No entanto o silêncio do presidente pode prejudicar o processo de transição. Por lei, o governo do Brasil precisa organizar um processo formal de transferência logo após a votação, com o presidente eleito autorizado a nomear 50 pessoas para se encontrarem com autoridades e trocar informações.
O governo que está de saída normalmente coordena com a equipe do próximo presidente durante os dois meses seguintes para que haja uma transição suave quando o novo presidente assumir em 1º de janeiro.
Se Bolsonaro decidir não aceitar os resultados, interromperia “o processo tradicional de transição de governo que começa logo após a eleição”, disse o analista político Thomas Traumann em nota.
Enquanto isso, os ativos brasileiros ignoraram em grande parte as preocupações iniciais, com as ações de empresas que devem se beneficiar da presidência de Lula subindo na segunda-feira (31) após a eleição, enquanto o real reverteu as perdas anteriores para registrar o maior ganho entre as principais moedas do mundo.
Caminhoneiros pró-Bolsonaro bloquearam algumas rodovias em cerca de uma dúzia de estados em protesto pela vitória de Lula nas eleições, segundo a mídia.
Embora uma estratégia para tentar desacreditar a eleição “provavelmente não produza um resultado favorável a Bolsonaro, isso pode ser uma tática para manter sua base mobilizada para se opor ao governo Lula”, escreveram analistas do Eurasia Group em relatório.
- Matéria atualizada às 23h30.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Lula foi eleito, mas os desafios começam agora
Bolsonaro critica TSE e insiste que foi prejudicado em exibições em rádios
©2022 Bloomberg L.P.
©2022 Bloomberg L.P.