Os setores e as ações com maior potencial com Lula no próximo governo

Especialistas apontam para gestão mais ao centro e com algumas empresas, caso de estatais e as do setor de educação, com potencial de destravar valor

Estatais como o Banco do Brasil já estão tão descontadas, segundo analistas, que possuem potencial de valorização a depender da conduta do governo Lula
31 de Outubro, 2022 | 06:06 AM

Bloomberg Línea — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito novamente presidente da República neste domingo (30), com mais de 60,3 milhões de votos. Com 50,9% dos votos válidos, ele derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL), que recebeu cerca de 58,2 milhões de votos, ou 49,1% dos votos válidos.

Para investidores e analistas do mercado financeiro, a vitória de Lula representa uma dose extra de incerteza – dado o pouco detalhamento sobre seus planos de governo na economia – em meio a um cenário externo já desafiador, com inflação e juros elevados no mundo, bem como conflitos geopolíticos.

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Ainda assim, especialistas apontam para um governo mais ao centro e com empresas, caso das estatais, com potencial para destravar valor, dado que perspectivas não tão positivas já estão nos preços dos ativos.

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, destacou que o resultado pode trazer volatilidade extra para o início das negociações na bolsa nesta segunda-feira (31). “As estatais podem ter um desempenho mais negativo, enquanto empresas dos setores de educação e construção com foco na baixa renda devem ter uma reação mais forte nas próximas semanas”, disse.

E completa: “Entendo que pode ter reação negativa no começo, mas dá para construir uma narrativa positiva em termos econômicos para o mercado receber bem. É só deixar claro como vão ser atingidos seus objetivos, como isso vai ser feito”.

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Na quinta-feira (27), Lula divulgou uma carta com um resumo de suas propostas de campanha, na qual se compromete com uma “política fiscal responsável”, com foco no social. A carta contribuiu com ganhos na bolsa brasileira, que depois amenizaram após o mercado identificar “poucas surpresas” no documento.

Confira quais os setores na bolsa que tendem a se beneficiar do governo Lula, bem como as empresas que podem sair ganhadoras neste cenário, segundo especialistas:

Estatais

Na avaliação de Gustavo Pessoa, sócio e gestor da Legacy Capital, o cenário para as estatais aponta para o lado negativo com a vitória de Lula, sob o risco de intervenção na gestão.

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Ainda assim, antes das eleições presidenciais, a gestora tinha posições em Petrobras (PETR3; PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), por entender que o preço de ambas as companhias é hoje muito atraente.

No caso do banco estatal, o gestor disse que qualquer interferência levaria tempo para ocorrer e surtir efeitos. “Tem todo o ciclo bancário, demora a aparelhar”, afirmou em entrevista à Bloomberg News, acrescentando que a instituição financeira conta com o crivo do Banco Central, hoje independente.

No caso da Petrobras, o gestor afirmou que, no melhor cenário, com boa gestão e mantida a política de preços atual, as ações da Petrobras poderiam subir até 50%.

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“Se o preço do combustível está baixo, tira pressão sobre a empresa. Uma mudança na política de preço pode não ser tão rápida”, disse Pessoa, ao lembrar que esse é o principal risco para o ativo.

Cenário negativo já no preço

Leonardo Rufino, sócio e gestor de renda variável da Mantaro Capital, lembrou que no governo Lula as ações do Banco do Brasil foram uma das que mais subiram na bolsa no período. Ainda assim, destacou, há um receio do mercado de como as estatais serão geridas durante seu governo.

Cauteloso, mas com posição pequena comprada em BB e Petrobras, Rufino avaliou que um cenário ruim para as estatais já está no preço dos ativos – e que talvez esse movimento “ruim” possa não se concretizar, o que destravaria valor para as companhias.

O gestor disse ver a bolsa brasileira barata e destacou que uma redução de incertezas, passada agora a eleição, deverá fazer com que os investidores voltem a alongar seus horizontes de investimento e isso pode contribuir para uma alta da bolsa.

“É necessário algum sinal para o mercado de responsabilidade fiscal, algo que, por si só, irá reduzir as incertezas passada a eleição”, disse.

Com Lula, Rufino avaliou que empresas do setor de educação podem chamar a atenção, dadas as perspectivas de retomada do Fies, o programa de financiamento para alunos do ensino superior. Exportadoras também podem ser boas opções, a depender do ministro da Fazenda.

Varejo, construção e educação

Dentre os principais pontos do que se conhece do programa de Lula, Fernando Siqueira, head de Research da Guide Investimentos, chamou a atenção para um salário mínimo forte (reajuste acima da inflação), a ampliação do Bolsa Família e o programa Brasil sem Fome. Tudo isso seria benéfico para empresas do varejo, em especial supermercados, como Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3), além de Ambev (ABEV3).

Novos investimentos do programa Minha Casa Minha Vida beneficiariam incorporadoras e construtoras focadas em baixa renda, como MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3) e Tenda (TEDN3).

Destaque ainda para o programa “Mais Universidade”, o que seria positivo para empresas de educação, como Yduqs (YDUQ3), Ser Educacional (SEER3) e Cogna (COGN3).

Siqueira destacou que o plano de fortalecimento de programas sociais pode ter como impacto o aumento de gastos públicos e, consequentemente, da inflação. Uma das formas de se proteger, segundo ele, seria estar posicionado em títulos públicos indexados à inflação (Tesouro IPCA+), e em empresas com receitas dolarizadas, como Vale (VALE3) e WEG (WEGE3). E evitar empresas mais endividadas.

“O programa do Lula deve ter um aumento das despesas pesando sobre a economia e uma válvula de escape seria o aumento da inflação e dos juros. Por isso é melhor evitar empresas com dívidas em dólar, como Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), por exemplo”, disse o head de research.

Em um cenário com Lula, Pessoa, da Legacy, avaliou que é o câmbio que deve ter o desempenho mais positivo entre os ativos, em um quadro de mais gastos e juro alto por mais tempo, mas isso desde que o petista apresente um nome considerado positivo pelo mercado para a Economia.

-- Com informações da Bloomberg News.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.